Quilombola festeja conquista inédita com tio internado no HJB
Jovem tornou-se o primeiro quilombola formado no curso de Engenharia Química pela UFPA e foi visita o tio logo após a formatura
O momento de celebração da formatura de Jeferson Baía, 24 anos, ganhou ainda mais significado na terça-feira (02). Morador da Comunidade Quilombola do Itacuruçá, em Abaetetuba, a 124 km de Belém, o jovem tornou-se o primeiro quilombola formado no curso de Engenharia Química pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Logo após a cerimônia, ele seguiu direto para o Hospital Jean Bitar (HJB) para visitar o tio, José Baía, 46 anos, que está internado há cerca de 35 dias.
Emocionado, Jeferson conta que a família sempre foi sua base. "A nossa família sempre foi muito unida. Trato meus tios como pais e mães, porque sempre estivemos juntos nos momentos difíceis e alegres. Termino essa graduação graças ao apoio de muitas pessoas, e meu tio é uma delas. Sei que ele estaria lá comemorando comigo, mas logo estaremos todos em casa novamente”, disse.
Durante a formatura, o jovem recebeu Menção Honrosa por sua trajetória e por representar avanço e orgulho para sua comunidade quilombola.
Reencontro emocionante - José Baía, pescador de Abaetetuba, chegou ao HJB transferido de outra unidade hospitalar devido a um quadro de sepse abdominal por colangite. Após cirurgia e evolução no quadro clínico, ele segue em tratamento na clínica médica. O reencontro com o sobrinho, vestido com a beca da formatura, comoveu pacientes e profissionais.
“Esse meu sobrinho eu só não vi nascer, mas ajudei a criar. Hoje ele se formou e é um orgulho para nós. Eu só estudei até a 4ª série”, relatou, emocionado.
A enfermeira da clínica médica, Emanuela Silva, também se sensibilizou com o gesto. “Ele é do interior, a família tem dificuldade de vir sempre. O sobrinho, mesmo no dia da formatura, veio aqui porque o tio não pôde estar presente. Isso mexe com a gente. O paciente muda muito de humor pela situação clínica, mas conversamos, acolhemos e incentivamos. Esses momentos ajudam na recuperação”, explicou.
A gerente assistencial do HJB, Alexandra do Carmo, reforça que gestos como o da família Baía fortalecem o processo de cuidado e fazem parte da filosofia de atendimento da unidade. “A humanização no cuidado é essencial. Quando o paciente se sente acolhido, quando percebe que sua história e seus vínculos são respeitados, isso impacta diretamente no seu bem-estar e na recuperação. Ver um momento tão simbólico como esse dentro do hospital mostra que cuidar vai além dos procedimentos técnicos, envolve olhar, escuta e presença”, destacou.
Orgulho da família - A mãe do formando, Josiane Baía, professora de 49 anos, disse que a visita era importante tanto para o filho quanto para o tio. Emocionada, ela lembrou das batalhas da família para garantir acesso à educação.
“Vivemos dias difíceis, mas Deus também nos dá alegrias. Minha família sempre valorizou os estudos. Meu pai, que já se foi, lutou muito na Associação Remanescente de Quilombos para que tivéssemos oportunidade de entrar na universidade. Hoje, dois netos dele já se formaram na federal. É um orgulho”, contou.
Além de concluir a graduação, Jeferson já iniciou o mestrado e pretende seguir carreira na área de pesquisa. A visita ao paciente reuniu mãe, irmão, cunhada, o sobrinho formando e a noiva, um encontro marcado por lágrimas, sorrisos e esperança em dias melhores.
De janeiro a outubro deste ano, a unidade totalizou 424.423 atendimentos considerados mais relevantes, mantendo o índice de satisfação dos usuários acima de 90% no último mês. Entre os principais serviços prestados no período, destacam-se 60.203 atendimentos ambulatoriais médicos e não médicos, 2.738 internações, 3.193 cirurgias, 348.540 exames gerais e 9.749 sessões multiprofissionais.
Serviço:
O Hospital Jean Bitar pertence à rede de saúde pública do governo do Pará, e é administrado pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
O HJB presta assistência em média e alta complexidade na área ambulatorial e hospitalar para usuários transgêneros, e em clínica médica e cirúrgica para pacientes com doenças metabólicas e gastrointestinais. A unidade fica na rua Cônego Jerônimo Pimentel, nº 543, no bairro Umarizal, em Belém.
Texto de Marcelo Zeno / Ascom HJB
