'Cobra Norato – Terras do Sem Fim' abre o XXIV Festival de Ópera do Theatro da Paz
No palco do centenário teatro, o espetáculo mostra ao público símbolos culturais da Amazônia abordados na obra de Raul Bopp, resultado do trabalho de diretores, músicos, estilistas e custodiadas da Seap

O XXIV Festival de Ópera do Theatro da Paz, em Belém, foi aberto na noite de sábado (26) com a estreia mundial da ópera "Cobra Norato – Terras do Sem Fim". A montagem inédita, baseada no poema de Raul Bopp (1898-1984), exalta elementos da cultura amazônica.

“É importante agradecer e reconhecer o trabalho de tantas pessoas, de profissionais, de músicos envolvidos na história desse Festival de Ópera, que completa 24 anos. Existe uma imensa quantidade de profissionais cuidando de cada detalhe para que esse teatro-monumento seja sempre um orgulho para cada paraense”, disse a secretária de Estado de Cultura, Ursula Vidal.
Mitos e magia - O poema original de Raul Bopp adaptado para o espetáculo apresenta personagens fantásticos e conflitos entre o homem e a natureza. A realização é da Gávea Filmes, com patrocínio da empresa Vale, via Lei de Incentivo à Cultura. A Secult assina a correalização.

Com direção artística de Carla Camuratti e trilha sonora composta por André Abujamra, a montagem é uma produção nacional. A obra narra a jornada do caboclo Cobra Norato por entre lendas e criaturas míticas da floresta amazônica, em busca da filha da Rainha Luzia.
“O que eu achei lindo foi a participação da orquestra, a preocupação em buscar uma sonoridade que fosse realmente daqui. Então, a tomada da percussão, com as releituras, colocamos instrumentos regionais para tocar. É muito bacana a gente ver uma ópera nova nascer, porque ela é criada também quando está sendo executada pela primeira vez”, ressaltou o maestro Silvio Viegas, que assina a direção musical do espetáculo.

O professor Clécio Silva assistiu à ópera e falou sobre a sensação de imersão proporcionada. “Eu tive a oportunidade de conhecer a obra literária de Raul Bopp e, acompanhando desde o início até agora, parece que estou entrando na floresta, presenciando os personagens saltando do livro pra cá, e estou encantado. A sonoridade é muito peculiar, muito florestal”, definiu.
Figurino - Parte do figurino foi produzido em Belém, no âmbito do Projeto Sons de Liberdade, parceria entre as secretarias de Estado de Cultura e de Administração Penitenciária (Seap). As custodiadas da Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina (Coostafe) participaram de aulas de modelagem para o processo de construção das peças.

Ronaldo Fraga, estilista responsável pela criação do figurino, explicou o processo criativo: “O ponto de partida é sempre a literatura. Reler a obra do Raul Bopp, e pensar o que ele escreveria hoje, ou o que ele escreveu naquela época, que transposta no tempo, que a mágica preservou. Tem muito da mágica de um estrangeiro olhando os fascínios da Amazônia. Raul Bopp era gaúcho, e foi um dos primeiros modernistas a ficarem fascinados pela Amazônia. Depois, o livreto da ópera, e a conexão com a imagem de cenário, de música e tudo sob a batuta impecável da diretora Carla Camuratti”.

Patrimônio - A Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP) acompanha o elenco ao longo de toda a temporada, executando a trilha ao vivo. “Nós somos muito felizes, porque essa é uma data especial para nós. Afinal, não é todo dia que temos uma estreia mundial, e uma ópera feita a respeito de um livro muito importante do tempo do modernismo. Eu quero convidar a todos para vir ao Theatro da Paz, que está de portas abertas”, disse o diretor do Theatro, Edyr Augusto Proença.
A 24ª edição do Festival, promovido pela Secult, tem um significado especial por ocorrer simultaneamente ao processo de candidatura dos teatros da Amazônia - Teatro Amazonas e Theatro da Paz - ao título de patrimônio mundial cultural. No início de abril, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que coordena a candidatura, entregou à Secult e aos demais parceiros uma cópia do dossiê enviado à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
A programação do Festival de Ópera se estende até novembro. A temporada de Cobra Norato prossegue com apresentações nos dias 27, 29 e 30 de abril, sempre às 20h.
Texto: Juliana Amaral - Ascom/Secult