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Histórias de solidariedade ajudam a transformar a rotina de policiais militares

Por Redação - Agência PA (SECOM)
07/09/2015 00h08

Uma corporação que tem sua imagem comumente associada ao combate e repressão da criminalidade, a Polícia Militar guarda diversos registros que passam ao largo das ocorrências tradicionais atendidas rotineiramente pelo efetivo operacional e que tem em comum, curiosamente, o mesmo condão: a preservação da vida. Casos de atendimentos inusitados, como partos e ações de salvamento, tem se tornado cada vez mais comuns na rotina dos policiais, que para fazer frente a essa nova demanda passam por treinamentos permanentes que os capacitam a agir em situações emergenciais.

Exemplo de ocorrência inusitada para quem vive o dia a dia do trabalho ostensivo aconteceu na última semana em Belém. Lotados na barreira do distrito de Outeiro, o cabo Mauro Natalino e o soldado Rangel Velasco, do 10º Batalhão de Polícia Militar, faziam a fiscalização de rotina quando foram acionados pela técnica de Enfermagem Luciene Silva para auxiliar em um trabalho de parto. 

Era manhã do dia 28, quando a dona de casa Carla Patrícia Cardoso, 32, sentiu as contrações. Ela e o marido saíram do distrito rumo ao Hospital Abelardo Santos, em Icoaraci. Como as dores ficavam cada vez mais intensas, os dois decidiram buscar atendimento no posto de saúde local, sem sucesso. No caminho, encontraram a técnica Luciene Silva, que ia para o trabalho em Belém e decidiu levar o casal no seu carro até o hospital.

Apesar do esforço, Patrícia entrou em trabalho de parto pouco antes de chegarem à barreira da Polícia Militar. Vendo que o bebê nasceria ali mesmo, a técnica pediu auxílio aos dois PMs, que direcionaram o carro até o estacionamento do posto policial e isolaram a área para que Luciene fizesse o parto.

Os dois já haviam dado apoio em situações similares, encaminhando mulheres grávidas ao hospital ou acionando o Corpo de Bombeiros. Mas essa foi a primeira vez que eles acompanharam de perto o nascimento de uma criança em serviço. “Na hora em que ele nasceu a gente se assustou um pouco, porque ficamos esperando alguma reação do bebê, o que não aconteceu. Mas não demorou muito pra ele respirar e começar a chorar. Foi um alívio e uma emoção muito grande, mesmo pra nós que somos treinados para lidar com ocorrências como essas”, recorda o soldado Velasco, há sete anos na PM.

Os policiais recebem treinamentos básicos de primeiros socorros para atuar em casos emergenciais, como acidentes de carro, motos ou mesmo no auxílio a mulheres em trabalho de parto. Para o cabo Mauro Natalino, o nascimento do pequeno José Emanuel teve um significado especial.

“Na nossa profissão ocorrem situações que não temos como prever. Vivemos sempre sob pressão. Na quinta-feira nós encerramos o nosso serviço com um caso de homicídio no Outeiro, mas na sexta iniciamos o dia com o nascimento de uma criança. Isso, sem dúvida, ajuda a renovar o nosso compromisso com a missão primordial da Polícia, que é proteger a sociedade”, diz o cabo, que já está na corporação há 17 anos.

A situação também renovou o ânimo do soldado Velasco, que estava prestes a fazer uma prova para promoção de cargo. “Aquilo me serviu como estímulo, para que eu buscasse a superação no exame físico. Graças a Deus eu fui aprovado e em breve vou assumir a patente de cabo”, conta. Após o parto, os policias fizeram a escolta do veículo com mãe, o bebê, o pai e a enfermeira por todo o trajeto até o Hospital Abelardo Santos, onde foram atendidos.

“A sociedade costuma ver a Polícia Militar como um organismo de combate ao crime, composto por pessoas que já estão habituadas com a violência. Mas toda situação tem um lado positivo. A gente encontra pessoas muito boas na corporação e eu tenho me deparado cada vez mais com esse tipo de profissionais. Pra mim isso é muito gratificante, principalmente quando vejo a satisfação deles em nos ajudar”, contou a técnica Lucilene Silva.

Iniciativa que faz a diferença

Só este ano, o capitão Agnaldo Almada, do 20º Batalhão de Polícia Militar, participou de duas ações envolvendo auxílio a mulheres em situação de parto. Em abril, ele e os soldados Marcelo Lopes e Diogo Amorim socorreram uma mulher grávida na avenida Independência, próximo à avenida Augusto Montenegro.

A mulher estava em um taxi e vinha sentindo fortes contrações. Assim que avistou a viatura, o taxista tentou uma aproximação, em meio a um engarrafamento. Em princípio, os policiais acharam que se tratava de uma tentativa de assalto. “Quando chegamos mais próximo o taxista nos explicou a situação e veio aquele choque. Eu procurei tranquilizar todo mundo e coloquei a viatura ao lado do táxi para garantir a segurança de todos na via, mas a gente percebeu que não daria tempo de chegar no hospital”, relembra o capitão.

Mesmo acionando o serviço de emergência, o capitão percebeu que o auxílio médico não chegaria a tempo. A criança acabou nascendo espontaneamente, no próprio táxi. Após ter certeza de que o bebê estava bem, os policiais abriram caminho para que mãe e filho fossem levados para atendimento no Hospital Santa Clara, onde a equipe médica cortou o cordão umbilical e fez todos os procedimentos. 

“Nós fizemos a abertura do trânsito como batedores e conseguimos levar a família em segurança. Na hora, cada um comprou um pacote de fraldas e deu de presente para a mãe. Situações como essas são peculiares na nossa profissão. É gratificante poder fugir um pouco dessa rotina de violência e tensão”, diz o capitão Agnaldo, que ficou particularmente comovido com o caso, já que será pai em breve.

No início do mês, ele participou de outra ação de assistência a uma grávida, também na avenida Independência, mas neste caso, ele conseguiu abrir caminho como batedor para que o taxista e a esposa chegassem a tempo no Hospital Maternidade Saúde da Criança, onde graças a intervenção policial, outro bebê nasceu seguro e saudável.

“A pessoas tem mais compromisso e dedicação ao serviço quando se colocam no lugar do outro. É gratificante perceber que vários policiais estão vivendo experiências semelhantes. Além disso, o cidadão vê que a polícia está 24h na rua, para o que for necessário”, diz o capitão.

Desprendimento

Na noite do dia 24 de agosto de 2000, o sargento Márcio Pantoja, que à época era soldado, estava trabalhando na área da escadinha do porto, início da avenida Presidente Vargas, em Belém. Por volta de 22h, ele e o companheiro de turno, soldado Marco Antônio, receberam um pedido de socorro. Um homem estava se afogando no rio e a maré o levava cada vez mais para longe do porto.

Sem pensar duas vezes, o sargento Márcio deixou o armamento e o colete com o colega de trabalho e pulou na baía para salvar o homem. Enquanto isso, Marco Antônio procurava auxílio com a guarda portuária. “Logo que eu me aproximei ele tentou usar o meu corpo como escada e quase morremos. Eu consegui me livrar e dizer que se tentasse isso novamente nós dois poderíamos nos afogar. Ele teve um momento de lucidez e deixou que eu o trouxesse até beira”, relembra o sargento.

Mesmo na escuridão e nadando contra a força da maré, os dois conseguiram chegar até o cais, onde a guarda portuária já os aguardavam para prestar os primeiros socorros. Para o sargento, embora já tenham se passado 15 anos do ocorrido, o que ficou foi a sensação do dever cumprido e da ação em prol de um semelhante. 

“É importante que o policial militar tenha, em primeiro lugar, força de vontade para querer ajudar o próximo. E isso independe de condicionamento físico. Mais do que isso, o principal é que ele tenha em mente que a sociedade precisa do seu empenho como servidor, pois o menor gesto pode fazer toda a diferença”, explica o sargento Márcio Pantoja, que figura em uma lista de policiais que receberão a medalha Coronel Sotero de Menezes, em  homenagem ao ato de bravura.