Em três anos, Hospital Galileu doa mais de mil calçados para pacientes ortopédicos
A produção do Projeto Próximos Passos é feita na Oficina de Automação do HPEG. Pacientes recebem apoio psicológico para adaptação dos acessórios
Em 2018, o motorista de caminhão Luís Adriano, de 46 anos, sofreu um acidente de motocicleta e teve uma grave fratura na perna. Com a perda de 4 centímetros do comprimento do membro inferior, ele ficou por três anos sem usar um par de sapatos. “Queria muito me calçar, mas um lado ficava bom e do outro não. Era estranho, então não usava”, comentou. Luís é paciente do Hospital Público Estadual Galileu (HPEG), na Grande Belém. E foi na unidade que ele realizou o sonho de voltar a se calçar, após receber uma sandália ortopédica feita sob medida aos seus pés.
“Quase fiquei sem acreditar quando um senhor me perguntou se eu queria me calçar. E dias depois ele me entregou uma sandália, que ficou perfeita aos meus pés”, lembrou. O paciente se refere ao Gil Gonçalves, responsável pela confecção dos calçados ortopédicos da unidade. Os acessórios fazem parte do Projeto Próximos Passos, que em três anos, completados neste mês de outubro, já doou mais de 1 mil pares aos pacientes com trauma ortopédicos do HPEG.
O calçado não apenas mudou a autoestima de Luís, como também proporcionou a ele novas oportunidades profissionais. “Sem as sandálias, eu pouco saía de casa, já que era difícil andar com essa diferença na altura da perna. Como sou motorista, também tinha parado de dirigir, pois não alcançava os pedais, e com a sandália, voltei ao volante”, disse, sorrindo.
Próximos Passos - O Projeto é uma iniciativa do próprio Hospital, que é referência do Governo do Estado em tratamento de trauma ortopédicos. “Durante a convivência com os pacientes, passamos a perceber as necessidades que eles mantêm para seguir com a vida, após sofrer algum tipo de acidente. Fizemos o primeiro calçado e deu certo e não paramos mais. Fomos aprimorando as técnicas, testando materiais, até que hoje, somos referência nacional na produção desses acessórios dentro de um Hospital”, comentou Gil Gonçalves.
As produções são feitas na Oficina de Automação do HPEG, espaço criado para fazer utensílios, a partir de material de baixo custo ou de reaproveitamento, em benefício dos usuários. Ao total, são feitos quase 30 calçados por mês. A produção é feita com materiais de preço baixo, como EVA (produto emborrachado), cola adesiva, moldes de calçados, lixas, martelo de borracha e estilete. “Além das sandálias, fazemos suporte de tabletes, bancos, cadeiras, próteses, tudo pensando no usuário, que é o centro de nosso trabalho”, acrescentou Gil.
Adaptação e autoestima - Os traumas causados por acidente de qualquer natureza trazem uma deficiência ao corpo e também impactam na mente. No processo de adaptação dos calçados, os pacientes são acompanhados pela equipe multiprofissional, a qual atua a psicologia, que ajuda no tratamento dos transtornos de ansiedade, das crises de angústia e do estresse pós-traumático.
“A atuação da psicologia no projeto está relacionada principalmente com o processo de aceitação e adaptação do paciente com o calçado, seja por ser um instrumento novo, mas também por uma questão de autoestima. Dependendo da perda óssea, alguns pacientes precisam usar calçados de até 5, 8 e 10cm”, explica Regiane Rego, psicóloga do HPEG.
A profissional também ressalta que essa diferença de tamanho causa um impacto visual, o que muitas vezes implica na aceitação do paciente. “A psicologia acolhe essas demandas e trabalha para fortalecer a autoestima da paciente diante do processo de adoecimento e recuperação, com o objetivo de contribuir com a sua adaptação e bem estar”, detalha Regiane Rego.
Receituário - Coordenador da Ortopedia do HPEG, Marcus Preti explica que o calçado seria uma compensação dos membros inferiores. “No trauma é muito comum ficar uma perna menor que a outra. Depois da cirurgia definitiva, a equipe multi, principalmente os fisioterapeutas e os ortopedistas, avaliam o encurtamento, assim, o paciente é encaminhado ao ambulatório, onde após os exames, sai com o receituário dado pelo ortopedista, para o calçado com a altura necessária”, detalhou o médico.
Marcus Preti também destaca que é de extrema importância no pós-operatório de trauma nos membros inferiores, que o paciente faça caminhadas com o uso de muletas, andador e ainda mais com os membros isométricos, ou seja, do mesmo tamanho. “Essa dificuldade que o paciente teria lá fora, inclui o gasto para confeccionar esses sapatos e ainda a dificuldade de encontrar um local ideal para fazê-los”, frisou o ortopedista.
Serviço - A unidade, localizada na avenida Mário Covas, é operacionalizada pelo Instituto Social e Ambiental da Amazônia (ISSAA), em parceria com a Sespa. Em 2024, todos os serviços foram avaliados com satisfação de 99%. O Hospital tem 104 leitos de internação, mantém o serviço de reconstrução e alongamento ósseo, cirurgias de traqueia e urológica, como hiperplasia prostática benigna, exclusão renal e triagem com biópsia de próstata.
Texto: Roberta Paraense