Questão racial é debatida em unidades da Fasepa no dia da consciência negra
A socioeducação no Pará é constituída também por jovens negros que já sofreram algum tipo de preconceito. Neste sentido, a programação alusiva ao Dia da Consciência Negra, celebrado nesta sexta-feira (20) nas unidades da Fundação de Atendimento Socioeducativo do Pará (Fasepa), foi marcada pela diversidade étnica e cultural a partir de uma reflexão histórica sobre os desafios e as conquistas do negro no Brasil. As ações são elaboradas em conjunto com os professores da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) que atuam nas unidades da fundação.
Mesmo considerando a miscigenação da população brasileira, muitos adolescentes dizem que já sofreram discriminação por causa da cor da pele. O preconceito, a violência e a pobreza fazem parte da realidade social de muitos jovens que cumprem medida socioeducativa na Fasepa. Ao entrarem no sistema socioeducativo, os jovens preenchem uma ficha de identificação com informações pessoais, entre elas a cor da pele. Dados do Núcleo de Planejamento da Fasepa apontam que até novembro de 2015, 14,79% dos adolescentes se autodeclararam negros, entre 62,97% de pardos e 5,56% de brancos. Outros 16,68% não souberam responder.
“Algumas pessoas olham para a gente de forma diferente pela cor da minha pele, do meu cabelo e do local onde moro. Muitos não querem se sentar do nosso lado no ônibus e às vezes até descem pensando que vou assaltar. Acho isso errado, porque eles têm que ver o que a gente é por dentro. Sou negro e tenho muito orgulho da minha cor, mas lá fora existem pessoas que olham essa situação de forma errada. Aprendi a dar mais valor ainda à minha cultura”, declarou um adolescente de 18 anos, durante a programação no Centro de Adolescente em Semiliberdade (CAS).
A data, que faz referência à morte de Zumbi dos Palmares, é lembrada pela comunidade socioeducativa como uma possibilidade de os jovens recomeçarem nova vida a partir de novas escolhas. Segundo os organizadores, as datas comemorativas são uma excelente forma de despertar consciência social nos jovens e fazer com que eles aprendam a temática sobre diferentes aspectos socioculturais. “Buscamos meios de envolver o adolescente para que ele se sinta estimulado em participar dos debates sobre diferentes temas. Usamos um olhar artístico e conceitos pedagógicos para que favoreçam a compreensão deles sobre o papel decisivo do negro na sociedade brasileira”, explicou a pedagoga da Unidade de Atendimento Socioeducativo (Uase) de Ananindeua, Mônica Figueiredo.
A programação faz parte do projeto Ressignificando Caminhos na Socioeducação, que, em parceria com as secretarias de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster) e Extraordinária de Integração de Políticas Sociais (Seeips), busca promover o reconhecimento e valorização da cultura afro-brasileira. A Uase Ananindeua foi palco de apresentações artísticas e culturais com o Grupo Magia das Cordas, oficinas teatrais e de dança, roda de conversa sobre o preconceito, degustação de comidas típicas e tranças africanas. O CAS fez uma programação com pintura em tela, grafite, roda de capoeira e penteados africanos.
O gestor do CAS, Dirceu Bibiano, chamou a atenção para a importância da data, mas lamentou que questões raciais ainda sejam motivo de discussão e intolerância no Brasil. “É muito importante dialogar sobre esse tema no sentido de criar uma consciência inclusiva e de valorização da população negra. Muitos adolescentes descendem de negros, embora alguns não admitam ser negros. Nesse encontro buscamos resgatar a autoestima, motivá-los para superar as adversidades e conscientizá-los de que não só o negro, mas todos, temos um papel fundamental na sociedade”, ponderou Dirceu, revelando que dos 30 adolescentes que estão no espaço, mais de 20 são negros.