Internos da Susipe participam da primeira edição do "Conquistando a Liberdade" em 2015
Na manhã desta quinta-feira (8) internos da Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe) participaram da primeira edição, em 2015, do projeto Conquistando a Liberdade, em uma escola pública de Belém. No total, 19 detentos do regime semiaberto, da Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel do Pará, realizaram a limpeza e manutenção da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Maria Luiza Costa Rego, no bairro do Benguí.
“Essa é uma instituição muito grande, com quase 3 mil alunos nos três turnos. Já estivemos aqui no final de outubro do ano passado e percebemos que havia a necessidade de fazer mais uma edição do ‘Conquistando a Liberdade na Escola”, disse o coordenador do projeto, Ércio Teixeira. Além dos serviços de roçagem e capinação em volta do prédio, também foi feito o “Papo Di Rocha”, uma conversa com os estudantes, na qual há relatos das experiências dos presos nas penitenciárias. A medida preventiva visa conscientizar os alunos sobre as consequências da criminalidade.
O detento que participa do projeto recebe o benefício da remição de um dia da pena a cada três dias de trabalho, direito previsto na Lei de Execução Penal. Todos os internos que participam do Conquistando a Liberdade passam por avaliação psicossocial e treinamento.
Já em prisão domiciliar, o detento Virgílio Márcio fez questão de relatar aos estudantes fatos que aconteceram durante os 18 anos que passou preso, cumprindo pena por assaltos e homicídios. “O início da minha vida no crime começou na escola. Fazia parte de um grupo que não queria nada com a vida e só pensava em usar drogas e cometer pequenos furtos. Por isso, é importante ficar atento às escolhas que fazemos desde cedo, pois quando eu era jovem nunca imaginei que seria preso e passaria por tudo que passei. Hoje, já são 18 anos que não sei mais o que é liberdade”, contou Virgílio.
Exemplo - Os alunos do oitavo e nono anos do Ensino Fundamental ficaram atentos e surpresos com os relatos. “Eu fiquei muito empolgado em participar porque acho uma ótima forma de conhecer algo que pode nos afetar diretamente. É interessante ouvir o que eles passaram e poder servir de exemplo, para não sermos seduzidos para o caminho errado”, disse o estudante Gabriel Campos, 17 anos.
A diretora da escola, Ângela Fagundes, contou que sentiu a diferença na atitude de alguns alunos depois do último “Papo Di Rocha” na instituição. “O comportamento dos alunos melhorou. Alguns estão mais respeitosos e até melhoraram as notas. A palestra alertou esses jovens, que podem ser presas fáceis para o mundo do crime e nem sabem”, ressaltou.
Durante todo o ano passado, 65 escolas públicas da capital e do interior receberam ações do Projeto Conquistando a Liberdade, em 18 municípios do Pará. Só em Belém foram realizadas 11 edições. Cerca de mil internos participaram do projeto, que beneficiou mais de 50 mil alunos com melhorias nas instituições de ensino. “Este ano vamos levar o projeto para Breves, na ilha do Marajó, e para Mosqueiro. Queremos expandir, mas também oferecer uma ação de qualidade que realmente provoque nesses jovens a conscientização, pois não há como combater a criminalidade sem trabalhar a prevenção”, disse Ércio Teixeira.
Reconhecimento - O Projeto Conquistando a Liberdade é promovido pela Susipe, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Programa Pro Paz e Polícia Militar. O projeto foi um dos 18 premiados no Innovare 2013. O prêmio, destinado a práticas inovadoras para a Justiça no Brasil, torna a iniciativa paraense referência nacional na reinserção social de detentos.
O projeto é desenvolvido em escolas da rede pública estadual de ensino, nas quais os detentos fazem serviços de limpeza, poda de árvores, reparos nas redes elétricas e hidráulicas e consertos de cadeiras e mesas. Participam do projeto internos dos regimes fechado e semiaberto.
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