Setur reconhece criatividade de embarcações que participaram do Círio Fluvial
Este ano, o design da premiação mereceu atenção especial, fazendo uma releitura do Altar-Mor da Basílica Santuário (conhecido como Glória), que acomoda a imagem original de Nossa Senhora de Nazaré

Centenas de embarcações navegaram em cortejo pela romaria fluvial do Círio de Nazaré. A fé que marca a quadra nazarena foi celebrada, nesta quarta-feira (22), com a cerimônia de entrega do Prêmio Carlos Rocque pela Secretaria de Estado de Turismo (Setur), que reconheceu os destaques na ornamentação das embarcações na 38ª edição do concurso. A solenidade ocorreu no Instituto de Ciências da Arte (ICA/UFPA), em Belém, e reuniu premiados, jurados, autoridades e familiares.
Este ano, o design da Premiação Carlos Rocque mereceu atenção especial, fazendo uma releitura do Altar-Mor da Basílica Santuário (conhecido como Glória), que acomoda a imagem original de Nossa Senhora de Nazaré, encontrada pelo caboclo Plácido. Foi criado um adorno em metal polido em tons de dourado, com resplendores no formato de raios, sobreposto por um círculo vazado de nuvens de anjos, coroando Nossa Senhora e ao centro da peça destaque para a Rainha da Amazônia e Padroeira do Pará.
A romaria fluvial deste ano foi avaliada por uma comissão formada por especialistas de diferentes áreas: o pesquisador de arte sacra Max Santos; o presidente da ABAV-PA, Alex Flávio; a designer Débora Goldenberg; a professora de Turismo da UFPA, Alessandra Arnund e a turismóloga e cerimonialista Luciana Mendes. Os jurados atribuíram notas de um a dez em critérios como ornamentação religiosa, postura da tripulação, cumprimento de horário, trajeto do cortejo, segurança de navegação e obediência às normas da Capitania dos Portos.

Em discurso, o secretário de Turismo, Eduardo Costa, destacou o peso econômico e cultural do Círio e a novidade do troféu deste ano, de concepção mais contemporânea e artesanal. “Tivemos um crescimento de cerca de 12,5% no número de visitantes durante o Círio, algo em torno de 100 mil pessoas e uma movimentação econômica próxima de 100 milhões de dólares. Isso mostra a importância dessa tradição para a geração de emprego e renda no Estado. Este prêmio, além de homenagear, valoriza o nosso artesanato e a criatividade local”, afirmou Costa.
O caráter coletivo e emocional da romaria também foi ressaltado pelo coordenador do Círio, Antônio Sousa, e pelo Capitão de Mar e Guerra Alexandre Batista Pimentel, que elogiou a condução responsável das embarcações durante o cortejo, destacando a colaboração entre organizadores, tripulações e órgãos de segurança. “Fomos abençoados com uma romaria segura e organizada. Agradeço a todos os que conduziram suas embarcações com responsabilidade e fé. Essa união é o que faz da Romaria Fluvial um momento tão especial e abençoado”, disse.

O coordenador do Círio de Nazaré, Antônio Sousa, ressaltou a importância do trabalho coletivo que torna possível a grandiosidade da romaria. “São muitas mãos envolvidas, milhares de pessoas que contribuem para que essa manifestação de fé aconteça com tanta beleza e segurança. É uma alegria enorme ver que, ano após ano, essa tradição continua firme, com o empenho e a devoção de todos os participantes”, declarou.
Nas muitas histórias humanas que acompanham a romaria, surgem trajetórias de dedicação e trabalho em família. Mário Ishiguro, que conquistou o segundo lugar na categoria B - “Outros Tipos de Embarcações” com o barco “Rio Gurupatuba”, fez questão de falar sobre esse legado. “Já ganhamos a premiação no passado e participamos da Romaria há mais de 20 anos. O trabalho é de família: as nossas filhas cuidam da ornamentação e a nossa decoradora foi premiada também no ano passado. Procuramos adaptar o tema do Círio da forma mais verdadeira possível. É um trabalho coletivo, de muitas mãos. Participar há tanto tempo é indescritível; emociona, representa conquistas e nos enche de orgulho”, disse, emocionado.

A primeira colocação na categoria Embarcações Regionais ficou com “Cidade de Santarém II”, representada por Edna Rocha. Ela reforçou o significado da romaria e o tema escolhido para a embarcação: sustentabilidade e respeito à natureza. “Foi um grande prazer receber os romeiros a bordo, muitos vindos de outros Estados. Levamos este ano um tema voltado à sustentabilidade, reforçando a importância de cuidar da natureza e valorizar a criação de Deus. Foi uma romaria abençoada por Nossa Senhora de Nazaré”, contou.
Na categoria "Outros Tipos de Embarcações", o pódio foi composto por: "Amazonas III" (1º lugar), do proprietário José Maria Martins; "Rio Gurupatuba" (2º lugar), de Mário Ishiguro e família; e "Rita Helena" (3º lugar), de Neuzivane Ferreira e Maria José. Já na categoria "Embarcações Regionais", além da vencedora "Cidade de Santarém II", o segundo lugar ficou com a "Cidade de Terra Santa" (representada por Cláudio Sobrinho e decoração de Sheila Damasceno) e o terceiro, com a "Ana Beatriz III" (de Edilson Melo Pinheiro e decoração de Márcio Damasceno).
A designer de interiores e jurada Débora Goldenberg, que participou pela primeira vez da avaliação, classificou a experiência como emocionante: “Foi emocionante. As embarcações estavam lindas, com muita criatividade e devoção. Foi um desfile não apenas decorativo, mas de fé, alegria e religiosidade. Fiquei encantada em participar”, comentou.

Ao final da cerimônia, a Setur agradeceu a parceria com os órgãos que garantem a segurança e a organização do evento, entre eles a Capitania dos Portos da Amazônia Oriental, a Marinha do Brasil e a Diretoria da Festa de Nazaré, e ainda agradeceu à família de Carlos Rocque pelo apoio à manutenção do prêmio, que celebra há quase quatro décadas a tradição e o ofício dos que ornamentam as embarcações.