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Hepatites virais são porta de entrada para o câncer de fígado, alerta oncologista do HOL

Médico Paulo Soares reforça a importância da prevenção e do monitoramento das formas crônicas das hepatites B e C, associadas a tumores hepáticos

Por Leila Cruz (HOL)
27/05/2025 12h25

Inflamações no fígado causadas por vírus, associadas ao uso excessivo de álcool, drogas, medicamentos e até doenças autoimunes, as hepatites virais afetam milhares de brasileiros todos os anos, muitas vezes sem apresentar sintomas nas fases iniciais. As formas crônicas dos tipos B e C estão diretamente ligadas ao desenvolvimento do câncer de fígado, uma das neoplasias mais letais. A estimativa para o triênio 2023–2025 é de 10.700 novos casos de câncer hepático por ano no País, ou seja, 5 casos por 100 mil habitantes, sendo 6.390 entre homens e 4.310 entre mulheres, segundo o Ministério da Saúde (MS).

O alerta é do oncologista Paulo Soares, do Hospital Ophir Loyola (HOL), que reforça a urgência em ampliar a conscientização, o diagnóstico precoce e a prevenção. Segundo ele, o desconhecimento e a falta de rastreamento adequado ainda são os maiores obstáculos no combate à progressão dessas infecções perigosas, e a  infecção crônica pelos vírus B e C causa alterações moleculares no organismo que favorecem o surgimento de tumores.

“Existe uma relação direta entre a infecção crônica por esses vírus e o desenvolvimento do câncer de fígado. A infecção persistente pode se estender por anos e alterar o DNA das células hepáticas. O vírus da hepatite B é o mais preocupante, pois tem a capacidade de integrar-se ao genoma da célula hospedeira, favorecendo a carcinogênese mesmo na ausência de cirrose, estágio avançado da doença. Com o tempo, o fígado desses pacientes evolui com fibrose e inflamação crônica decorrentes da agressão viral, e contribuem  com formação precoce de neoplasias”, esclareceu Soares.

Oncologista do HOL, Paulo Soares ressalta que o Hospital Ophir Loyola oferece diversas modalidades terapêuticas

Conforme o oncologista, é fundamental que pacientes com hepatites B e C  crônicas sejam submetidos a vigilância oncológica rigorosa, incluindo exames de imagem periódicos e monitoramento de marcadores tumorais. “A evolução da hepatite para o câncer ocorre, na maioria dos casos, por meio da cirrose hepática, condição em que o tecido saudável do fígado é, gradualmente, substituído por tecido cicatricial (fibrose), comprometendo o funcionamento do órgão e podendo levar à falência hepática”, enfatizou.

No Pará, o Hospital Ophir Loyola (HOL), referência em tratamento oncológico, registrou um aumento significativo nos casos de câncer de fígado nos últimos três anos. Em 2022, foram diagnosticados 95 casos (52 homens e 43 mulheres). Esse número subiu para 118 em 2023 (68 homens e 50 mulheres) e alcançou 162 em 2024 (90 homens e 72 mulheres). O crescimento de 70% no período reforça a necessidade de atenção às formas crônicas da doença e ao rastreamento precoce.

Além do diagnóstico e acompanhamento, o hospital oferece tratamentos especializados para pacientes com câncer de fígado. “O Hospital oferece diversas modalidades terapêuticas. Entre elas, destacam-se a quimioterapia convencional, as cirurgias hepáticas, e a quimioembolização, um procedimento em que injetamos o quimioterápico diretamente na artéria que irriga o tumor, provocando a interrupção do fluxo sanguíneo e levando à morte das células tumorais. Em alguns casos, também utilizamos a radioterapia. E, em breve, iniciaremos a técnica de ablação como mais uma ferramenta eficaz na destruição do tumor”, explicou Paulo Soares.

A detecção do câncer de fígado geralmente requer uma abordagem combinada, que inclui exames laboratoriais, como testes sanguíneos; métodos de imagem, a exemplo da ultrassonografia, tomografia ou ressonância magnética, e, em determinadas situações, a realização de biópsia. “A interpretação desses dados, aliada ao histórico clínico do paciente, permite confirmar o diagnóstico e determinar o estágio da doença”, informou o especialista

Soares informa ainda que a vacinação contra a hepatite B contribuiu para uma redução significativa na incidência do câncer hepático relacionado a esse vírus. “ A imunização é oferecida, gratuitamente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a todas as pessoas que ainda não foram vacinadas, independentemente da faixa etária. No caso das crianças, a vacina integra o calendário nacional de imunização obrigatório. Vale destacar que a vacina é a primeira a prevenir um tipo específico de câncer. Por outro lado, ainda não há uma vacina disponível para a hepatite C.”

Texto de David Martinez, sob orientação de Leila Cruz