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Estado estimula o desenvolvimento da cadeia produtiva do búfalo com respeito às tradições marajoaras

Em municípios como Soure e Cachoeira do Arari – que estão entre os maiores produtores bubalinos – a relação dos moradores com os animais vai além do lado econômico. O búfalo é visto como símbolo da região

Por Rose Barbosa (SEDAP)
03/07/2025 17h50
O ″Alemão″ já se tornou conhecido em Soure e sempre atrai a atenção de turistas que visitam a cidade

Com 680 mil cabeças, o Pará é o maior produtor de búfalos do Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São mais de 14 mil propriedades distribuídas no Estado que contêm criação do animal. No principal centro de produção do Pará, o arquipélago do Marajó, a relação entre os búfalos e os moradores vai além da vida econômica. Em municípios como Soure e Cachoeira do Arari - que são o segundo e o terceiro  maiores produtores, ficando atrás de Chaves -, a referência ao animal pode ser vista em vários cantos.

Flávia tem uma grande estima pelo bezerro batizado pela família de ″Nenenzinho″

No distrito de Retiro Grande, que fica localizado na extensão da PA-154, que dá acesso à sede de Cachoeira do Arari, onde ocorre até esta sexta-feira (4) a 4ª edição do torneio leiteiro, a ligação afetiva com o animal vem de berço. A moradora Flávia Alessandra, de 11 anos, tem um carinho especial pelo bezerro que ela batizou carinhosamente de “Nenenzinho”, de um ano. O animal foi rejeitado pela mãe e acabou sendo “adotado” pela família da jovem, surgindo assim uma ligação com o pequeno búfalo, que é considerado como um membro da família. “Eu gosto bastante dele. Desde mais novo a gente batizou ele assim e agora basta a gente chamar pelo nome que atende”, disse. 

É do búfalo que a família tira o sustento, como diz a avó, Elma Suane Vidal. A renda vem da  fabricação de queijo e doce artesanal que utiliza o leite de búfala. “É através desse animal que a gente tira o leite e transforma em doces e outros produtos. Então ele é tudo para nós”, disse.

Nomes- O búfalo é importante, também, na vida dos que lidam diretamente com o animal. Vaqueiros como os amigos Valdir, Sidney e Luciel, da Fazenda Paraíso, localizada no distrito, garantem que não têm o búfalo apenas como um meio de ganhar renda. Dizem que têm apego e escolhem os nomes para os animais. Na fazenda, cada animal recebe uma denominação e atende quando chamado. “Quadrilha”, “Vila Rica”, “Medalha” e “Batalha” - que é o maior da fazenda, com 1.200 quilos -, estão entre os nomes escolhidos. “A gente conhece o dia a dia deles, se apega. Eles já nos conhecem e gostamos desses animais. É gratificante a vaqueirice porque lidamos no dia a dia com eles. A gente sempre escolhe um animal preferido”, revelou Sidney.

A avó da Flávia, Elma Vidal, diz que tem uma ligação afetiva com os búfalos, pois além do sustento, ele é símbolo do Marajó

Acompanhamento- Os veterinários Anelise Ramos e Augusto Peralta, que são lotados na Coordenaria de Produção Animal da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), e que acompanham os desdobramentos do torneio leiteiro, com visitas a propriedades locais, conversaram com criadores e empreendedores para orientar e ouvir as demandas acerca da atividade bubalina. 

O veterinário explica que o trabalho do Governo do Estado, por meio da Sedap e demais instituições parceiras que atuam na pecuária, como a Agência de Defesa Agropecuária do Pará – Adepará, leva em consideração, ao executar suas ações no segmento, a relação que o marajoara, principalmente, tem com o búfalo. “O intuito é atingir o agricultor familiar, dar melhores condições para este pequeno produtor respeitando o que o búfalo representa a ele”, disse Peralta.

A médica veterinária, por sua vez, complementa a informação e fala que a relação do marajoara com os búfalos envolve companheirismo, afetividade e até familiar. “Já me deparei com casos, como de uma senhora, que criava um animal para tração. O búfalo dela morreu e a criadora estava triste porque disse que sentiu como se tivesse perdido alguém da família. É uma relação intimista. Um búfalo pode chegar a viver até 30 anos e há casos em que o animal não vai para o abate e vive muito tempo com o seu dono”, disse. 

Veterinária da Sedap, Anelise Ramos, destaca a amizade e companheirismo entre os moradores do Marajó e o búfalo

O presidente da Associação Paraense de Criadores de Búfalos (APCB), João Rocha, diz que a entidade vê com bons olhos o envolvimento do Estado na bubalinocultura paraense e de valorização do animal símbolo do Marajó. Ele acredita que a realização da COP30 (Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas), trará ao produtor a oportunidade de mostrar o que faz com eficiência e destreza e mostrando o envolvimento social que a bubalinocultura representa ao Marajó.

“O levantamento que nós temos na associação é que 72% dos bubalinocultores são pequenos criadores. Então é uma cadeia que mexe muito com a parte social e com a ilha do Marajó que tem um IDH baixo (Índice de Desenvolvimento Humano) e o búfalo ajuda a levantar”. 

Símbolo- Em Soure a relação com o búfalo pode ser vista também de várias formas. Seja nos nomes dos estabelecimentos comerciais ou através de monumentos espalhados em vários pontos da cidade, eventos culturais, na culinária e como animais de estimação. A relação entre o búfalo com o povo do Marajó já foi até enredo de escola de samba do Rio de Janeiro  - a Paraíso do Tuiuti, em 2023. 

Um dos personagens mais conhecidos da cidade é o “Alemão”, nome carinhoso que o búfalo ganhou do dono. Quem passa pela orla, dificilmente deixará de encontrar com o animal, que já se acostumou com a presença de curiosos ou mesmo de moradores que gostam de fotografar e fazer carinho no animal.

“É incrível a gente encontrar um animal desse porte pelas ruas da cidade e tão dócil”, disse Santiago Caldas, morador do Paraná, que visita a cidade. 

Até o policiamento local conta com a ajuda dos animais. Em função das características locais como solo e clima, o 8º Batalhão de Polícia Militar adotou a prática e parte das rondas ostensivas é feita com o uso do animal.