Capivaras conquistam frequentadores do PCT Guamá e ajudam na manutenção do ecossistema do parque
Espécie migrou para o PCT durante a pandemia de Covid-19 e desde então é tida como “mascote” do complexo
Durante o período da pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2022, o Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá apresentou um cenário de circulação humana reduzida, devido ao isolamento social recomendado para conter a propagação do vírus. Esta área, por apresentar abundância de alimentos e presença de corpos d’água, atraiu uma manada de capivaras vindo de áreas vizinhas.
Seu nome, de origem tupi-guarani, significa “comedor de capim”, são os maiores roedores do mundo, vivem em média 15 anos, organizam-se em grupos e dividem seu território em áreas específicas para atividades como descanso, banho e alimentação. No PCT Guamá, que possui 72 hectares ricos em biodiversidade, a presença desses animais encanta residentes e visitantes, além de contribuir para a manutenção do ecossistema local.
Ingrid Teles, pesquisadora e fundadora da startup Ver-o-Fruto, residente no PCT, encontra inspiração ao observar as áreas verdes e as capivaras que passeiam pelo complexo. “O parque é um refúgio de tranquilidade ideal para o meu negócio. Contrasta com a correria urbana. Amo quando encontro as capivaras passeando, especialmente os filhotes, mas sempre respeitando seu espaço”, comenta.
A pesquisadora Maria Cristina Costa, do Laboratório de Ecologia e Zoologia de Vertebrados (LABEV) da Universidade Federal do Pará (UFPA) e coordenadora do Programa ConViva, acredita que os animais tenham vindo de locais como o Parque Estadual do Utinga e a Embrapa, utilizando a margem do rio Guamá como um corredor. Inicialmente, o grupo contava com cerca de sete indivíduos, mas a rápida reprodução da espécie e chegada de novos indivíduos, aliada à ausência de predadores naturais, fez com que sua população crescesse, chegando a aproximadamente 80, segundo a última contagem.
Para além da aparência dócil e comportamento tranquilo, que as deixaram famosas nas redes sociais, as capivaras são essenciais para o ecossistema. Como herbívoros, alimentam-se de plantas aquáticas, folhas, frutas e cascas, controlando o crescimento da vegetação. “Sem herbívoros, seria impossível caminhar pelas áreas verdes do PCT e do campus, pois eles renovam a vegetação. Seus dejetos, ricos em nutrientes, fertilizam o solo e auxiliam no reflorestamento, funcionando como um adubo natural”, explica a pesquisadora.
“Elas são nosso ‘mascote’. Convivemos em harmonia. Em breve vamos instalar sinalização por toda a extensão do parque para educarmos a comunidade sobre como lidar com elas e outros animais que transitam por aqui da melhor forma possível”, conta Rodrigo Santos, gerente de Compras e Logística da Fundação Guamá, organização social gestora do complexo.
Cuidados
Para garantir uma boa convivência com os animais, é essencial manter uma distância segura, evitando contato próximo que possa resultar em ataques ou na transmissão de doenças. “Se a capivara estiver com filhotes, por exemplo, pode se tornar agressiva para protegê-los. É instintivo. Fotografar e filmar é permitido, mas sempre com cautela e respeito ao espaço delas”, alerta Maria Cristina.
A pesquisadora destaca a possível transmissão de doenças, como a febre maculosa, em decorrência da picada de carrapatos que podem atingir capivaras. “As capivaras que estão no PCT Guamá e campus não apresentaram indícios de conter carrapatos infectados, mas seria necessário a realização de testagem para descartar qualquer doença. Por tanto, deve-se evitar contato com as capivaras e qualquer animal silvestre. Campanhas de educação ambiental são fundamentais para conscientizar a comunidade sobre o tratamento adequado aos animais. É um privilégio coexistir com eles”, conclui a pesquisadora.
Referência em inovação na Amazônia
O PCT Guamá é uma iniciativa do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet), que conta com a parceria da UFPA, Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e gestão da Fundação Guamá.
É o primeiro parque tecnológico a entrar em operação na região Norte do Brasil e visa estimular a pesquisa aplicada e o empreendedorismo inovador e sustentável para melhorar a qualidade de vida da população.
Localizado às margens do rio Guamá, que dá nome ao complexo, o PCT Guamá está situado entre os campi das duas universidades e conta com um ecossistema rico em biodiversidade, estendendo-se por 72 hectares, destinados a edificações e à Área de Proteção Ambiental (APA) da Região Metropolitana de Belém.
O complexo conta com mais de 30 empresas residentes (instaladas fisicamente no parque), mais de 40 associados (vinculados ao parque, mas não fisicamente instalados), 12 laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de processos e produtos, com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará (Eetepa) Dr. Celso Malcher, além de atuar como referência para o Centro de Inovação Aces Tapajós (Ciat), em Santarém, oeste do Estado.
O PCT Guamá integra a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e International Association of Science Parks and Areas of Innovation (Iasp), e faz parte do maior ecossistema de inovação do mundo.
Ayla Ferreira sob supervisão de Sérgio Moraes