Internos do Hospital de Custódia participam de aulas de violão em unidade prisional
A Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe), em parceria com a Fundação Cultural do Pará (FCP), realiza projeto de música no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP). O Sala de Cordas promove aulas de violão para 40 internos da unidade prisional com o objetivo de levar música, cultura e melhorias psíquicas aos detentos.
A ideia de levar um projeto cultural para a casa penal surgiu após uma conversa entre a diretora do HCTP, Aline Coutinho, e a Coordenadora Pedagógica, Sueli Carvalho, que saíram em busca de parcerias para trazer atividades que pudessem ajudar na melhoria psicológica dos internos.
O Sala de Cordas é um projeto de inclusão cultural iniciado em 2007, pela FCP, voltado principalmente para escolas públicas e penitenciárias, mas que também atinge a comunidade no geral. Esta é a segunda vez que o projeto é realizado no HCTP e também já passou pelo Centro de Recuperação Feminino (CRF) e pelo Centro de Recuperação do Coqueiro (CRC).
Paulo Moura, idealizador do Sala de Cordas e titular da Coordenadoria de Linguagem Sonora do FCP, acredita que a música pode trazer muitos benefícios para quem está no cárcere. “Vejo o projeto como uma inclusão através da música e isso pode ajudar na reinserção dos detentos. Se ele criar grande afinidade com a música pode até transformar em sua profissão quando sair da unidade penal”, explica.
Durante as aulas, ministradas pelo professor de música Márcio Farias, os internos aprendem sobre melodia, harmonia e compasso. É ensinado desde o básico até o avançado, tudo depende do desempenho de cada aluno. No total, foram disponibilizados 21 violões aos detentos, sendo 16 cedidos pelo projeto para a unidade prisional e outros cinco que já pertenciam ao HCTP.
“A música é algo que move, que contagia e eles estão bem empolgados, têm se empenhado muito, fazem questão de vir para as aulas e alguns até pediram para familiares comprarem um violão. Eu fiquei muito feliz em ver que a maioria já está tocando, gente que não sabia sequer uma nota e agora até canta junto. Isso é muito bonito”, conta Sueli Carvalho.
Para participar da aula os internos passam por uma avaliação com psicólogos, assistentes sociais e com o setor de segurança, que identificam se estão aptos a participar do projeto.
O interno Reginaldo Pereira, de 29 anos, que nunca teve contato com instrumentos musicais, é um dos destaques da turma. “Sempre tive interesse pela música, mas ainda não tive a oportunidade de aprender. Quando comecei não sabia nem segurar direito no violão, agora já consigo tocar uma música completa”, comemora.
As dificuldades não são um empecilho para quem gosta de música. O detento Paulo Velozo, de 32 anos, é mudo e mesmo com sua deficiência tem se saído bem nas aulas. Outro interno que supera as expectativas é Pedro Monteiro, de 30 anos. Ele, que já sabia tocar violão e até teve banda na adolescência, se impôs um novo desafio. “Já que a aula era para iniciantes, eu decidi começar a aprender a tocar com a mão esquerda. Não sou canhoto e já sabia tocar com a direita, então decidi aprender com a outra mão. Está sendo tudo como no começo, mão doendo, musculo cansado, mas estou gostando muito”, afirma.
Por ser uma atividade relaxante, as aulas de música estão ajudando a melhorar a autoestima dos presos. De acordo com a direção do HCTP, muitos detentos que costumavam ter problemas na unidade prisional melhoraram de comportamento consideravelmente depois de iniciarem às aulas. Aline Coutinho considera que os bons resultados vão desde o bloco carcerário até a saída do interno.
Ao final das aulas será montada uma apresentação geral, que irá ocorrer na própria casa penal, na qual os alunos irão tocar e cantar para familiares e organizadores do projeto. A intenção é gravar um CD com quatro músicas para mostrar o resultado final.
As aulas iniciaram no dia 7 de maio e devem seguir até o final de junho. Os encontros ocorrem sempre às terças e quintas em dois horários, das 9h às 12h, a primeira turma, e das 13h às 16h, a segunda. A expectativa é de que o projeto tenha uma nova edição em setembro, para garantir oportunidade aos detentos que não tem acesso a educação formal por dificuldades ou transtornos psíquicos.
O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP) têm 50% de sua população envolvida em alguma atividade cultural, lúdica ou educacional. Na unidade, os internos já participam de projetos como o Paisagem Sonora, o Cinema na escola e a Aula de Xadrez. Além das turmas de educação formal, de ensino fundamental e médio. O objetivo é atingir 100% dos detentos envolvidos em alguma atividade.