Fomento ao empreendedorismo fortalece a Economia Solidária no Pará
Sob o teto simples de um barracão improvisado que faz fronteira com o inativo Lixão do Aurá, flui a criatividade da família Ribeiro. Após o fechamento do lixão, de onde tiravam seu sustento como catadores, os irmãos Raimundo e Lourival Ribeiro e a mãe, Antônia Ribeiro, precisaram buscar uma alternativa de renda. E foi no artesanato e confecção de móveis que eles encontraram a saída. O próprio lixão lhes ofereceu a matéria-prima para a produção das peças e garantiu não apenas a subsistência, como também o reconhecimento.
A família, que junto com outros artesãos integra o projeto “Louro Palets”, participou pela primeira vez, de maneira direta, de uma feira de exposição e comercialização realizada na segunda quinzena de dezembro. Convidados para a Feira do Artesanato do Pará (Fesarte), promovida pela Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster), eles trabalharam dia e noite durante quatro dias para produzir as peças que levariam para o evento. “Nós já tínhamos exposto nosso trabalho por meio de outros grupos de artesãos e ONGs, mas não dava certo porque não recebíamos o dinheiro das vendas e nem as peças de volta. Dessa vez, nós participamos diretamente do evento e, graças a Deus, vendemos tudo. E ainda trouxemos encomendas”, comemora Raimundo.
Lourival, conhecido como Louro, conta que já tinha o projeto “Louro Palets” em mente. Mas foi após o fechamento do lixão que uniu forças com o irmão Raimundo, detentor da experiência com carpintaria e marcenaria. A partir daí começaram a recolher madeira e palets que eram descartados no lixo para a produção de móveis e brinquedos. “Começaram a ocorrer incêndios no lixão. E nós vimos ali uma maneira de ganhar dinheiro, porque o que pegava fogo lá eram os palets. Hoje, os catadores recolhem esse material e vendem para nós”, explica.
O projeto, que começou como uma brincadeira, primeiro com a produção dos móveis grandes, depois com as miniaturas para as crianças da família, é um dos muitos exemplos de iniciativa de economia solidária pela prática da autogestão e das redes de cooperação, entre outras que caracterizam a atividade. “Recebemos o apoio de uma empresa aérea e fizemos um avião de brinquedo como forma de agradecimento. Eles costumavam jogar os palets no lixo, então nós pedimos que eles doassem pra nós pra que dessemos a eles um destino mais adequado”, explica Lourival.
Economia Solidária
Uma importante característica das iniciativas de economia solidária (Ecosol) é a veia empreendedora que se faz necessária para a prática da autogestão. A sustentabilidade e a rede de cooperação também caminham lado a lado com esse tipo de empreendimento. No Pará, esse é um conceito ainda em construção e a forma mais comum de empregabilidade dessa prática no estado é o cooperativismo.
O governo tem papel fundamental ao gerar emprego e renda por meio da economia solidária, tirando as pessoas da informalidade, proporcionando a elas uma visão mais aberta desse mercado e auxiliando em todos os processos até que cheguem na decisão de qual modelo querem se encaixar, além de ajudar em todas as etapas finais do processo, no qual essas pessoas se tornam produtoras de empregos e contribuem para a renda de outras famílias e para o crescimento do Estado.
Partindo do princípio que os empreendimentos de economia solidária são uma alternativa para o mercado de trabalho, que esteve em crise por todo o ano de 2016, a Seaster buscou promover essas iniciativas e inserir pessoas nesse nicho.
“A economia solidária é um eixo de colocação no mercado de trabalho, já que ele passa por um período de instabilidade. E a Secretaria é responsável pela promoção dessa política. Assim, buscamos promover capacitações de gestores para que a equipe técnica possa sensibilizar as gestões a promoverem a prática”, explica a coordenadora de Empreendedorismo e Economia Solidária, Dione Matos.
No início do ano, a Seaster fez um levantamento para saber quais municípios já tinham um trabalho voltado para essa política e, assim, traçaram uma programação para capacitar as gestões municipais à promoção da economia solidária. Além disso, foi assegurado o assessoramento técnico, identificação e cadastro das pessoas para o fortalecimento da rede de economia solidária.
“A economia solidária também se mostra uma ferramenta fundamental para combater a informalidade no mercado de trabalho, principalmente diante do cenário de desemprego que se apresenta hoje. Por isso, nós apostamos fortemente nessa iniciativa, por meio de capacitações e eventos”, complementa o secretário adjunto de Trabalho, Emprego e Renda, Everson Costa. Ele enfatiza que, em 2017, a Secretaria vai continuar apoiando e apostando nessa política, por meio da aproximação com as comissões municipais de emprego para discussão e fomento dessa política nos municípios, bem como para avançar na instalação das feiras de economia solidária, além do fortalecimento da rede amazônica e o assessoramento técnico e cadastro dos empreendimentos de economia solidária.