Hospital Ophir Loyola destaca importância do diagnóstico precoce de câncer de testículo
Pesquisadores alertam que óbitos pela doença devem aumentar mais de 26% entre 2026 e 2030. Esse tipo de tumor também pode causar infertilidade.
O câncer de testículo, considerado raro pela medicina, representa 5% dos casos de tumores urológicos masculinos em todo o Brasil. Mesmo com menor ocorrência, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) alerta que esse é o tipo de câncer que mais acomete homens na idade reprodutiva, entre 15 e 35 anos, faixa etária de maior atividade no mercado de trabalho.
A doença afeta, de forma agressiva, a fertilidade masculina. Somente no período de 2015 a 2024, mais de 47 mil cirurgias de orquiectomia (remoção de testículos) foram realizadas no País. Em Belém, o Hospital Ophir Loyola (HOL), referência em oncologia, atendeu 228 pacientes, entre 2019 e 2024. A instituição de saúde do Governo do Pará incentiva a prevenção, prática estimulada em todo o País pela campanha Abril Lilás.

Segundo um estudo publicado na revista científica BMC Urology, especializada em distúrbios urológicos, há uma projeção de aumento de 26,6% no índice de óbitos por câncer de testículo no Brasil, de 2026 a 2030. Pesquisadores analisaram os dados de mortalidade relacionados à doença, no período de 2001 a 2015. Com base nesse histórico, estimaram o crescimento das mortes ao longo de um período de 15 anos, comparando-o com os números observados no período analisado.
Prognóstico favorável - O presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Seção Pará, Luís Otávio Pinto, urologista da equipe do HOL, explica que a neoplasia apresenta alta taxa de duplicação celular, mas é um dos cânceres com maior possibilidade de cura, superior a 90% quando diagnosticado precocemente. “Mesmo em casos de metástase, o prognóstico pode ser favorável, embora o diagnóstico tardio aumente os riscos de sequelas”, alerta o especialista.
“Um nódulo pequeno, duro e indolor é o principal sinal de alerta. Mas pode ocorrer mudança na consistência dos testículos, sensação de peso no saco escrotal, dor incômoda no baixo ventre ou na virilha, dor ou desconforto no testículo ou no saco escrotal. Em alguns casos, ocorre aumento da mama ou perda do desejo sexual, crescimento de pelos faciais e corporais em meninos muito jovens e dor lombar. Os sintomas também podem ser confundidos com uma inflamação dolorosa nos testículos, causada por infecções bacterianas, virais ou fúngicas”, complementa o urologista.

Riscos - Alguns fatores podem contribuir para a manifestação da doença, como histórico familiar desse tipo de tumor; infertilidade (causada por outras razões alheias ao câncer); criptorquidia (não descida de um ou dos dois testículos para a bolsa escrotal) e exposição a agrotóxicos. Além disso, os homens brancos têm de 5 a 10 vezes mais chances de desenvolver câncer testicular, em relação a homens de outras raças.
O exame inicial é físico. Em caso de suspeita, são solicitados exames de imagem e sangue. “Destacamos o ultrassom de bolsa testicular com doppler, que indica a vascularização. Esse exame investiga se há alguma massa na região, que não seja uma torção ou infecção. Caso haja, existe a possibilidade de se tratar de tumor de testículo, e indicamos a melhor conduta para o paciente. Outros exames, como tomografias ou ressonâncias, servem apenas para verificar se o tumor se alastrou para outros órgãos”, informa Luís Otávio Pinto.
Sequelas - O especialista ressalta que a infertilidade pode ser uma das sequelas da doença em meninos e adultos. “A impossibilidade de ter filhos tende a causar sofrimento psicológico, especialmente na vida adulta. Inicialmente, o jovem pode não entender a gravidade da situação. Com o passar do tempo, a fertilidade pode se tornar uma preocupação relevante”, acrescenta o médico.
Ele acrescenta que “no Sistema Único de Saúde (SUS) há suporte psicológico, com equipes multiprofissionais, para acolher esses casos, enquanto na rede privada é possível congelar o sêmen, desde que o paciente já tenha passado pela puberdade, para ser usado futuramente em técnicas de inseminação artificial”.
Texto: David Martinez, sob supervisão de Leila Cruz – Ascom/HOL