Semas debate transição econômica em 'Diálogos Climáticos Brasil-Alemanha'
Além de representantes do Brasil e da Alemanha, a conferência reuniu especialistas, representantes de comunidades locais, setor privado, sociedade civil e pesquisadores
Belém foi a sede da primeira edição do Climate Talks 2025 – Diálogos Climáticos Brasil-Alemanha, iniciativa da Embaixada da Alemanha no Brasil, com o apoio do Governo do Pará. O evento, realizado na quinta-feira (25), teve como objetivo fomentar o debate sobre as mudanças climáticas em um ano de grande relevância para a capital paraense, que receberá a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30).
Com o tema “COP 30 e Economia Circular – Contribuições Locais para o Combate às Mudanças Climáticas”, o evento teve a parceria da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), com apoio da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Participaram especialistas, pesquisadores, gestores e técnicos das secretarias municipais de Meio Ambiente, comunidades locais, setor privado, coletivos da sociedade civil, autoridades e parceiros, tanto do Brasil quanto da Alemanha.

Na abertura, a embaixadora da Alemanha no Brasil, Bettina Cadenbach, destacou a importância da colaboração entre os dois países nas questões relacionadas ao clima e a outros desafios ambientais. Ela reforçou que “o Brasil é um aliado fundamental em questões de proteção climática e ambiental”, e a cooperação com o Estado do Pará é essencial, especialmente nas áreas de preservação da biodiversidade e restauração dos ecossistemas.
A importância da economia circular, principal foco do evento, foi ressaltada pela embaixadora, que enfatizou a urgência da transição da economia linear – que extrai, consome e descarta recursos – para um modelo mais sustentável, como a economia circular, que reutiliza, reduz desperdícios, possibilita o enfrentamento de desigualdades e respeita os ciclos naturais.

Pauta econômica - O representante da Fiepa, Deryck Pantoja Martins, e o diretor-superintendente do Sebrae/PA, Rubens Magno, também destacaram a importância da colaboração entre setor público, setor produtivo e parceiros internacionais. Ambos enfatizaram que a sustentabilidade deve ser vista não apenas como uma pauta ambiental, mas também econômica e social.
Segundo eles, a transição para outros modelos, como a economia circular, exige protagonismo das indústrias, das pessoas e dos pequenos negócios. Além disso, defenderam no evento a valorização dos recursos da floresta de forma sustentável, apontando a cooperação internacional como uma estratégia importante para trazer conhecimento técnico, investimentos e visão de longo prazo à posição do Pará como referência na agenda climática global.
O secretário-adjunto da Semas, Rodolpho Zahluth Bastos, destacou o apoio crucial da Cooperação Alemã (GIZ) em áreas como regularização ambiental e restauração florestal. Ele enfatizou a importância da economia circular como uma estratégia-chave para Amazônia, e sugeriu que, além de combater o desmatamento, seria essencial expandir a discussão para incluir a redução de desperdício, reuso de recursos naturais, melhoria da gestão de resíduos sólidos, promoção da inclusão de cooperativas de catadores e fortalecimento da economia local. “Apoiar iniciativas de economia circular e conectar pessoas e arranjos em prol da articulação, inovação, promoção da escalabilidade das ações são fundamentais para construir uma sociedade mais justa e resiliente às mudanças climáticas”, reiterou o secretário-adjunto.

Economia circular - O evento também visou dar visibilidade às iniciativas locais que, há décadas, estudam e adotam práticas de economia circular, como o reaproveitamento da pele e escamas de peixes amazônicos para confecção de acessórios; reutilização de resíduos para a produção de biofertilizantes e sabão, e ações de cooperativas de seringueiros e artesãos que propõem um novo ciclo da borracha no Pará, com oportunidades reais de autonomia e inclusão socioeconômica das comunidades locais.

Rodolpho Zahluth Bastos destacou a importância de criar canais de apoio e financiamento climático para que essas iniciativas possam se expandir, reforçando o papel do poder público, do setor privado e do mercado internacional.
“O financiamento internacional, como os fundos do clima ou parcerias bilaterais, é essencial para conectar territórios e comunidades do Pará, que estão dedicadas à conservação da Amazônia com contribuições concretas à agenda climática global, reconhecendo o papel das iniciativas locais inovadoras e da necessidade de fortalecimento da atuação do poder público. Governos estaduais e municipais podem estruturar políticas públicas mais robustas e duradouras, garantindo escala, fiscalização e suporte técnico aos coletivos que praticam economia circular”, assegurou o secretário-adjunto.
Bioeconomia - Camille Bemerguy, secretária-adjunta de Bioeconomia da Semas, disse nos debates que a cooperação entre os governos da Alemanha e do Pará é longa, e tem contribuído para apoiar técnica e financeiramente a transformação de longo prazo da economia, rumo à descarbonização, a um Estado com carbono neutro.
“Em 2022, lançamos o Plano de Bioeconomia. Naquela época, as emissões do Estado do Pará estavam em 94%, ligadas ao uso da terra e da floresta. Inicialmente, a economia circular era vista como uma agenda secundária, mas hoje, com o avanço da agenda climática, ganhou relevância, exigindo transformações estruturais nos modelos de consumo e produção”, afirmou Camille Bemerguy.

Iniciativas locais - Eduardo Martinelli, pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA) nas áreas de Oceanografia biológica, Ciências ambientais e Impactos ambientais, ressaltou as aplicações da bioeconomia no contexto acadêmico e científico. Segundo ele, “a bioeconomia é pesquisa aplicada com propósito socioambiental, com potencial para transformar conhecimento científico em inovação sustentável e desenvolvimento local e global”.
O professor apresentou dados das pesquisas relacionadas à distribuição de microplásticos ao longo da Plataforma Continental Amazônica e aos impactos na biodiversidade com alterações na região costeira, além da proposta que envolve bioeconomia e circularidade no reaproveitamento de biomassa da alga parda sargaço como potencial biofertilizante.
Francisco Samonek, diretor executivo da Seringô, explicou como sua empresa, que trabalha com comunidades extrativistas do Arquipélago do Marajó, está adotando práticas de economia circular para transformar o látex em borracha ecológica e biojoias, gerando inclusão social e incentivando a preservação da floresta. Ele destacou que nenhuma árvore é derrubada nesse processo, contribuindo diretamente para a manutenção da floresta em pé.
Bruna Freitas, CEO da Yara Couro, compartilhou sua experiência de transformação de resíduos de pele de peixe em couro de alto valor agregado, ressaltando a importância dessas iniciativas no fortalecimento da bioeconomia amazônica, com destaque à proposta de parceria público-privada que está em construção com a política de acordo de pesca conduzida pela Semas.
Carol Magalhães, empreendedora do Movimento Moeda Verde, relatou uma experiência inovadora em Igarapé-Açu, município do nordeste paraense, onde a comunidade troca materiais recicláveis por uma moeda social, que pode ser usada em mais de 50 comércios da cidade. Ela destacou que a iniciativa de economia circular na prática promove a educação ambiental, o empoderamento das mulheres e a inclusão social, mostrando soluções locais no contexto da COP 30.
Programação - O evento foi iniciado com a abertura dos painéis sobre economia circular, envolvendo sinergias e desafios, além de experiências locais, regionais e agenda ESG (Ambiental, Social e Governança) na gestão de resíduos. À tarde, grupos de diálogos discutiram pontos-chaves abordados nos painéis, seguidos pelos resultados das discussões feitas por representantes dos grupos. A programação foi encerrada com a apresentação sobre “A cooperação Brasil-Alemanha: instrumentos e projetos”, dirigida por Timon Lepold, adido da Embaixada da Alemanha no Brasil, e Sarah Habersack, da Cooperação Alemã GIZ.
Parcerias - No encerramento do Climate Talks 2025: COP 30 e Economia Circular – Contribuições Locais para o Combate às Mudanças Climáticas, o secretário-adjunto da Semas e o adido da Embaixada da Alemanhã destacaram que os diálogos climáticos dão continuidade a uma agenda de diálogos e articulação de parcerias para integrar práticas de economia circular nas estratégias climáticas local e regionais, frisando as possibilidades de cooperação que podem surgir a partir dos desdobramentos e contribuições, apresentadas por municípios paraenses e coletivos durante o evento.
A necessidade de apoiar os coletivos da sociedade civil, capacitar comunidades e gestores locais foram pontos centrais. Capacitações e intercâmbios das experiências podem articular uma agenda de compromissos nos eixos Fortalecimento de Parcerias Multissetoriais, Valorização de Iniciativas Locais e Educação e Conscientização, visando disseminar conhecimentos e fortalecer práticas de economia.