Universidade do Estado do Pará (Uepa) promove conscientização sobre saúde mental
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da universidade divulga serviços e reforça a importância dos cuidados preventivos contra doenças psíquicas

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que aproximadamente 20 milhões de brasileiros apresentam algum tipo de transtorno psicológico, cenário que revela um número alarmante de casos relacionados a distúrbios psíquicos, o que aponta para a urgência da conscientização sobre esse tema na sociedade. No mês em que se alerta sobre o Setembro Amarelo, a Universidade do Estado do Pará (Uepa), por meio do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, reforça a importância dos cuidados preventivos com a saúde mental.
O professor da Uepa e médico psiquiatra, André Rodrigues, afirma que é fundamental disseminar informações sobre saúde mental para incentivar a busca de suporte profissional, além de diminuir o preconceito em torno dessa condição e promover a compreensão de que doenças mentais existem e demandam tratamento.
Já o psicólogo Caetano Diniz, psicólogo do Centro de Saúde Escola do Marco da Uepa (CSEM/Uepa) há 17 anos, informa que, na unidade, assim como no mundo inteiro, a maior demanda vem de pacientes diagnosticados com ansiedade ou depressão. Ele adverte sobre a importância de nutrir hábitos saudáveis - como praticar atividades físicas, se alimentar corretamente e ter passatempos para aliviar o estresse, além de relações que auxiliam em momentos de crise: “é preventivo você ter uma rede de apoio social, porque o isolamento sempre vai dificultar o enfrentamento desses desafios diários”, afirmou.
Essas condições mentais têm causas complexas, que podem ser desenvolvidas devido a genética ou traumas, e afetam a qualidade de vida de milhões de pessoas. Por isso, é importante estar atento aos sinais comportamentais, emocionais e cognitivos para procurar um profissional e começar um tratamento.

De acordo com André Rodrigues, os sinais de alerta são variados, sendo os mais comuns a insônia, sensação de ansiedade e tristeza recorrente. Ele afirma que o ideal é buscar ajuda assim que perceber que há algum prejuízo na funcionalidade e na relação consigo mesmo e com outras pessoas. “Além disso, há vários desafios durante o processo terapêutico, como estigma da especialidade, aceitação do diagnóstico e intolerância aos efeitos colaterais dos remédios”, explicou.
No Brasil, a campanha do Setembro Amarelo foi instituída pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em 2013, em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), motivada pelo aumento do número de suicídios ocorridos no país. Além da campanha, o dia 10 de setembro é oficialmente o Dia Mundial da Prevenção contra o Suicídio.
Terapia ocupacional como tratamento complementar
Além das abordagens tradicionais, a terapia ocupacional também pode auxiliar no tratamento de transtornos psicossomáticos por meio de atividades terapêuticas estruturadas para ajudar pessoas com transtornos mentais a desenvolver habilidades, recuperar funções e melhorar sua qualidade de vida.
O professor do curso de terapia ocupacional do CCBS, Lucivaldo Araújo, explicou que as principais formas de atuação incluem o desenvolvimento de habilidades sociais através de atividades em grupo, fortalecimento da autoestima por meio de tarefas que proporcionam senso de realização, estabelecimento de rotinas estruturadas que trazem estabilidade e previsibilidade, desenvolvimento de estratégias de enfrentamento para lidar com sintomas e reabilitação psicossocial para facilitar a reinserção social e profissional.
Visando a promoção do autocuidado, o campus oferece grupos de terapia ocupacional com atenção na saúde mental. Os encontros são supervisionados pela professora Rita Gaspar. Ela ministra a disciplina de saúde mental, e são realizados no Laboratório de Motricidade do Anexo/Bloco D do campus CCBS.
O grupo Encontros que Cuidam se reúne nas terças-feiras e tem como público-alvo adultos e idosos da comunidade; o outro grupo chamado Ressignificando o Luto: Entre Lembranças e Pétalas de Memória, acontece às quintas e tem como público-alvo pessoas enlutadas. Para participar, basta entrar em contato com as acadêmicas de terapia ocupacional Sophia Ribeiro (91) 98231-0105 ou Maria Victória Oliveira (91) 98082-5283.
A frequentadora do grupo de apoio à pessoas enlutadas, Dienne Porfirio, explica que o acolhimento serviu como apoio, por ela não ter com quem conversar sobre seu luto. “À medida que eu vinha para o grupo, fui me expressando e isso foi me aliviando e me deixando bem, hoje estou melhorando”, contou.
Acolhimento promovido pela instituição
Com o intuito de promover um ambiente acadêmico mais acolhedor, a Uepa oferta alguns programas de suporte aos alunos e servidores, como o Serviço de Apoio Psicológico e Pedagógico ao Estudante (SAPPE/CCBS), o Núcleo de Apoio ao Servidor (NAS) e o Núcleo de Assistência Estudantil (NAE).
A partir das inquietações de alguns alunos, Patrícia Neder, psicóloga e professora da Uepa, em parceria com outras docentes, formou um grupo de atendimento, que posteriormente se tornou maior e hoje é o SAPPE/CCBS. Para solicitar o atendimento, é necessário enviar um e-mail para o [email protected] informando o nome, matrícula, curso e indicar um horário para o acompanhamento entre 9h e 14h, de segunda a sexta.
A professora cita os fatores para a sobrecarga mental dos alunos de graduação, principalmente da área da saúde, como carga horária extensa e as exigências do ambiente acadêmico “É necessária essa dedicação. Quando a gente percebe que há essa aceitação de que a escolha envolve também perdas por um lado e ganhos por outro, isso vai fazendo sentido para o nosso aluno”, afirmou.
Khaelson Moura, estudante de medicina e participante do SAPPE, relata que, além de questões acadêmicas, o atendimento o ajudou a lidar com situações pessoais, “a melhora foi global em diferentes aspectos, como a concentração, a relação interpessoal com os demais colegas, a diminuição da sensação do sentimento de comparação constante com o desempenho dos demais colegas”, relatou.
O acadêmico explica que a flexibilidade dos horários de atendimento e a oferta do serviço dentro da instituição, onde os alunos permanecem durante a maior parte do dia, facilita a permanência do acompanhamento. “Eu já tinha tentado fazer psicoterapia em outras instituições particulares também, mas eu não conseguia ter uma continuidade nesses outros serviços, porque meu curso é integral e eles não forneciam essa flexibilidade”, contou.
Além destes, diversos projetos e setores promovem ações para as temáticas abordadas no mês dedicado ao setembro amarelo, no decorrer desse período.
Saúde Digital
O projeto Saúde Digital da Uepa/CCBS irá desenvolver duas webpalestras, abordando a prevenção e tratamento de questões psicológicas. A primeira será no dia 24, com o professor da Uepa e médico psiquiatra, André Rodrigues, às 8h. A segunda palestra será ministrada pelas psicólogas Jennifer Andrade e Camila Marchiotto, e ocorrerá no dia 29, às 11h. As webpalestras estarão disponíveis no link.
Sappe
Objetivando a conscientização sobre transtornos mentais, o Sappe preparou um podcast com a participação das palestrantes Patrícia Neder, Danielle Seabra e Ana Paula Souza, servidoras do Sappe. O programa será transmitido ao vivo e poderá ser acessado dia 26 de setembro, às 8h30, no link.
Centro Saúde Escola do Marco
Para ter acesso aos serviços do Centro Saúde Escola do Marco (CSEM), no Campus II, é necessário realizar o agendamento no centro, portando a carteira de identidade, comprovante de residência e cartão do SUS. Se necessário, pode ser feito encaminhamento para o setor de especialidades da Uepa, localizado no segundo andar da Policlínica Metropolitana, que dispõe de consulta com médico psiquiatra, por meio da regulação. O campus II/CCBS fica localizado na Travessa Perebebuí, 2.623, bairro do Marco, em Belém.
Ueafto
A Unidade da Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Ueafto), no Campus II/CCBS, também oferece atendimento psicológico para os pacientes em reabilitação da unidade que chegam por meio de encaminhamento do Serviço único de Saúde (SUS).
Ampics
No Campus III da Uepa, o Ambulatório de Práticas Integrativas e Complementares de Saúde oferece atendimento gratuito, aberto ao público, por meio de terapias como auriculoterapia e palestras com foco em temas como autocuidado e inteligência emocional. O ambulatório funciona às segundas (9h às 12h) e quintas (14h30 às 17h30). O campus III fica localizado na Av. João Paulo II, 817. Para realizar o agendamento da auriculoterapia, basta preencher o formulário disponível no link.
Campus IV
O Serviço Ambulatorial Multiprofissional de saúde é um projeto de extensão que atende a comunidade acadêmica e realiza consulta de enfermagem com alguns atendimentos iniciais como aferição de sinais vitais, entre outros e, se necessário, faz orientações para locais onde há profissionais da área de psicologia. O campus IV/ Escola de Enfermagem Magalhães Barata fica na Av. José Bonifácio, 1.189, bairro do Guamá.
Texto de Vitória Balieiro, estagiária, sob supervisão de Diane Maués / CCBS / Uepa