Café com Planejamento reforça debate sobre saúde da mulher
O câncer do colo do útero é silencioso, e até que a mulher tenha sintomas como dor ou qualquer desconforto, secreção, sangramento ou perda de peso, a doença já invadiu o organismo a tal ponto que é, não raras vezes, irreversível, sendo a quarta causa de morte feminina por esta doença no Brasil.
Para tratar o tema "Uma abordagem sobre o Câncer de Mama e de Colo de Útero no Estado do Pará", o Café com Planejamento, fórum mensal de discussão sobre políticas públicas proposto pela Secretaria de Estado de Planejamento (Seplan), recebeu na manhã desta quinta-feira, 25, Gabriela Góes, coordenadora de Saúde da Mulher da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), o técnico administrativo da Universidade Federal do Pará (UFPA), Saul Rassy Carneiro, e Patrícia Citero Peixoto, presidente da Associação Amigas do Peito do Pará.
Segundo a Sespa, o Pará aprovou, em 2015, o Plano Estadual de Oncologia onde previu a criação de centros de referência, alguns deles já instalados como o Hospital Ophir Loyola e o Hospital Universitário Barros Barreto, em Belém, o Hospital Regional do Baixo Amazonas em Santarém, e a Unidade de Alta Complexidade em Oncologia em Tucuruí, ainda em fase de habilitação. “Esperamos que até o fim de 2018 seja implantado mais um centro, no município de Castanhal”, adiantou a coordenadora Gabriela Góes, que tratou durante a exposição, de dados estatísticos da doença e de identificação de perfis.
A população feminina mais atingida encontra-se no patamar de 70% entre as mulheres de baixa renda e com pouquíssima escolaridade, e 50% possuem dois filhos ou mais. “A base alimentar da região é propícia a doenças cardiovasculares porque tem muito sal e gordura”, alerta Gabriela, sendo esta a primeira causa de mortes agravada com a pouca prática de exercícios físicos pela população em geral. A violência ocupa o segundo lugar e a terceira causa são as neoplasias (os vários tipos de cânceres), potencializadas ainda em 80% pela prática do tabagismo. “O organismo em perfeitas condições, ou seja, saudável, elabora defesas contra as células defeituosas”, diz a coordenadora.
A Sespa está iniciando um programa de visita a municípios a fim de qualificar enfermeiros dos postos e unidades de saúde para a coleta, acondicionamento e transporte de material para análise, além de reconhecimento do ambiente interno a fim de identificar fases iniciais da doença. O projeto vai ainda discutir com a gestão da cidade estratégias de atendimento, além de qualificar laboratórios locais.
Uma pesquisa sobre os fatores associados à mortalidade de pacientes com câncer de colo de útero internadas em hospital de referência entre 2005 e 2015, e sobrevida em 5 anos, foi o assunto do professor Saul Carneiro, fisioterapeuta em oncologia, que apresentou não somente os resultados, mas uma panorâmica geral sobre o assunto, afirmando que 80% dos casos ocorre em países em desenvolvimento, acometendo prioritariamente uma população específica, com as características já citadas.
“O diagnóstico tardio aumenta indiscutivelmente a probabilidade de o paciente vir a óbito”, disse Carneiro, lembrando que o câncer de mama, por exemplo, não pode ser prevenido, mas pode ser detectado precocemente, bastando para isso o autoexame e busca por diagnóstico e tratamento assim que a mulher (ou o homem) perceber algum sintoma, como a presença de um nódulo na mama, secreção com sangue pelo mamilo e mudanças na forma ou textura do mamilo ou da mama.
Criada há um ano, mas com prática desde 2013, a Associação Amigas do Peito do Pará, organização não governamental, assumiu um papel singular junto às pacientes de câncer, desenvolvendo projetos de apoio e valorização à vida humana, divulgando informações de saúde e legislação muitas vezes desconhecidas do público mais carente.
A presidente Patrícia Peixoto, ela mesma uma paciente oncológica há alguns anos, apresentou os objetivos da associação e os projetos em andamento, como a criação de website onde quem já tem o diagnóstico poderá encontrar informações de serviços e produtos. “Existe vida após o diagnóstico de câncer”, afirmou Patrícia, que junto aos outros membros, participa de várias frentes de apoio e discussões do tema, com o intuito de mudar a realidade e humanizar os serviços de atendimento.
A professora de Gestão dos Serviços de Saúde do curso de Enfermagem da UFPA Bárbara Lopes Paiva trouxe sua turma de alunos para conhecer o Café e participou ativamente do debate. “Esperava encontrar um ambiente rico e aberto à reflexão, e por isso trouxe alguns alunos para ver na prática como se dá a gestão de políticas públicas”, disse. “Vi o quanto é importante aprofundar esse tema sob o aspecto do planejamento”, afirmou Patrícia Pantoja, aluna de Enfermagem.