Pecuária familiar sustentável ganha força no Pará com apoio do governo estadual
Iniciativa promove rastreabilidade animal e responsabilidade ambiental nas propriedades rurais

Com um rebanho superior a 26 milhões de bovinos e búfalos, o Pará tem recebido investimentos significativos do Governo do Estado para impulsionar ainda mais a cadeia da pecuária familiar. Dos 144 mil estabelecimentos rurais que se dedicam à atividade, cerca de 67% — aproximadamente 90 mil — mantêm entre 1 e 100 animais, configurando-se como agricultura familiar ou pequenos criadores.
Uma das principais iniciativas estaduais voltadas ao setor é o Programa Estadual de Pecuária Sustentável. A ação se baseia em três pilares: a identificação individual e rastreabilidade dos animais, por meio de chips e brincos numerados fixados nas orelhas; a verificação da integridade, que envolve a checagem da origem, procedência legal e local de criação; e o apoio ao desenvolvimento da cadeia produtiva.

“Com a rastreabilidade, conseguimos garantir uma cadeia produtiva mais íntegra. Para isso, oferecemos suporte técnico, especialmente aos agricultores familiares. Também estamos criando mecanismos para facilitar o acesso a insumos, serviços de recuperação de pastagens, aquisição de cercas, materiais para construção de currais e bretes, entre outros. Nosso objetivo é promover a modernização, intensificação e tornar a pecuária paraense ainda mais competitiva”, afirma Cássio Pereira, titular da Secretaria de Estado da Agricultura Familiar (Seaf), uma das instituições que coordenam o programa.
No município de Novo Repartimento, a pecuarista familiar Maria Gorete Rios, que atua na atividade há cerca de oito anos no sítio Rancho da Pedra, relata avanços significativos após aderir ao programa. “Com o ‘Pecuária Sustentável’, passamos a ter mais controle sobre o rebanho e ganhamos visibilidade. Consegui, por exemplo, me cadastrar em uma empresa de alimentos e vender diretamente, sem precisar dos atravessadores. Isso melhorou o valor das vendas. A rastreabilidade está abrindo portas para novos mercados. Está sendo muito positivo”, reforça.

EXPANSÃO – O secretário Cássio Pereira destaca que os produtos da pecuária bovina paraense vêm ganhando espaço em mercados nacionais e internacionais que valorizam critérios como qualidade da carne, segurança sanitária e responsabilidade ambiental. “O programa atua justamente para atender a essas exigências. A intenção é transformar a pecuária paraense em referência de excelência, alcançando mercados mais exigentes e, consequentemente, com melhor remuneração. Isso traz benefícios para toda a cadeia: pequenos, médios e grandes criadores”, ressalta.
Anderson Serra, diretor de organização produtiva e comunidades tradicionais da Seaf, lembra que 75% da produção de leite no estado vem da agricultura familiar. Ele reforça a importância da participação dos pequenos produtores no programa. “No Pará, temos cerca de 300 mil famílias na agricultura familiar, distribuídas em 1.030 assentamentos rurais, 620 comunidades quilombolas e 43 reservas extrativistas. Atuamos de forma integrada para ampliar a divulgação e incentivar a adesão ao programa, que traz ganhos para toda a cadeia produtiva”, afirma.
METAS – Entre os principais objetivos do Programa Estadual de Pecuária Sustentável do Pará estão: rastrear 100% do trânsito de bovinos até dezembro de 2025, atingir a rastreabilidade de todo o rebanho até dezembro de 2026, validar 75% dos Cadastros Ambientais Rurais (CAR) e recuperar 20% das áreas de pastagens degradadas. A iniciativa, considerada pioneira no país, é coordenada pela Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará) e conta com a atuação conjunta de diversas secretarias e instituições, como a Seaf, a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), a Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) e o Instituto de Terras do Pará (Iterpa). Também participam organizações do terceiro setor, como o IPAM, Imaflora e The Nature Conservancy Brasil (TNC).