No Pará, casas ecológicas em ilha de Belém serão erguidas com tijolos de caroços de açaí
Por meio da Cohab, Estado vai construir 45 moradias, reforçando o legado da COP30 com uso de tijolo ecológico, arquitetura amazônica e redução de emissão de CO₂
O Governo do Pará, por meio da Companhia de Habitação (Cohab), vai construir casas ecológicas na região das ilhas de Belém, utilizando mais de 150 mil tijolos produzidos com caroços de açaí. A obra utilizará o benefício habitacional do Projeto “Sua Casa COP30 Sustentável”, para viabilizar a construção de 45 moradias sustentáveis, com recursos para compra de materiais de construção e pagamento da mão de obra.
Os tijolos ecológicos devem reduzir as emissões em torno de 28 toneladas de CO₂ na atmosfera. Parte das casas será construída no modelo palafita, que se enquadra no conceito de habitação vernacular da Amazônia.
O economista Cassiano Figueiredo Ribeiro, um dos responsáveis pelo Projeto na Cohab, detalha que o “Sua Casa COP30 Sustentável” leva em consideração a integração arquitetônica com o “Minha Casa, Minha Vida” - programa do governo federal -, para se adequar ao padrão vernacular de construções ribeirinhas, as palafitas, mantendo as características do “Programa Sua Casa”. Foi definida como solução mais adequada a Unidade Habitacional Sustentável (UHS), feita com tijolos ecológicos do tipo solo-cimento, sem queima. Nos tijolos é utilizada a tecnologia de adição de granulados com tratamento térmico, obtidos a partir do caroço do açaí.
“Levando em conta que a unidade integrada do ‘Minha Casa, Minha Vida’ já possui dois quartos, o projeto da Cohab tem 18 metros quadrados (m²), no formato de uma suíte, com uma pequena área de serviço e integração, sendo assim pensada como mais um cômodo para as famílias que serão beneficiadas, além de servirem para estimular o turismo de vivência ecológica e de base comunitária, aplicando o conceito moderno de habitação frente à adaptação climática, onde, para além da proteção, uma moradia digna deve estar ligada à garantia do sustento dos seus moradores, reforçando o tripé econômico da sustentabilidade ambiental, econômico e social”, informa Cassiano Figueiredo Ribeiro.
Suporte - As famílias contempladas contam com a Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (Athis), assegurada pela Lei Federal nº 11.888/2008. O Programa garante suporte gratuito de arquitetos, engenheiros e assistentes sociais durante a construção e melhoria das moradias.
Para Adriele Mota, que nasceu na Ilha do Combu - um das 39 ilhas da capital paraense -, ter acesso à casa própria é realizar um sonho. “Eu tenho um filho, e estou grávida de outro, que já nascerá na casa dele. Estou muito feliz e grata em ter minha casa”, diz Adriele.
Identidade amazônica - Engenheiro civil da Cohab, Sérgio Soares enfatiza que o "COP30 Sustentável" é mais do que um projeto de habitação, “pois a gente traz para a região das ilhas um projeto com inovação tecnológica e identidade amazônica, utilizando tijolos com caroço de açaí, que fazem captura de dióxido de carbono". Ele acrescenta que o “projeto traz isolamento térmico, acústico e geração de renda. Enfim, é um projeto que traz inúmeras reduções de impactos ambientais, minimizando questões de assoreamento e alagamentos do solo, entre outros”.
O uso de tijolo ecológico permitirá redução de até 30% no tempo de construção em relação à alvenaria tradicional, além de oferecer conforto térmico, maior isolamento acústico e economia de até 40% nos materiais. O tijolo reduz consumo de água (90%), cimento (80%), ferro (50%) e elimina o uso de madeira, diminuindo resíduos sólidos e emissões de gases de efeito estufa.
A construção terá ainda telhas ecológicas, que reforçam a sustentabilidade, oferecendo maior durabilidade e aproveitamento de materiais reciclados. Também serão instalados biodigestores para tratamento de resíduos orgânicos, gerando biogás e biofertilizante.
Inspiração na COP30 - Para o diretor-presidente da Cohab, Manoel Pioneiro, a iniciativa de viabilizar a construção das 45 moradias sustentáveis surgiu pela necessidade de um reposicionamento da Companhia em 2025, quando completou 60 anos, em relação à crise climática, e também para atender à determinação do Governo do Pará de desenvolver projetos inspirados na COP30, que deixassem legado à população.
“O projeto tem parceria da Cooperativa Mista da Ilha do Combu (Coopmic) e da Central de Movimentos Populares (CMP), que estão executando um projeto habitacional na região das ilhas de Belém, inédito no Brasil, ao construírem as primeiras casas do 'Programa Minha Casa, Minha Vida', do governo federal, feitas de madeira e no padrão ribeirinho, possibilitando assim uma sinergia entre os dois projetos. O ‘Programa Sua Casa’ fornece ao beneficiário um cheque para aquisição de materiais de construção, além de um auxílio para o pagamento da mão de obra”, explica Manoel Pioneiro.
O “Sua Casa” é uma política habitacional criada pelo governador Helder Barbalho em 2019, e já beneficiou mais de 156 mil famílias nas 12 regiões de Integração do Pará.
