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Formação de professores fortalece educação indígena no Pará

Por Redação - Agência PA (SECOM)
19/04/2018 00h00

A conservação dos valores, da identidade e das línguas tradicionais tem na formação de professores indígenas sua maior aliada no Pará. Desde 2012, o Governo do Estado, por meio do Núcleo de Formação Indígena (Nufi), da Universidade do Estado do Pará (Uepa), avança na articulação com as comunidades e organizações e a política indigenista da instituição com a garantia dos cursos de graduação e pós-graduação em Licenciatura Intercultural Indígena, que atende à emergência histórica de apropriação, pelos povos, de sua formação escolar.

Com cinco turmas de professores já graduados – das etnias Gavião, Tembé e Suruí Aikewara, Wai-Wai e Tapajós Arapiuns –, a formação dos educadores indígenas subsidia uma educação capaz de expressar a diversidade e pluralidade de suas culturas, com respeito aos processos próprios de aprendizagem, conforme preconiza a Constituição Federal para a garantia de direitos dessas comunidades. Atualmente, há seis turmas de graduação em andamento, com 206 alunos de diversas etnias matriculados. Na pós-graduação, há a reserva de vagas aos egressos do curso de Licenciatura Intercultural Indígena, mas também ingressam alunos oriundos de outras áreas, o que já contabiliza três turmas em curso, totalizando 122 alunos.

A coordenadora do Nufi, Joelma Alencar afirma que a formação intercultural tem impactos significativos no fortalecimento cultural e lingüístico, além contribuir para o empoderamento das comunidades indígenas frente às influências e tensões vindas da sociedade não-indígena.

“Nós sabemos que hoje, a pressão sofrida pelos povos indígenas em relação aos códigos, às linguagens, aos costumes da sociedade não-indígena é muito grande. Então, em muitos desses povos, quando a Universidade chegou nas aldeias, a gente percebia uma certa fragilidade em termos desse fortalecimento da língua, dos costumes, das manifestações culturais, das festas. Com o andamento do curso vimos que a língua e os costumes se fortaleceram e isso começou a despertar um sentimento de importância, de relevância dessa cultura. A escola se torna um espaço de resistência também, de fortalecimento dessa identidade indígena”, pontua a educadora.

Estudante do 4º módulo da Licenciatura Intercultural Indígena, Enivaldo Tembé cursou o ensino fundamental em sua aldeia de origem, São Pedro, localizada na Região Guamá. Ele recorreu ao ensino regular em um município próximo para dar continuidade aos estudos. De acordo com o estudante, ele enfrentou preconceito, mas superou as dificuldades para o aprendizado em outra cultura, manteve o foco para obter uma formação que o possibilitasse contribuir com sua comunidade e realizar o que tomou como sua missão: ser porta-voz daqueles que não tiveram a mesma oportunidade no diálogo com toda a sociedade.

“Sempre tive o sonho de cursar uma faculdade e, principalmente, de adquirir os conhecimentos acadêmicos, científicos, pra junto com o nosso conhecimento tradicional estar fortalecendo, cada vez mais, o nosso desenvolvimento dentro da aldeia”, ressaltou Enivaldo.

Ainda de acordo com o indígena, a oferta do curso é resultado da luta de suas lideranças para firmá-los como protagonistas da sua própria história. Enivaldo também reconhece a graduação como um vetor de resistência, por meio do qual os estudantes indígenas são estimulados a atuar no fortalecimento de sua cultura, tradição e da língua materna e expressa sua realização pessoal pelo ingresso no nível superior. “A ideia é conquistar os nossos espaços e direitos, adequando o conhecimento científico e acadêmico às nossas tradições”, reitera.

A formação obtida na Licenciatura Intercultural habilita os indígenas a integrarem os processos educacionais dentro das suas aldeias, reforçando a identidade de suas etnias e preservando a língua materna. Simultaneamente, o intercâmbio de conhecimento favorece a atuação dos indígenas para a conquista da igualdade e respeito de seus valores pela sociedade não-indígena.

Avanços

A política de formação continuada dos professores indígenas promovida pelo Governo do Pará por meio do Nufi, da Uepa prevê avanços para a formação intercultural. Em breve, o programa de mestrado em docência indígena será submetido à avaliação para implantação, possibilitando o ingresso dos indígenas no magistério superior.

“A gente está batalhando um curso de mestrado. Vamos correr atrás disso porque entendemos ser importante também essa inserção do indígena não só como aluno nos cursos de ensino superior, mas também como docente, inclusive da própria Universidade”, assegura a coordenadora do Nufi, professora Joelma Alencar.

 

Colaboração (texto): Susan Santiago