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FEIRA DO LIVRO

Literatura nas cartas é mostrada em sarau para estudantes

Por Redação - Agência PA (SECOM)
22/09/2017 00h00

O sarau literário realizado na noite de quarta-feira (20), no Teatro Estação Gasômetro, no Parque da Residência, atraiu mais de 300 estudantes, de 14 escolas das redes públicas de ensino municipal e estadual, professores e público em geral. O evento integrou atrações da Feira Pan-Amazônica do Livro, que este ano chegou à 21ª edição. O tema da palestra foi “Cartas na vida, literatura nas cartas”, apresentado pela professora e escritora Amarílis Tupiassu, que levantou a plateia ao mostrar esse universo cheio de mistérios, aberto a infinitos passeios.

A professora Amarílis Tupiassu disse como compôs esse roteiro para a plateia: “Quando você fala sobre carta, missiva, epístola, tudo é a mesma coisa”. A palavra carta, que surgiu na Grécia e originalmente significava papel, evoluiu, e na mistura das ramificações gregas e latinas das duas línguas ganhou o mundo, gerando fusão de palavras e mudança de sentidos.

As cartas trouxeram nova vida para o mundo dos livros, e o que se convencionou chamar de literatura epistolar exerce enorme fascínio entre linguistas, pesquisadores, professores e, especialmente, em milhões de leitores cativos desse gênero. “Epístola tem vários sentidos. Um deles, de carta, que vai prevalecer, mas hoje está misturado, e carta acaba sendo também missiva, que se originou no verbo mittere, que significa enviar. A rigor,  missiva é só a carta que você sobrescrita, endereça, envelopa, sela e manda, antigamente por alguém, depois pelo correio, mas hoje, entrou a internet”, destacou Amarílis Tupiassu, ao falar também da evolução tecnológica que veio lenta, vista com a chegada do telefone e fax. “Veio o telefone, primeiro para pequenas distâncias, depois para grandes, e ele vira meio para o fax. Hoje temos o celular. Estamos numa nova era, na qual a carta começa a se transformar, na qual você não fala mais em carta e, sim, no e-mail”, acrescentou.

As colocações feitas por Amarílis Tupiassu enfatizaram as dimensões nas quais a palavra carta se expande. “Por isso, minha fala aponta para esse título ‘Carta, insubmisso antigênero ou quando o gênero se desfoca’. Quando você fala em epístola, fala, por exemplo, das epístolas das prisões, das epístolas sagradas, e daí já se perde o sentido de carta. Ela passa a ser mensagem. Mas a literatura epistolar é usada para carta, pois é mais eufônica do que se dizer literatura missívica”, disse a professora.

Grandes autores - Na segunda parte da palestra, Amarílis Tupiassu fez um roteiro de grandes autores que marcam esse gênero literário, como o alemão Rainer Maria Rilke e suas cartas a um jovem poeta; Anne Frank, a menina judia alemã famosa por seu diário de guerra, no qual escreve cartas para um personagem imaginário; os temas políticos da correspondência mantida entre os pensadores alemães Karl Marx e Friedrich Engels; as cartas do escritor irlandês James Joyce a Nora, e do português Fernando Pessoa para Ofélia, explodindo de amor e contradições, como as cartas do escritor tcheco Franz Kafka, e de memórias de “Querido Ivan”, do paraense Haroldo Maranhão.

Ela ainda citou a carta na música, outra banda dessa escrita, e citou na palestra, como exemplo das “cartas de favor”, o samba “Antonico” (1950), de Ismael Silva, no qual pede ao personagem Antonico que socorra Nestor, “que está na pior”. Uma carta que poderia ser escrita por qualquer um nos dias de hoje.

A carta é um baú de insuspeitos desejos, que pode vir carregada de tons dramáticos e eróticos, e de aventuras. Quem ler as cartas de Pero Vaz de Caminha sobre a chegada ao Brasil poderá entender o que foi o olhar de um europeu à liberdade e nudez do índio. Cartas remetidas ou publicadas revelam os desejos humanos a quem interessar possa.

Amores e intrigas - Depois da palestra da professora Amarílis Tupiassu, entraram em cena os atores Waldiney Velascos e Maía Monteiro, da Cia. do Sarau. Eles apresentaram performances dos livros “Ligações Perigosas”, do francês Choderlos de Laclos, romance epistolar do século XVII, que foi levado às telas de cinema e ganhou versão em uma série da TV Globo, e outras tantas adaptações para teatro e cinema.

“Ligações Perigosas”, marco da literatura libertina, conta a história de um homem que deseja seduzir uma mulher casada e muito religiosa, a quem quer ter como amante. Toda a história é contada por meio de cartas.

A Cia. do Sarau recriou uma cena de “Cartas de amor de Edith Piaf”, cantora considerada uma legenda da música romântica francesa, que muito sofreu por amor. O sarau durou mais de duas horas e segurou a plateia até o final, quando foram sorteados livros e outros brindes, tendo à frente a apresentadora do evento, Betty Dopazzo.

O Sarau literário fechou mais uma programação da Feira Pan-Amazônica do Livro, promovida pelo Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult). O evento no Teatro Gasômetro foi feito em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc).