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Câncer de ovário: o inimigo silencioso que desafia o diagnóstico

Com ausência de sintomas característicos nas fases iniciais, doença é uma das neoplasias mais agressivas entre as mulheres

Por Leila Cruz (HOL)
13/05/2025 17h00

Aos 53 anos, a pescadora Rosineth Basto, moradora  do município de Curralinho, no arquipélago do Marajó, enfrenta uma luta já vivenciada por outras gerações da família. O câncer, que vitimou o pai e a irmã, também afetou outros parentes próximos, revelando um histórico familiar marcado pela doença. Mãe de dois filhos, ela descobriu que estava com o ovário comprometido em 2024, após sentir fortes dores na região abdominal. 

A ausência de sintomas característicos nas fases iniciais faz com que a neoplasia maligna leve tempo para ser detectada. Como resultado, aproximadamente 80% dos casos são identificados apenas em estágios mais avançados. Quando a doença progride, os principais sintomas são aumento do volume abdominal, dificuldade de comer, dores abdominais pélvicas, alterações menstruais e necessidade excessiva de urinar.

Rosineth Basto, 53 anos, está em recuperação de uma cirurgia.

“Começou com dores muito fortes. Fui ao hospital lá na ilha, fizeram uma ultrassonografia e descobriram que eu estava com um tumor, já um pouco avançado”. Logo após o diagnóstico, Rosineth foi encaminhada para tratamento no Hospital Ophir Loyola (HOL), referência em oncologia no Pará. “O médico avaliou tudo, fiz todos os exames e aí constou que era câncer no ovário. Ele operou, retirou o tumor, e passei seis meses fazendo quimioterapia”, relatou.

Rosineth voltou a sentir dores e retornou ao hospital, onde novos exames detectaram três tumores no intestino. “Operaram de novo, tiraram os tumores. Agora estou em recuperação e aguardo apenas a cicatrização da cirurgia para receber alta médica”, contou.

Considerada a terceira neoplasia ginecológica mais frequente pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de ovário fica atrás somente do câncer do colo do útero e do endométrio. A doença ocorre, predominantemente, na pós-menopausa e é o oitavo tumor maligno mais incidente, de acordo com o Ministério da Saúde (MS). Para cada ano do triênio de 2023 a 2025, são esperados 7.310 novos casos no Brasil, o que corresponde a um risco estimado de 6,62 casos novos a cada 100 mil mulheres.

Na região Norte do País, o risco estimado pelo MS é de 3,61 casos novos a cada 100 mil mulheres, ocupando a sétima posição na tabela dos Estados da federação. No Pará, de janeiro de 2023 a abril deste ano, o Hospital Ophir Loyola recebeu 379 mulheres acometidas pela doença, de diferentes etnias e idades. 

Um caso notório a nível mundial é o da atriz norte-americana Angelina Jolie. Com histórico de câncer na família, por parte da mãe e avó, a atriz é acometida pela mutação no gene BRCA1, um tipo de gene supressor de tumores, que desempenha um papel crucial na reparação do DNA. Para evitar o desenvolvimento da doença, a artista removeu ambos os ovários e mamas em 2015. Conforme explica a oncologista do HOL, Danielle Feio, outros fatores devem provocar a vigilância feminina.

Danielle Feio, oncologista

“O câncer de ovário é uma doença muito agressiva. Costuma aparecer em mulheres a partir dos 50 anos, mas pode ocorrer naquelas mais jovens. Por isso, é bom se atentar para o tabagismo, obesidade, endometriose, nuliparidade (ausência de filhos) e histórico de câncer na família. Por isso, se eu pudesse deixar uma mensagem para as mulheres, seria: se você nunca teve filhos ou já passou dos 50 anos, compareça anualmente ao ginecologista e peça o exame transvaginal. O diagnóstico precoce salva vidas. Tudo o que é diagnosticado precocemente tem maior chance de cura”, ressaltou a especialista.

De acordo com o Ministério da Saúde, mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 e no controle do ciclo celular são observadas em até 15% das pacientes com câncer de ovário. Uma das maiores dificuldades relativas ao câncer de ovário é a detecção em estágios iniciais. Antes do diagnóstico definitivo, Rosineth relata ter sido tratada por mioma, mas acredita que a doença já estava presente. “Operei um mioma, mas não fizeram biópsia para confirmar. Quatro meses depois, as dores voltaram com mais força”, disse.

Alguns exames ajudam a identificar a presença das células cancerígenas no ovário, como o marcador tumoral CA-125. Também são indicados a ultrassom transvaginal, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética (analisam a presença de massas e a extensão da doença), raio-X ou tomografia de tórax (identifica metástases pulmonares), biópsia, e outros exames ginecológicos.

Serviço: Para ser referenciado ao Hospital Ophir Loyola o paciente precisa ser encaminhado via sistema de regulação pela Unidade Básica de Saúde ou Secretaria de Saúde do município de origem.

*Texto de David Martinez, sob supervisão de Leila Cruz