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Serviço de intérprete colabora para cidadania de deficientes auditivos

Por Redação - Agência PA (SECOM)
08/09/2015 12h00

A conversa cheia de gestos durou cerca de duas horas em uma das salas do Centro Dia de Atendimento para Pessoas com Deficiência, da Fundação Papa João XXIII, em Belém. O casal deficiente auditivo Cleidimilson Almeida e Célia Góes procurou atendimento para tentar resolver um conflito familiar. Por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras) eles contaram as dificuldades vividas para a psicóloga Rosângela dos Santos, mas a conversa seria impossível sem a presença da intérprete Célia Regina, que transformava cada movimento das mãos em frases. “A intérprete foi fundamental para que eu pudesse entender, de forma clara, o que eles queriam. Agora podemos fazer um estudo de caso e um plano de atendimento para ajudar essa família”, contou a psicóloga.

O casal conseguiu o serviço de intérprete na Central de Interpretação de Libras do Pará (Cilpa), que funciona no Centro Integrado de Inclusão e Cidadania (CIIC), na capital. Eles frequentemente vão ao espaço solicitar ajuda. Foi lá que Célia obteve informações para a aposentadoria pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), depois de ser diagnosticada com surdez total. Com as mãos, ela explicou que “antes não conseguia resolver nada. Minha família me ajudava, mas nem sempre podiam estar comigo em todos os lugares, agora é bem melhor”, contou.

“A Cilpa é muito importante para nós. Eu não conseguia resolver muitas coisas por falta de informação. É muito bom saber que existe um lugar onde podemos contar com pessoas que nos ajudam”, diz Cleidimilson, que tem dificuldades para ouvir, mas consegue verbalizar algumas palavras.

Superação - A professora Célia Regina é uma das intérpretes da central, mas o trabalho com deficientes auditivos começou há 19 anos, em uma sala de aula da educação especial da Secretaria de Estado de Educação (Seduc). Ela diz que começou a estudar Libras para ajudar os alunos surdos. “Vejo que as pessoas que nos procuram conseguem ser ouvidas e nos veem como a salvação para coisas simples que, para elas, tornam-se complexas pela falta de comunicação. Nosso trabalho é fundamental para garantir a cidadania dessas pessoas”, acredita.

Inaugurada há pouco mais de um ano, e única no Norte do país, a Cilpa tem a missão de minimizar as barreiras de comunicação de deficientes auditivos e surdos por meio da interpretação e tradução da Libras. Já são cerca de 90 pessoas cadastradas na central, que conta com duas intérpretes.

Além do acompanhamento nos serviços de justiça, saúde e cidadania, quem busca o espaço pode ter esclarecimentos sobre os documentos necessários para solicitação de aposentadoria ou tirar a carteira de habilitação. Os serviços prestados compõem o Plano Estadual de Ações Integradas para Pessoas com Deficiência, o “Existir”. A unidade é coordenada pela Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster), em parceria com a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência.

Segundo a técnica de referência da Cilpa, Adriana Sá, o órgão oferece um atendimento humanizado. "Aqui o deficiente auditivo encontra alguém para ouvi-lo, além de conseguir a independência da família. Fazemos cerca de 50 atendimentos por mês, na certeza de que eles voltarão para buscar mais informações. Atualmente recebemos pessoas de Belém e Região Metropolitana, mas queremos expandir o trabalho aumentando a equipe da Central”, explica.

Libras

É considerada surda a pessoa que nasce sem a capacidade de ouvir nenhum som. Por consequência, tem uma série de dificuldades no desenvolvimento da comunicação. Assim, a deficiência auditiva é um défice adquirido, ou seja, a pessoa nasce com uma audição perfeita e a perde devido a lesões ou doenças. Mais de 45,6 milhões de brasileiros declararam ter alguma deficiência, segundo dados do Censo Demográfico 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cerca de 9,7 milhões (ou 5,1%) disseram ter deficiência auditiva. A deficiência auditiva severa foi declarada por mais de 2,1 milhões de pessoas; destas, cerca de 300 mil são surdas.

Até dezembro, 26 servidores que trabalham no CIIC, em Belém, participam do curso de comunicação em Libras na sala da Cilpa todas as quintas-feiras, pela manhã. As aulas estão melhorando o atendimento prestado pelos funcionários do local. “No início eu sentia vergonha de gesticular na frente das pessoas, mas com o tempo a gente acostuma e se apaixona pela Libras. É gratificante a troca de histórias, experiências e até as amizades que construí depois que comecei o curso”, revela Carmem Barreto, que trabalha na agência do Sistema Nacional do Emprego (Sine) especializada no atendimento de pessoas com deficiência.

A professora do curso, Rosa Diniz, explica que a língua de sinais é difícil e que os alunos precisam de dedicação e treino, como no aprendizado de um outro idioma. Dedicada aos estudos desde 2002, ela conta que sentiu vontade de aprender mais sobre a língua quando percebeu a dificuldade dos surdos que freqüentavam a igreja que ela frequentava. “Mesmo sem entender nada, eles faziam questão de ir, por isso fiz questão de aprender libras para ajudá-los e fui eu quem aprendi muito. A sociedade precisa se conscientizar que a única barreira de uma pessoa surda é a comunicação”.

A Cilpa funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, no CIIC, localizado na Avenida Almirante Barroso, 1.765, Marco. Os serviços podem ser acessados pessoalmente na Central de Libras, pelo e-mail [email protected]r e pelos telefones (91) 3277-3674, 3276-1339 e 3277-4214.