Povos indígenas do Pará reforçam protagonismo na agenda climática durante evento internacional em Belém
Sepi atua na articulação de políticas públicas com foco nos povos originários, e tem seu papel essencial reconhecido no Global Citizen Now Amazônia
Durante o evento internacional Global Citizen Now Amazônia, realizado em Belém, no último dia 24, os povos indígenas do Pará reafirmaram seu protagonismo nas discussões climáticas globais. A Secretaria dos Povos Indígenas do Pará (Sepi) foi um dos destaques do encontro ao apresentar a experiência do Estado na construção de políticas públicas voltadas para os povos originários, que há séculos defendem e preservam a floresta amazônica.
O governador do Pará, Helder Barbalho, também participou do evento e reforçou o papel estratégico da Amazônia no enfrentamento da crise climática.
"Estamos construindo, a partir de Belém, um novo paradigma para o desenvolvimento sustentável. A floresta viva precisa ter mais valor do que a floresta derrubada. Isso é o que a COP deve entregar ao nosso povo", afirmou o governador.
A secretária estadual dos Povos Indígenas, Puyr Tembé, participou do painel "Justiça Climática e Povos Indígenas", onde levou ao público a realidade de quem cuida da Amazônia todos os dias. Ela ressaltou que as políticas ambientais não podem ignorar os saberes e os modos de vida dos povos indígenas.
"Nós, povos indígenas, temos a responsabilidade ancestral de cuidar da floresta, mas também queremos participar ativamente das decisões sobre o futuro do planeta. É hora de parar de falar sobre os povos indígenas e começar a falar com os povos indígenas", destacou a secretária.
Durante o painel, também foi debatido o papel do setor privado e dos bancos no financiamento de soluções sustentáveis em parceria com os povos indígenas. Representantes de agências internacionais, como Pnuma e Pnud, e do setor financeiro, como o BNP Paribas, defenderam a construção de mecanismos que respeitem o modo de vida e a cultura indígena.
A secretária Puyr reforçou a importância de que qualquer investimento climático deve considerar as prioridades dos territórios. “O financiamento deve chegar a quem realmente protege a floresta. É sobre salvar o planeta não só para os povos indígenas, mas para toda a humanidade”, disse.
O painel também abordou a necessidade de reconstrução urgente que o planeta exige.
A Sepi vem percorrendo os territórios com a Caravana dos Povos Indígenas rumo à COP30 como uma das estratégias mais inovadoras de mobilização popular do Pará.
A ação está percorrendo as oito etnorregiões do estado, levando informações, promovendo escutas e fortalecendo o conhecimento dos povos indígenas sobre a COP30, que será realizada em Belém, em novembro.
"Estamos indo até as aldeias, com ações coordenadas, escutando, dialogando e fortalecendo as nossas bases. O protagonismo indígena na COP30 passa, necessariamente, pelo fortalecimento dos territórios. E a Caravana é o nosso instrumento para isso: garantir que cada povo, tenha acesso à informação e que com sua identidade e suas demandas, esteja representado na maior conferência climática do mundo”, explicou Puyr Tembé.
A participação da Sepi no Global Citizen Now Amazônia também foi marcada pela articulação com outras lideranças indígenas, organizações da sociedade civil e instituições públicas e internacionais. O reconhecimento da secretaria como instância fundamental na mediação entre Estado e povos indígenas reafirma o compromisso do Pará com a construção de um modelo de desenvolvimento ambientalmente sustentável, culturalmente respeitoso e socialmente justo.
A Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa) é parceira estratégica da Secretaria dos Povos Indígenas (Sepi) e desempenha papel fundamental na mobilização e no fortalecimento da atuação indígena no estado. Representando diversas etnorregiões paraenses e englobando mais de 60 povos indígenas, e atuando de forma articulada em temas essenciais como educação escolar indígena, proteção territorial, defesa de direitos, combate à desinformação e justiça climática, a Fepipa tem fortalecido o estado e a pauta indígena em espaços de debate sobre as mudanças climáticas, promovendo ações voltadas à valorização do conhecimento tradicional e à preservação dos biomas amazônicos.
Sua contribuição junto à Sepi tem sido determinante na formulação de políticas públicas inclusivas e culturalmente respeitosas, como a Política Estadual de Educação Escolar Indígena. A participação nesse processo reforça a autonomia dos povos originários, assegurando que suas vozes estejam presentes na definição, implementação e fiscalização de políticas públicas que impactam diretamente suas vidas, territórios e modos de vida, valorizando ainda o papel das mulheres indígenas no protagonismo ambiental.
“A justiça climática só é possível com a inclusão das mulheres. Elas têm um papel fundamental na preservação do meio ambiente. É por meio e através das mulheres que as novas gerações, dentro dos nossos territórios, recebem os conhecimentos ancestrais e milenares que mantêm essa floresta em pé. As políticas públicas construídas a partir das vozes dessas mulheres garantem os direitos dos povos que habitam esses territórios. Isso não é apenas uma questão de justiça, mas de estratégia: é reconhecer o papel e os saberes que essas mulheres carregam e transmitem. São elas que mantêm vivo o ciclo de conhecimento e proteção da natureza”, afirmou Concita Sompré, liderança indígena e presidente da Fepipa.