Bombeiros: soldados a serviço da preservação da vida
Além das comemorações pela data, o Dia do Bombeiro Brasileiro (2 de julho) também é marcado pelas histórias daqueles que escolheram dedicar a sua vida para salvar o outro. As primeiras inspirações podem surgir ainda na infância ou mesmo pela oferta de uma carreira segura no serviço público. Seja qual for a opção, a profissão de bombeiro militar é muito especial. Em Belém, o Corpo de Bombeiros Militar (CBM) mantém o projeto Escola pela Vida (PEV) que envolve 2.630 crianças e adolescentes da Região Metropolitana de Belém. Vários deles já sonham em seguir a carreira militar devido os ensinamentos adquiridos durante o projeto.
Cauã Castro, de 16 anos, é morador do bairro da Sacramenta e integra o projeto desde os 14 anos. Ele conta como o PEV tem mudado a sua vida nos últimos dois anos. “Eu tive conhecimento da inscrição por meio da Escola Estadual Esther Bandeira. O projeto ainda não tinha chegado ao meu bairro naquela época, mas eu já conhecia e queria muito participar. Eu já fui aluno do básico, fui xerife, comecei a ensinar o que eu aprendi aos mais novos e agora sou o segundo monitor. Já subi três patentes e eu espero continuar ajudando as outras crianças que ainda vão entrar no PEV. Meu sonho sempre foi ser bombeiro e descobri que quero ser músico da banda da corporação. Já estou estudando música e tenho o apoio dos componentes do grupo”, conta o estudante.
Com cinco meses de projeto, Alan da Silva, 11 anos, vê no Corpo de Bombeiros um futuro e ao mesmo tempo uma realização para a família. Criado pelos avós e tios, o menino do bairro da Marambaia também sonha em seguir a profissão. “Meu avô e meu tio são militares do Exército, então eles sempre se esforçaram para minha educação. Eu senti que muitas coisas foram mudando e hoje estou mais dedicado na escola, aprendi a acordar cedo e organizar as minhas coisas. Eu quero ser um bombeiro e, se der, também quero ser músico. Aqui, a gente não aprende só o combate ao incêndio, a gente também fala sobre organização, família, drogas e violência. Eu gosto de fazer parte do grupo”, conta Alan.
Fortes emoções - Para os bombeiros mais experientes, quando o assunto é relembrar a própria história, a mesma frase se repete a cada fala: a satisfação em salvar vidas.Com 31 anos de serviços prestados à corporação, o major Antônio Souza entrou no Corpo de Bombeiros por influência de um amigo. “Eu nem sabia como era o serviço, mas hoje eu digo que foi a melhor opção da minha vida. Nós temos a satisfação e a nobre missão de salvar vidas”, lembra.
O militar já vivenciou muitas histórias e algumas marcaram a sua trajetória profissional. “O desabamento do edifício Raimundo Farias, em 1987, e também o naufrágio do navio Correio do Ariri, em 1988, foram situações muito fortes em que o papel do bombeiro foi fundamental”, relembra o major, que além de seguir a carreira militar se graduou em Serviço Social e Matemática, atuando ativamente nos projetos sociais desenvolvidos pela instituição.
Com apenas oito anos de carreira, o tenente Rodrigo Monteiro, 29, também se tornou bombeiro sem saber muito sobre a profissão. Interessado na estabilidade oferecida pela carreira, ele descobriu uma vocação que mudou sua vida. “Eu era universitário e lembro de ter visto um anúncio para o concurso público dos bombeiros. Alguns amigos me falaram que as vantagens eram boas e decidi estudar e fazer a prova. Passei e só quando cheguei aqui fui realmente saber da complexidade deste trabalho. A gente treina e se dedica muito para garantir – na hora de uma emergência – a vida e a integridade do patrimônio de alguém que está em risco. É um trabalho intenso, mas recompensador”, diz o tenente.
Entre as missões que mais lhe marcaram estão duas situações de incêndio em Belém, uma delas com vítimas fatais. “Infelizmente existem algumas ocorrências em que a gente não consegue chegar a tempo. Eu fiquei muito emocionado numa situação em que duas idosas morreram sufocadas com a fumaça de um incêndio. Nós chegamos o mais rápido possível, mas mesmo assim não foi possível salvá-las. Essa foi a primeira vez que presenciei um incêndio com vítimas fatais. A gente sente muito, pois estamos ali com os parentes, amigos e também, por um momento, invertemos os papéis e imaginamos como seria se fosse um parente nosso”, revela o tenente.
Outra situação narrada pelo bombeiro envolveu o salvamento de duas crianças que quase se feriram por conta da irresponsabilidade dos pais. “Nós salvamos duas crianças, uma de 5 e outra de 7 anos, que foram deixadas sozinhas em casa com um galão de gasolina exposto na sala. Elas começaram um incêndio acidentalmente, mas nós conseguimos chegar a tempo. As duas estavam trancadas no banheiro, estavam assustadas e choravam muito. Nós ficamos muito chateados porque os pais poderiam ter evitado aquela situação, mas ao mesmo tempo comemoramos o fato das duas crianças estarem vivas e sem ferimentos”, relata Rodrigo Monteiro.
Atualmente, quase três mil bombeiros compõem o efetivo paraense distribuídos pela capital e interior do Estado. Para prestar o serviço de resgate e primeiros-socorros, somente na Região Metropolitana mais de 100 militares estão disponíveis para ação.