Defesa de Trabalhos de Conclusão de Curso da turma Xikrin do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena Uepa/Forma Pará reflete lutas e conquistas
Pesquisas articularam conhecimento acadêmicos e saberes ancestrais do povo Xikrin

A comunidade Xikrin do Cateté viveu um marco histórico no final de setembro, quando sediou a Jornada de Defesa de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) da turma Xikrin do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena, ofertado pela Universidade do Estado do Pará (Uepa), por meio do Programa Forma Pará. O evento, realizado na aldeia Cateté, em Parauapebas, no sudeste do Estado, foi aberto pelos próprios acadêmicos, que cantaram e dançaram, usando suas pinturas e adornos tradicionais. Após as aprovações, os alunos celebraram com cânticos e danças, transformando a conclusão em um ritual de vitória e pertencimento. A mesa de abertura reuniu representantes da Secretaria Municipal de Educação de Parauapebas, caciques, o Cacique Geral, além da coordenação do Núcleo de Formação Indígena (Nufi/Uepa) e da coordenação do curso. A cerimônia de formatura dos estudantes deve ocorrer em novembro.
As defesas trouxeram à tona pesquisas que articularam conhecimento acadêmicos e saberes ancestrais do povo Xikrin. Os trabalhos abordaram temas ligados à Educação Escolar Indígena, questões territoriais e ambientais, fortalecimento da cultura e da língua Mebêngôkre, Jê. A banca examinadora contou não apenas com professores da Uepa e colaboradores externos, mas também com anciãos e sábios Xikrin, incluindo a participação de mulheres da comunidade.
As defesas foram realizadas integralmente na língua materna, reforçando o compromisso com a preservação cultural e linguística. A presença expressiva das famílias confirmou o caráter coletivo da produção do conhecimento. O representante da turma Bep Nikrati Xikrin (Kaique) ressalta a importância da língua nativa para o povo Xikrin: “a nossa língua é muito forte ainda, porque eu particularmente falo minha língua. A gente vive da nossa língua, da nossa oralidade. As crianças também falam. Por isso que esse curso está entrando na nossa aldeia, porque o relato não foi feito ainda, porque oralmente a gente tem a nossa língua, mas falta escrita”.
Segundo a professora Aline Lima, coordenadora do curso, a realização dessa etapa consolida um processo de formação construído em diálogo constante com a comunidade. “O curso acontece na aldeia Cateté, dentro do território Xikrin. É uma formação multidisciplinar pensada para professores que vão atuar nos anos iniciais do Ensino Fundamental, tendo a língua materna como central no processo de alfabetização e a língua portuguesa como secundária”, explicou.
A coordenadora destacou ainda o caráter participativo desde a origem da turma. “O curso de Licenciatura Intercultural Indígena foi demandado pela própria comunidade e iniciou em janeiro de 2022, com 49 alunos. Ao longo do percurso, tivemos algumas desistências por motivos pessoais ou culturais, mas chegamos à defesa com 30 estudantes. Consideramos que essa evasão é baixa, principalmente porque conseguimos manter o objetivo de formar professores comprometidos com a educação de seu povo”, destacou.
Durante os quatro anos de formação, as aulas e estágios aconteceram quase integralmente na Escola Bep Karoti, na aldeia Cateté, onde os módulos uniram teoria e prática sociocultural. “A gente faz a escuta do povo para definir que tipo de formação oferecer. A escolha pelos anos iniciais veio deles, porque entendem a importância da alfabetização na língua Xikrin”, ressaltou Aline.

Com a aprovação dos TCCs, os acadêmicos terão 15 dias para ajustes finais antes do depósito definitivo. Após essa etapa, estarão aptos para colar grau e receber o diploma, coroando uma jornada que uniu os rigores da academia com a força dos saberes tradicionais.
Sobre o Programa Forma Pará
O Programa Forma Pará, vinculado à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica (Sectet), é uma iniciativa do governo do Estado em parceria com instituições de ensino superior. Seu objetivo é ampliar o acesso à educação superior em municípios e territórios com demandas específicas, promovendo inclusão e desenvolvimento regional. No caso da Licenciatura Intercultural Indígena, o programa viabiliza turmas construídas em diálogo com os povos indígenas, assegurando que a formação acadêmica esteja alinhada às necessidades socioculturais de cada comunidade. Dessa forma, contribui para a valorização das identidades, o fortalecimento das línguas maternas e a formação de profissionais capazes de atuar com protagonismo em seus territórios.