Acidentes com motor de barcos motivam novas ações de combate nas férias
No mês de férias escolares, quando o fluxo de travessias pelos rios paraenses aumenta consideravelmente, os cuidados com acidentes de motor devem ser redobrados, principalmente junto a crianças e adolescentes. O alerta é da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sespa), que costuma reforçar, nesta época, as ações de prevenção e combate aos escalpelamentos. Atitudes simples podem evitar ocorrências desse tipo, entre elas manter o cabelo totalmente preso e, preferencialmente, coberto com boné. Além disso, a cobertura do eixo do motor, medida de segurança essencial nesses meios de transporte, é fornecida gratuitamente pela Capitania dos Portos.
Somente entre os meses de julho e julho, três casos de escalpelamento foram registrados. Até então, nenhum caso havia acontecido este ano. O primeiro deles ocorreu em junho, em Portel (Arquipélago do Marajó), envolvendo uma mulher de 30 anos. Os outros dois foram registrados este mês, em Ipixuna do Pará, na região do Rio Guamá, e em São Domingos, na região do Capim. Ambos foram com crianças, uma de sete e outra de oito anos. Até então, São Domingos e Ipixuna nunca haviam registrados casos do tipo.
Todos as ocorrências foram atendidas pela equipe da Santa Casa de Misericórdia, que há nove anos tem sido a maior referência no atendimento às vítimas de escalpelamento no Estado. A enfermeira Socorro Ruivo, coordenadora do Programa de Assistência Integral às Vítimas de Escalpelamento (Paives), tem acompanhado de perto a evolução dos casos. Ela informa que a primeira vítima, de Portel, já recebeu alta e se prepara para o último procedimento. Já a segunda criança, que também já recebeu alta médica, continua albergada no Espaço Acolher.
A última menina, de sete anos, continua internada na Santa Casa. “Ela teve escalpelamento total com escoriamento no corpo e lesão na pálpebra, mas já está estabilizada. Agora ela está sendo preparada para fazer a primeira cirurgia de reparo na parte craniana com o primeiro enxerto”, informa. Depois disso, ela ainda deve passar por pelo menos outros três procedimentos do tipo. Enquanto isso, ela contará com a estrutura e a equipe do Espaço Acolher, que trabalha justamente para dar suporte ao tratamento e garantir evolução das vítimas.
Há 34 anos, a santarena Maria Edna Pereira passou pela mesma situação. Para ajudar o pai, proprietário de um terreno com gado perto de um igapó, no interior de Santarém, ela saiu de barco com o irmão para tirar o capim que havia se formado perto da casa. “Meu irmão jogou a âncora e eu fui tirar a água. Nisso, me abaixei perto eixo e foi quando enrolou meu cabelo”, conta. Na época, ela chegou a passar seis meses no Pronto Socorro de Santarém, até que uma equipe médica dos Estados Unidos, que fazia uma excursão pelo oeste do Pará, realizou as cirurgias necessárias.
“Na época, ainda não existia essa estrutura que tem hoje na Santa Casa. Por isso, acredito que foi Deus quem mandou aqueles homens para lá, porque de outra forma não teria como ter feito todos os procedimentos. Depois um tempo foi que conheci o trabalho do Espaço Acolher. Hoje, com a melhora que tenho sentido, planejo cursar faculdade, mas só quem passou por isso sabe o que é. Se eu pudesse dar um conselho, principalmente para as mulheres, seria sempre para prender o cabelo e não ficar perto do motor. Não custa nada ter cuidado”, aconselha.
Reforço
Para a coordenadora estadual de mobilização social, Socorro Silva, os novos casos acenderam um alerta entre os órgãos envolvidos na prevenção do acidente e na assistência às vitimas. “Até ano passado, havia casos registrados em quatro regiões: Marajó, Tocantins, Baixo Amazonas e Xingu. Com os novos registros, outras duas entraram na lista e isso é um fato importante que vamos sempre considerar. Além disso, mostra que precisamos reforçar a prevenção, sobretudo nas pontas, que são os próprios municípios”, observa.
Além da Secretaria de Saúde, os demais órgãos da Comissão Estadual de Erradicação dos Acidentes com Escalpelamento vão intensificar as ações de sensibilização neste segundo semestre. E para isto, um cronograma de ações foi montado para a distribuição de cartilhas, cartazes e fôlderes, além de reuniões com gestores municipais. Ao longo do mês, mais de dez municípios receberão as ações. São eles: Breves, Curralinho, Muaná, São Sebastião da Boa Vista, Melgaço, Portel, Gurupá, Igarapé-Miri, Limoeiro do Ajuru, Cametá, Afuá, Anajás e Chaves.
O Marajó novamente terá uma atenção especial nas ações. A ilha, composta por 16 municípios, historicamente apresenta o maior número de escalpelados. Segundo Socorro Silva, cerca de 50% dos casos acontece na região. “Além disso, a maioria das vítimas são mulheres, crianças ou adolescentes”, informa. Com o envolvimento dos parceiros e a intensificação das ações de mobilização, o objetivo é reduzir o número e acidentes em relação a 2014, quando 11 casos foram registrados, todos no segundo semestre. Um deles fez uma vítima fatal, em Muaná.
Um balanço divulgado recentemente pela Secretaria Estadual de Saúde, por intermédio da Coordenadoria de Mobilização Social, aponta que, mesmo com o registro da morte, a avaliação ainda é positiva em relação a anos anteriores. Em 2009, por exemplo, foram 23 casos registrados no Estado. De lá pra cá, a média tem se mantido em 10. Os municípios de Curralinho e Portel são os apresentam uma maior incidência de escalpelados. Entre 2009 e 2014, foram nove casos registrados em Curralinho e outros oito em Portel.
ORIENTAÇÕES PARA EVITAR ACIDENTES
- Manter os cabelos totalmente presos, em forma de “coque/pito”, e não em forma de “rabo de cavalo”, e preferencialmente cobertos com bonés;
- Não se aproximar do eixo da embarcação, mesmo que ele esteja coberto, seja apara tirar água ou para apanhar algum objeto;
- Deixe para resgatar objetos quando a embarcação estiver totalmente parada e com o motor completamente desligado;
- Cobrar do barqueiro a cobertura do eixo e do poder público local a fiscalização;
- Tenha sempre muito cuidado com colares, cordões ou panos de pescoço, pois muitos acidentes acontecem quando eles se prendem ao motor;
- Não armar rede perto do motor, para evitar o risco de acidentes.
COMO AGIR EM CASO DE ACIDENTE
- Não coloque remédio ou qualquer outra coisa no ferimento
- Cubra a área lesionada com um pano limpo;
- Leve a vítima ao hospital ou unidade mais próxima