Marcenaria da Susipe garante profissionalização e renda a detentos
Uma marcenaria instalada no Centro de Recuperação do Coqueiro (CRC), em Belém, é a nova oportunidade de qualificação da mão de obra carcerária no Pará. O projeto, iniciado em 2004, já profissionalizou mais de 60 internos do regime fechado custodiados na unidade da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe). Atualmente, oito internos fazem parte do grupo que trabalha na confecção de móveis em MDF.
"A capacitação tem como principal objetivo habilitar o interno para o mercado de trabalho, além de contribuir com a remissão de pena, já que três dias trabalhados significam um a menos no cárcere. Sem contar na economia que esse trabalho gera para a Susipe, já que os gastos com a mão de obra são reduzidos”, diz o coordenador do projeto, Rodrigo Dias.
A marcenaria funciona de segunda a sexta-feira. Os detentos trabalham na produção de cadeiras, mesas, balcões, móveis para escritório e estantes. A produção atual é de cadeiras de alimentação para crianças, que serão levadas para a Unidade Materno-Infantil (UMI) da Susipe e também nos acabamentos e mobília da nova biblioteca do CRC, local onde ocorre a visita infantil.
"Pelo trabalho, os detentos recebem remuneração de 3/4 do salário mínimo, conforme determina a Lei de Execução Penal brasileira, além da remissão de pena e oportunidade de se profissionalizar para o mercado de trabalho. É um ganho real tanto do ponto de vista profissional, quanto pessoal", avalia Rodrigo Dias. Dados da Divisão de Trabalho e Produção da Susipe revelam que depois de passar pela marcenaria da casa penal, cerca de 30 homens já foram encaminhados para o mercado de trabalho.
O interno José Flavio da Silva, 51 anos, também já sonha com o emprego depois que sair do cárcere. “Quando eu sair daqui quero trabalhar com marcenaria, ter carteira assinada. Gostei muito de aprender esse ofício e pretendo me especializar cada vez mais nessa área”, afirma.
Produção – O material usado pelos detentos para a produção das peças é o MDF, derivado da madeira, e também a madeira de lei, que vem a partir de doações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), já cerrada e beneficiada. Para participar do projeto, o interno precisa ter bom comportamento e aptidão para o trabalho, além de passar por avaliação psicossocial.
O detento José Maria Machado está há três no projeto e conta que o maior benefício é continuar exercendo uma atividade produtiva. “Eu sentia muita necessidade de desenvolver alguma atividade aqui dentro, poder contribuir de alguma forma. Ruim é ficar aqui e não fazer nada, viver trancado em uma cela, como muitos escolhem fazer. Tive a oportunidade e aproveitei, e sei que tirarei muitos aprendizados desse projeto. Trabalhava com comércio de móveis antes de vir para cá e pretendo dar continuidade, dessa vez com um olhar muito mais crítico”, diz.
Os alunos recebem as orientações do técnico em marcenaria Fábio Barros, que mostra o passo a passo da confecção dos móveis. “Ensino desde noções de segurança no trabalho e o uso correto do equipamento, até a parte de montagem, operação de máquinas, fabricação, acabamento e ainda tento estimular para que cada um desenvolva seu potencial criativo”, explica.
A produção chega à média de 15 móveis por mês, dependendo da demanda. Todo o trabalho é feito na fábrica instalada dentro da própria unidade prisional. Além do CRC, o Presídio Estadual Metropolitano I (PEMI) e o Centro de Recuperação Penitenciário do Pará II (CRPPII) também contam com marcenarias para capacitação dos detentos.
"O trabalho desenvolvido pelos internos tem uma qualidade muito boa. Um dos nossos principais objetivos com o projeto, além da profissionalização, é buscar sempre o resgate da autoestima e a valorização enquanto cidadão, para que os mesmos se sintam encorajados a retornar à vida social”, finaliza a gerente da Divisão de Trabalho e Produção da Susipe, Izabel Ponçadilha.