Pará quer verticalizar a indústria do açaí para gerar emprego e renda
Mais conhecimento, inovação tecnológica, incentivos fiscais e intervenções para facilitar a logística e a compra de insumos, a exemplo de embalagens para os produtos. Esses foram os compromissos assumidos pela equipe de secretários estaduais e dirigentes de órgãos da administração direta e indireta do Governo do Pará na primeira rodada de conversa com donos de empresas processadoras da polpa do açaí. O encontro, realizado a convite do secretário de Desenvolvimento Econômico, Adnan Demachki, na semana passada, foi o primeiro passo dado no avanço da industrialização do setor. A próxima reunião será no dia 3 de novembro.
“O nosso convite parte da premissa que move a legislação de incentivos fiscais no Estado: a verticalização das cadeias produtivas com agregação de valor para nossos recursos naturais’’, afirmou o secretário Adnan Demachki, logo no início da reunião, na presença dos micro e médios empresários da indústria do açaí, instalados em Belém, Ananindeua, Santa Bárbara e Castanhal.
Também participaram da conversa o secretário Alex Fiúza, de Ciência e Tecnologia; o presidente do Sebrae Pará, Fabrízio Guaglianone; a presidente do Sindfrutas, Solange Mota; o economista Roberto Sena, do Dieese Pará, e representantes da Fiepa, UFPA, Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) e Junta Comercial do Pará (Jucepa).
Da Sedeme, estiveram presentes a secretária adjunta técnica, Maria Amélia Enríquez e as equipes das diretorias de Política de Incentivos Fiscais e de Desenvolvimento da Indústria, Comércio e Serviços, que tem à frente Marília Amorim e Sérgio Menezes, respectivamente.
Adnan Demachki salientou que os números da economia paraense não são confortáveis. Ele recordou que a renda per capita no Pará é a metade da renda per capita nacional. O secretário citou o projeto de planejamento de longo prazo, que o Estado elabora com a consultoria especializada da Mckinsey&Company, empresa de reputação no mercado na área de projetos estratégicos, com o propósito de dinamizar o setor produtivo local a partir de estratégias macro econômicas e políticas, num horizonte de 15 anos (2015-2030), o que demonstra o comprometimento do governo Simão Jatene com a sustentabilidade do Estado.
O Pará é o Estado campeão em produção de açaí do País. Ocorre que, atualmente, 99% dessa produção gera apenas a polpa do fruto. E é o Estado do Ceará, com a atuação de somente duas empresas, o que mais agrega valor ao açaí cultivado no Pará, e por consequência, é o que mais gera renda, empregos e arrecada impostos e tributos a partir dessa produção.
Para o secretário de Ciência, Tecnologia e Educação Tecnológica, Alex Fiúza de Melo, o Estado tem esforços a fazer diante das demandas do setor, que vão desde o controle de qualidade aos investimentos em pesquisa e inovação.
‘’Nos colocamos à disposição para intervir, inclusive, disponibilizando recursos públicos para investimentos em pesquisas e inovação, aperfeiçoamento de processos químicos e bioquímicos. Muitas vezes não se sabe a quem se dirigir e como se dirigir. Estamos junto com a Sedeme na perspectiva de dar o respaldo que a categoria necessitar’’, disse Fiúza.
Presidente do Sebrae Pará, Fabrízio Guaglianone, ressaltou que o órgão tem atuado basicamente junto a produtores de açaí, principalmente no cultivo de espécies melhoradas geneticamente. No entanto, Guaglianone enfatizou que o Serviço tem diversos projetos de orientação para a gestão de negócios. “Também estamos junto com o Governo nessa tarefa’’, assegurou ele.
Solange Costa, presidente do Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados (Sindfrutas), agradeceu o convite do secretário Adnan Demachki e também se comprometeu a ser parceira do Estado. Ela expôs alguns dos problemas que limitam uma melhor performance da industrialização do açaí no Pará, entre eles, a grande dependência das indústrias da prática extrativista de açaizais nativos, o que impacta a regularidade de produção, sujeita aos ciclos naturais da espécie, com baixa produtividade na entressafra, bem como o alto valor da alíquotas que incidem sobre a compra de máquinas e equipamentos industriais.
Em síntese, os pequenos e médios empreendedores apontaram a falta de conhecimento do próprio segmento sobre as potencialidades do açaí de gerar novos produtos, além da tradicional polpa, até as dificuldades de obtenção de insumos, a exemplo de embalagens, custos altos dos fretes e dificuldades de logística para distribuição do produto.
Os relatos foram registrados e constarão da pauta de uma nova reunião marcada para a sede da Sedeme, em Belém, no próximo dia 3. Na oportunidade, o gerente de Fruticultura da Sedap, Geraldo Tavares, apresentará os resultados do convênio com a Emprapa Amazônia Oriental, de produção de sementes melhoradas para diversos municípios desde o ano de 2008.
Geraldo informou que com a semente de alta qualidade e o plantio em terra firme com técnica de irrigação é possível dobrar a produção, alcaçando até 15 toneladas por um hectare, enquanto na várzea se consegue somente de 5 a 6 toneladas por hectare.
“Se nós quisermos chegar em 2030 com a mesma renda per capita da média brasileira, a economia paraense tem de crescer por ano cerca de 8%, é praticamente o crescimento da China’’, observou Adnan Demachki, assinalando que o modelo de Estado exportador de matéria-prima e commodities (mercadorias ou produtos de base em estado bruto) dos últimos 70 anos, não garantiu ao Pará o desenvolvimento socioeconômico desejado. “O que se quer é mais emprego, renda e divisas para o Pará com a industrialização aqui’’, afirmou.