Reutilização da água é uma das saídas para evitar o desperdício
A conscientização sobre o uso da água sempre foi uma necessidade. Ainda mais diante de reservatórios secando em outras regiões brasileiras. O Norte possui a maior bacia hidrográfica do mundo, a Bacia Amazônica, com uma extensão de 6.110.000 Km². Além disso, estudos recentes da Universidade Federal do Pará (UFPA) apontam para um novo reservatório subterrâneo, com 86.000 km³ na região amazônica, que teria a capacidade de abastecer o mundo por 100 anos.
O professor doutor da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Otávio Cascaes Dourado, também desenvolve pesquisas sobre recursos hídricos e seu uso sustentável em todas as áreas, entre elas, indústrias, residências e prédios. Segundo ele, o aquífero de Alter do Chão, que hoje é chamado de "Grande Amazônia" e envolve o Pará, Amapá e Amazonas, é comprovadamente o maior do mundo. O potencial é grande, tanto a área da superfície (rios e lagos), como na parte subterrânea.
"Este aquífero será uma grande saída, no entanto, quando a gente começa a fazer o uso da água subterrânea, ele precisa ser muito mais cuidadoso pois, se houver um descontrole ou uma possível poluição, o retorno e renovação desta água para as condições iniciais é muito mais difícil do que em um rio. O aquífero possui o seu próprio ciclo de abastecimento, que deve ser respeitado”, explica o professor.
Otávio também alerta que conservar a qualidade da água dos rios amazônicos deve fazer parte da educação da população. “Aí nos entramos nos três R da sustentabilidade ligados à água: reduzir, reutilizar e reciclar. O primeiro passo para que seja feito uso racional da água é entrar com uma medida de redução do consumo, por isso as políticas de educação ambiental são muito importantes".
De acordo com ele, o problema do Sudeste, por exemplo, chegou ao ponto da população não poder usar a água. Para ele, uma das vantagens da região Norte é a possibilidade de aproveitar a água da chuva, que muitas vezes é perdida. "Hoje utilizamos água potável no banheiro, o que considero um completo desperdício. Já existem vários modelos de captação de água da chuva para uso doméstico disponíveis no mercado e isso precisa ser mais divulgado”, completa.
Dentre os trabalhos desenvolvidos pelo professor está um projeto para criar um sistema de captação de água da chuva no Centro de Ciências Naturais e Tecnologia (CCNT) da Uepa. A ideia ainda está em fase inicial de planejamento.
Bons Exemplos
A veterinária Lenise Oliveira, 49, decidiu adotar um modo de vida sustentável, criando o seu próprio sistema de captação de água em sua casa, no bairro da Pedreira, em Belém. Tudo foi projetado para aproveitar os recursos da natureza. Entradas para a luz solar e ventilação, que economiza luz elétrica, além de um sistema de calhas espalhados por todo o telhado.
“Eu resolvi construir o sistema pela preocupação com este bem natural que, muitas vezes, é desperdiçado sem a menor responsabilidade. Na verdade, toda a minha casa foi construída pensando em não desperdiçar nada. Aqui tudo foi construído pensando em um modo de vida sustentável. Por isso, privilegiamos, ao máximo, a luz solar e a ventilação”.
Lenise acredita que alguns condomínios talvez possuam sistemas de captação de água, mas essa deve ser uma ideia mais divulgada para que as pessoas tomem consciência. A água da chuva que cai no telhado é colhida pelo sistema de calha, que é captado por duas caixas d’águas. "A água da cisterna é conectada às torneiras, daí eu uso essa água para lavar o chão, lavar a louça, regar as plantas e dar descarga. Eu me orgulho de dizer que eu não gasto um pingo de água externa para regar as minhas plantinhas, aqui tudo é ecológico”, relata a veterinária, enquanto mostra o engenhoso sistema de captação.
O exemplo de sustentabilidade também é seguido na Escola Estadual de Ensino Fundamental Dr. Carlos Guimarães, situada no bairro da Marambaia, em Belém. Há quatro anos, a escola possui um sistema de captação de água da chuva que já ajudou a reduzir os custos de consumo em 30%.
“A diretora anterior fez a solicitação de implantação deste sistema na nossa última reforma e nós continuamos a ideia. Temos um sistema de calhas conectadas a quatro reservatórios que totalizam 400 mil litros de água. Toda a água armazenada é utilizada para a limpeza da escola e também na nossa horta”, explica a vice-diretora, Maria Ferreira.
A horta regada com a água da chuva já faz parte da merenda escolar, assim como as lições sobre o uso sustentável da água. “Nos preocupamos em repassar aos professores e alunos a ideia do uso sustentável da água para que eles também possam fazer o mesmo em casa”, diz a vice-diretora.