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Projeto 'Sons de liberdade': criador do figurino elogia trabalho de mulheres custodiadas na 'Ópera Cobra Norato'

Figurino do espetáculo que abriu o XXIV Festival de Ópera do Theatro da Paz foi produzido por cooperativa formada por internas do sistema penitenciário feminino do Pará

Por Ascom (Governo do Pará)
29/04/2025 14h44

O estilista Ronaldo Fraga esteve nesta terça-feira (28) na sede da Coostafe (Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina), localizada na Unidade de Custódia e Reinserção Feminina de Ananindeua (UCRF), na Região Metropolitana de Belém. A visita foi marcada por emoção e reconhecimento ao trabalho das mulheres custodiadas que participaram da confecção do figurino da ópera "Cobra Norato – Terras do Sem Fim", espetáculo que abriu o XXIV Festival de Ópera do Theatro da Paz.

A iniciativa integra o projeto "Sons de Liberdade", uma parceria entre a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) e a Secretaria de Cultura (Secult), que alia reinserção social, qualificação profissional e arte.

'Mais que reinserção: um processo de cura'

Foi a primeira vez que Ronaldo Fraga trabalhou com um grupo feminino no sistema prisional. Emocionado com o resultado, ele destacou a potência transformadora da arte.

"Não é bem a moda, mas a criação. Aqui tem uma potencialidade. Não é só roupa: é decoração, é presente. É terapêutico, é cura. Vai muito além da reinserção social. É libertação interna", declarou o estilista. "Tudo que eu fizer em Belém, daqui para a frente, vou trabalhar com as meninas", completou.

Fraga conversou com cada uma das cooperadas e quis saber como elas se sentiram ao ver suas criações no palco de um dos maiores símbolos culturais do Pará. A emoção foi recíproca.

Cooperação, aprendizado e visibilidade

A tutora da Coostafe, Narayana Brotas, explicou como o projeto foi desenvolvido. "O Theatro convidou a Coostafe para a confecção de peças do figurino da ópera. O estilista e outro profissional vieram até aqui, explicaram o processo criativo, modelagem e participaram da confecção. Depois, as meninas foram ao ensaio geral e viram o espetáculo com seus figurinos no palco. Foi uma sessão exclusiva da Seap".

Segundo ela, a presença de um nome como Ronaldo Fraga foi um momento especial. "Quando essas mulheres têm contato com profissionais tão experientes, é inspirador. Os olhos delas brilham. Sabem que aquilo que aprenderam aqui dentro pode ser levado para fora".

Vozes da transformação

Cooperadas como Paula Silva Bezerra destacam o impacto positivo da experiência. "Quando cheguei no Theatro da Paz, fiquei encantada. Ver nosso trabalho no palco foi muito bom. E conhecer o Ronaldo Fraga está sendo uma grande oportunidade. Ainda estamos aprendendo, mas fazemos com amor, e está dando certo".

Para Cleudiane Moura dos Santos, o projeto é uma forma de expressar talento e transformar vidas. "Mesmo dentro dessa situação de privação de liberdade, temos a oportunidade de sermos livres para criar. A arte transforma e mostra para a sociedade que aqui dentro tem mulheres que erraram, mas hoje fazem novas escolhas".

Ela acredita que iniciativas como essa ajudam a combater o preconceito. "Ao fazermos trabalhos com pessoas como Ronaldo Fraga e com o Theatro da Paz, mostramos à sociedade que estamos aqui pagando pelos nossos erros, mas também contribuindo, transformando e ressignificando nossas vidas".

Pioneirismo e impacto social

A Coostafe é a primeira cooperativa formada por mulheres custodiadas no Brasil. Além de gerar renda, o projeto oferece aprendizado em artesanato, costura, e noções básicas de empreendedorismo. Mais do que produção, trata-se de um espaço de fortalecimento da autoestima, dignidade e autonomia.

Texto: Márcio Sousa / NCS Seap Pará