HC realiza procedimento inédito para tratar dilatação da aorta, a principal artéria do corpo
Hospital de Clínicas é referência em cardiologia na Amazônia e inova com técnica moderna, de alta complexidade, ampliando as alternativas de tratamento para pacientes do SUS
O Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (HC), referência em cardiologia na Amazônia, realizou um procedimento inédito de correção de aneurisma toracoabdominal com endoprótese confeccionada em bancada, uma técnica endovascular de alta precisão que adapta o dispositivo às características anatômicas específicas do paciente antes da implantação.
O aneurisma toracoabdominal é uma dilatação anormal da parede da aorta – principal artéria do corpo humano –, que percorre o tórax e o abdômen. Essa dilatação enfraquece a parede da artéria e aumenta o risco de ruptura, o que pode causar uma hemorragia interna grave.
A endoprótese é um dispositivo semelhante a um tubo flexível, revestido com material sintético, que é colocado dentro da aorta para reforçar sua estrutura e restaurar o fluxo sanguíneo normal.
Domínio de conhecimento e segurança - No caso realizado no HC, o diferencial foi a confecção em bancada – processo no qual os especialistas ajustam manualmente o dispositivo, fora do corpo do paciente, com base em imagens de tomografia e angiografia, personalizando o encaixe e garantindo maior segurança durante o implante.
Segundo o cirurgião endovascular Adib Koury, responsável pelo procedimento, a adaptação prévia permite minimizar riscos, como vazamentos ou oclusões de ramos viscerais, que podem comprometer órgãos vitais.
“Este é um marco para o HC e para o Pará. Conseguimos reunir as condições técnicas, a equipe especializada e os recursos necessários para confeccionar uma endoprótese sob medida, em bancada, com toda segurança”, explicou o doutor Koury, destacando o caráter pioneiro da técnica.
O médico ressalta que a inovação reforça o papel do HC como hospital público de ensino e pesquisa de alta complexidade, vinculado ao SUS, que busca constantemente aprimorar práticas e expandir o acesso a procedimentos avançados.
“Quando conseguimos desenvolver esse tipo de técnica num hospital público, mostramos que é possível oferecer o que há de mais moderno e seguro em medicina cardiovascular, beneficiando pacientes que antes precisavam ser transferidos ou até não teriam acesso a esse tipo de tratamento”, acrescenta Koury.
Humanização e pioneirismo - O paciente submetido à técnica inédita foi João Pereira dos Santos, de 66 anos, aposentado, morador de Portel, na Ilha do Marajó, que foi acompanhado de perto pela filha, Marta Miranda, 28 anos, professora.
Marta conta que o pai já havia sido operado no HC em 2020, quando tratou um aneurisma na aorta. Após alguns anos de estabilidade, novas dores e exames revelaram a necessidade de um segundo procedimento, ainda mais complexo.
“O papai foi operado em 2020 de um problema de aneurisma na aorta. Ele ficou bem, foi feito o procedimento aqui mesmo no hospital. Só que em 2022 para 2023 a gente descobriu novamente que o aneurisma era muito extenso e que ele teria que fazer um novo procedimento. Nos orientaram a dar entrada na regulação porque esse tipo de cirurgia não tinha no Pará. Estávamos aguardando, mas recentemente o papai teve muitas dores e tivemos que vir de novo para Belém”, relatou Marta.
“Ele foi atendido na emergência do HC, internaram e cuidaram dele com muito carinho, como sempre. O doutor Adib realizou o procedimento, que a gente sabe que é muito difícil, e nos contou que foi o primeiro desse tipo feito aqui no hospital. Graças a Deus o papai está bem, se recuperando, e em breve vai estar em casa”, completou emocionada.
Ensino e pesquisa - Há cerca de quatro meses, o HC criou o Grupo de Estudos de Doenças da Aorta (GMDA), formado por profissionais das áreas de cirurgia endovascular, cirurgia vascular, cirurgia cardíaca, cardiologia e medicina intensiva. O grupo foi criado para discutir casos clínicos complexos, analisar estratégias de tratamento e promover atualização contínua entre os especialistas.
O caso do aneurisma toracoabdominal tratado com a endoprótese em bancada foi avaliado e discutido pelo grupo antes da realização da cirurgia, o que reforça a importância do trabalho integrado entre as diferentes áreas médicas.
“Essa integração entre especialidades permite uma análise completa e cuidadosa dos casos, favorecendo decisões mais seguras e resultados mais eficientes para o paciente”, destacou o cirurgião.
O paciente evoluiu bem após o procedimento, que foi considerado um sucesso técnico, e seguirá em acompanhamento clínico e por imagem para monitorar a evolução do tratamento.
Com essa conquista, o Hospital de Clínicas Gaspar Vianna consolida-se como referência regional em procedimentos endovasculares de alta complexidade, fortalecendo o compromisso do Governo do Pará em oferecer saúde pública de qualidade, humanizada e inovadora.