Realidade virtual muda a rotina de reabilitação e devolve autonomia a pacientes no Hospital Galileu
Tecnologia passa a ser aliada às sessões de Terapia Ocupacional, ampliado as possibilidades de estímulo e engajamento dos pacientes
No Hospital Público Estadual Galileu, na Grande Belém, a tecnologia tem se tornado uma aliada importante para quem enfrenta o longo caminho da recuperação após um trauma ortopédico. Entre exercícios, movimentos reaprendidos e desafios diários, pacientes como Marisa Santos Avelar descobriram na realidade virtual uma forma diferente — e mais leve — de reconquistar funções perdidas e retomar a própria autonomia.
A autônoma de 45 anos chegou ao Galileu depois de um acidente doméstico que aconteceu “um dia depois do meu aniversário”, como lembra com franqueza. “Escorreguei no banheiro, caí com o punho direto no box de vidro e quebrou tudo. Rompeu tendões do antebraço. Precisei de cirurgia e depois fiquei meses com a mão imobilizada”, relata. Quando voltou a mexer o membro, já na fase de reabilitação, foi encaminhada à Terapia Ocupacional do hospital — onde conheceu uma abordagem que nunca imaginou utilizar.
Avanço - A introdução da realidade virtual no setor tem ampliado as possibilidades de estímulo e engajamento dos pacientes. O terapeuta ocupacional Helder Fares explica que a tecnologia foi incorporada como um recurso complementar às práticas tradicionais, especialmente para quem enfrenta sequelas em membros superiores.
“No Galileu, usamos a realidade virtual como ferramenta para simular atividades funcionais, como alcançar, segurar e movimentar objetos. Tudo é planejado e supervisionado, ajustando o nível de dificuldade conforme o desempenho do paciente. Essa estratégia melhora a amplitude de movimento, coordenação e favorece o retorno às atividades da vida diária”, detalha.
Ele reforça que o objetivo principal não é substituir técnicas convencionais, mas potencializá-las. “A tecnologia motiva, engaja e diminui o medo do movimento. Os pacientes percebem resultados rápidos e recebem feedback visual imediato, o que aumenta muito a autoconfiança. Observamos melhora da manualidade, mais participação do membro afetado nas tarefas e um impacto positivo até na percepção da dor. É um recurso que torna o processo mais dinâmico e mais humano”, complementa.
Experiência - A primeira experiência de Marisa com o equipamento foi marcante. “Parecia que eu estava num buraco negro, perdida no espaço”, brinca. “É bem diferente do atendimento tradicional, mas muito bom. A gente se distrai, engaja mais e até esquece que está sentindo dor.”
Ela conta que, ao participar das atividades, sentiu mudar a percepção de esforço e notou melhora progressiva na amplitude e na força do movimento. “Depois de alguns atendimentos, percebi que conseguia pegar coisas que antes eu deixava cair. Em casa já faço muita coisa sozinha. Do meu jeito, devagar, mas faço. Antes eu dependia dos outros pra tudo.”
Equipe - A equipe seleciona para esse tipo de atendimento pacientes que já possuem algum grau de funcionalidade nas mãos, já que o recurso exige coordenação fina para manipular os controles. A proposta é incentivar habilidades bimanuais, reduzir a dor associada ao movimento e estimular a confiança na retomada das atividades cotidianas.
Para muitos, o caráter lúdico da tecnologia é justamente o que mantém o interesse. “Essa possibilidade de explorar outros ambientes, de não ficar só no mesmo exercício, ajuda muito. Dá vontade de vir”, conta Marisa.
O diretor executivo do HPEG, Cledes Silva, explica que a tecnologia chegou para fortalecer um modelo de cuidado que coloca o paciente no centro. “A realidade virtual não é apenas inovação; ela representa empatia aplicada ao cuidado. Quando um paciente percebe que pode se movimentar com menos dor, que pode participar de forma ativa da própria recuperação, isso muda tudo. A tecnologia potencializa o que nossa equipe já faz com excelência: devolver autonomia com respeito, sensibilidade e técnica”, afirma.
Marisa diz que o namorado acompanhou de perto o processo e percebeu a evolução no dia a dia. “Ele via meu sofrimento. Hoje ele vê que, mesmo com algumas limitações, eu faço muita coisa sozinha. Isso não tem preço.” O ganho de independência, segundo ela, é o maior incentivo para continuar. E para quem está começando agora, deixa uma mensagem simples, mas cheia de peso: “Continue. Não desista. Tem gente que para no meio do caminho, mas a Terapia Ocupacional é muito boa. Me ajudou bastante.”
O Hospital Público Estadual Galileu é uma unidade do Governo do Pará, especializada em trauma ortopédico, e é gerenciada pelo Instituto de Saúde Social e Ambiental da Amazônia (ISSAA).
Texto: Roberta Paraense
