Adolescentes do Centro Socioeducativo Feminino iniciam oficinas para geração de renda
Lenços, camisetas e até bonecas. Dar nova vida a estes objetos com a técnica da pintura em tecido é a nova atividade que vem sendo desenvolvida no Centro Socioeducativo Feminino (Cesef) localizado em Ananindeua, a partir de oficinas oferecidas pelas servidoras às adolescentes internas da instituição. Com duas turmas de quatro alunos cada, as oficinas tem auxiliado a mudar as formas de visão de mundo das meninas, além é claro, de gerar uma fonte de renda nova e criativa.
A unidade, gerenciada pela Fundação de Atendimento Socioeducativo do Pará - Fasepa, disponibiliza turmas nos turnos da manhã e da tarde, de segunda a sexta-feira, onde as adolescentes aprendem as técnicas e utilizam de criatividade para criar diversos produtos. A ideia é garantir uma atividade de arte e lazer, deixando de lado qualquer ociosidade dentro da unidade socioeducativa, além de impedir o surgimento de conflitos, uma vez que as adolescentes trabalham juntas, acompanhadas por arte educadores e monitores.
Muitas adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, explicam que nunca tiveram contato com qualquer tipo de oficina que pudesse garantir uma geração de renda para elas. Os seus relatos mostram a dificuldade em conseguir adquirir pequenos artigos de necessidades pessoais, e por isso acabaram sendo levandas para a criminalidade e por consequência, até uma unidade de internação. As oficinas chegam então com o objetivo de mudar esse quadro, garantindo uma fonte de renda por meio da oficina de pintura em tecido onde elas criam produtos para venda, possibilitando a compra de produtos para ser utilizados nas unidades, como kits de beleza, por exemplo.
A adolescente Maria*, de 17 anos, está há 11 meses na unidade de internação. Ela explica que a oficina de pintura em tecido está ajudando a esquecer os erros cometidos e a se preparar para o futuro. quando sair da medida de internação. “Eu gosto da unidade porque ocupa a minha cabeça, mente vazia só atrai coisa ruim. Eu gosto de pintura, grafite e penso em sair daqui para ganhar um dinheiro com isso. Vai ser melhor do que fazer nada ou fazer alguma coisa errada de novo”, entusiama-se.
Carla*, de 16 anos, conta que nunca havia realizado esse tipo atividade, nem mesmo quando estava em liberdade. Ela diz que as oficinas de pintura e de produção de bonecas são as que mais gosta de fazer. “Nunca tinha feito isso antes, aprendi tudo aqui. Eu gosto das aulas porque a gente aprende uma coisa diferente. Gosto de fazer pintura e bonecas como aquela ali em cima”, exemplifica apontando para uma de suas produções.
A arte educadora do Cesef, Raimunda Matos, é quem coordena as atividades de pintura em tecido e demostra satisfação ao falar de suas alunas. Segundo a servidora da Fasepa, as adolescentes evoluem a cada dia, com um trabalho que surpreende até mesmo a ela. “No começo algumas meninas não gostavam das atividades, mas a gente não pressionava, porque para trabalhar com pintura tem que ter vontade de vir. Agora eu vejo essas mesmas adolescentes que não gostavam, evoluindo. Quando eu chego na unidade elas ficam ansiosas para começar logo com a oficina e fazem coisas bonitas, que eu confesso: não esperava”, revela.
“A gente começou com o material que tinha aqui, trabalhamos com a pintura em tecido, mas também fazemos outras coisas como sandálias e até mesmo capinhas para celular para vender. Com o dinheiro, a gente consegue repor todo o material utilizado. Eu me sinto muito bem com esse trabalho. É muito gratificante para mim porque a gente vê essa produção toda e fica feliz com o fruto desse trabalho”, completou Raimunda.
De acordo com a gestora do Cesef, Alessandra de Almeida, o trabalho desenvolvido é planejado em conjunto com o setor pedagógico da unidade, que seleciona as adolescentes interessadas e com condições de participar das oficinas desenvolvidas no espaço. “Montamos um cronograma bem organizado para saber quais meninas levar para a oficina. Os técnicos acompanham todas as adolescentes em suas atividades, o que torna o trabalho tranquilo para nós e para as socioeducandas”, observa.
Alessandra também ressalta ainda que a oficina garante uma mudança de comportamento das adolescentes que, na maioria das vezes, chegam agitadas e inconformadas. “Aqui é um refúgio para as meninas. Algumas tinham problemas de depressão e começaram a frequentar a oficina, no princípio só olhando, e hoje são as melhores alunas, gostam do que fazem e querem levar isso para fora. A gente percebe que algumas adolescentes tem o dom para a pintura e a oficina tem contribuído muito para o desenvolvimento delas”, finaliza.
As oficinas de pintura em tecido são oferecidas durante todo o período de internação das adolescentes. Cada turma não tem número de vagas limitado, acolhendo as meninas de acordo com o interesse e desempenho de cada uma.
*Nomes fictícios de acordo com o Art. 247 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).