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Hospital Ophir Loyola debate estratégias para aumentar doação de córneas no Pará

Unidade de saúde da rede pública estadual registra avanços na captação, resultado da parceria firmada com outros serviços para fortalecer o Banco de Tecido Ocular

Por Leila Cruz (HOL)
03/09/2024 18h09

O Banco de Tecidos Oculares (BTO), do Hospital Ophir Loyola (HOL), em Belém, abriu nesta terça-feira (3) a programação alusiva ao Setembro Verde, mês de conscientização e incentivo à doação de órgãos e tecidos para transplantes. Com o tema “A Vida Pode Continuar - Seja Um Doador de Córneas”, o evento debateu o papel dos principais serviços envolvidos no processo de captação de tecidos oculares no Estado do Pará, no auditório Luiz Geolás de Moura Carvalho, no HOL. Em 247 dias de 2024, já houve 249 captações, resultando em quase 500 córneas. 

A mesa oficial teve o coordenador da Central Estadual de Transplante, Alfredo Abud; a diretora de Ensino e Pesquisa, Margareth Braun, representando o diretor-geral do "Ophir Loyola", Jaques Neves; o diretor do Centro de Cuidados Paliativos Oncológicos (CCPO), João de Deus; o responsável Técnico pelo BTO, Alan Costa, e o coordenador da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (Cihdott), Jair Graim.Evento debateu a conscientização e o incentivo à doação de órgãos e tecidos para transplantes

Fundado em 20 de dezembro de 1998, o Banco de Tecido Ocular é o único do Pará. O serviço atua na captação, preservação e destinação de córneas para a Central Estadual de Transplantes (CET), que disponibiliza os tecidos para atendimentos da rede particular, do Sistema Único de Saúde (SUS) e convênios. Também desenvolve ações estratégicas com ênfase na capacitação de profissionais e campanhas de conscientização para aumentar o número de doações, e garantir um recomeço para quem aguarda na fila de espera.

Parcerias - “O Banco mantém cooperação técnica com o Instituto de Medicina e Odontologia Legal (Imol) e o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), da Polícia Científica do Pará (PCEPA), sob a coordenação da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sespa). Os profissionais atuam 24 horas, incluindo sábados, domingos e feriados. As equipes operacionais, atuantes com mortes violentas e de causas naturais, foram capacitadas para garantir a integridade dos tecidos oculares desde o deslocamento do local do óbito até o momento da captação, após a autorização da família”, informou o responsável técnico e oftalmologista Alan Costa.

Ele destacou que, até 2022, os pacientes precisavam aguardar de 4 a 5 anos para serem submetidos a um transplante, e a maioria das córneas disponíveis era proveniente do Ceará. “Hoje, essa realidade mudou. Descobri que as Unidades de Pronto Atendimento enviam demanda para o SVO, e seria uma excelente oportunidade de proporcionar as doações às famílias assistidas por esses serviços, e de uma forma humanizada. As parcerias com o Imol e SVO fizeram a diferença”, garantiu o oftalmologista.Alan Costa, responsável técnico pelo Banco de Tecido Ocular: 'parcerias com Imol e SVO fizeram a diferença'

Ano histórico - Em 2022 foram realizadas 103 doações, mas, em razão da bilateralidade dos olhos, totalizaram 206 córneas doadas. No ano de 2023, com o acordo firmado com o SVO, foram realizadas 346 captações - cerca de 700 córneas paraenses doadas. “Foi um ano histórico. Conseguimos enviar córneas pela primeira vez para fora do Estado, por não haver pessoas aptas para receber aqui. A nossa responsabilidade aumentou, não só estadual, como também nacional. Começamos a zerar filas, principalmente a dos hospitais particulares e do HOL, e percebemos que estávamos no caminho correto”, enfatizou Alan Costa.

“O Serviço de Verificação de Óbitos desempenha um papel fundamental. Hoje, somos o quarto serviço do Brasil a realizar captação de córneas. Desde que a parceria foi firmada com o HOL, em fevereiro do ano passado, já realizamos mais de 140 captações. Muitas vezes o nosso serviço é visto como um lugar associado à dor, mas também é um lugar de transformação, onde a tristeza pode ser convertida em esperança e vida para outras vidas”, ressaltou Elza Moreira, do SVO.Elza Moreira , da SVO: transformar tristeza em esperança e vida

O diretor do Imol, Hinton Barros, informou que em 2017 o Instituto foi procurado pelo BTO para firmar parceria. Segundo ele, as captações tiveram um leve aumento em 2019, mas ocorreu a pandemia de Covid-19. “Recebi um convite do dr. Alan para realizar uma visita técnica ao BTO do Ceará, o qual havia zerado a fila de espera. Ficamos deslumbrados. Conseguimos superar em menos de seis meses todo o trabalho já desenvolvido no período. Hoje, completamos 247 dias do ano de 2024 e já temos 249 captações. A expectativa é aumentar, fazer mais de uma doação por dia. Juntos, Banco de Tecido Ocular, SVO e Imol, vamos conseguir”, disse o gestor.

Experiências - Na programação, a fisioterapeuta Silviane Nascimento, 33 anos, mãe de Victor Hugo, 2 anos, paciente do Hospital Cynthia Charone, expôs sua experiência familiar. A criança nasceu com glaucoma congênito bilateral e aguarda por transplante de córnea. “Não é fácil. Foi muito difícil quando o meu filho nasceu com glaucoma congênito, e também tem deficiência auditiva. Mas, graças a Deus, ele está evoluindo. Estamos aqui para plantar uma sementinha, e levar isso adiante, incentivar a doação. Eu levanto essa bandeira justamente para dar vida a outras pessoas, porque temos que pensar que há vida além do sofrimento”, observou Silviane.

Sandra Rodrigues, 47 anos, também destacou a importância do gesto voluntário. Sua filha, Fernanda Silva, 27 anos, tem limitações auditivas e era deficiente visual antes de passar por um transplante há 30 dias. “Eu fiquei muito feliz quando ela fez o procedimento, quando ela viu o meu neto. Ela se estressava durante a espera. Quando ela foi chamada, chorei e me emocionei ainda mais quando ela teve que retornar com o dr. Alan após o procedimento e conseguiu enxergá-lo. Agora, estamos nos preparando para fazer o transplante no outro olho. Para as mães que estão na fila com os seus filhos, vai dar tudo certo”, disse Sandra Rodrigues.

Fila para transplante é única - A doação pode ser realizada por qualquer pessoa, de 2 anos até 70 anos. Nessa faixa etária, qualquer pessoa que falecer, exceto aquelas com as contraindicações médicas, pode ser um doador. Há critérios específicos de exclusão para ser doador, como pacientes portadores de HIV e dos vírus que causam Covid-19 e hepatites B e C.

Alfredo Abud informou que a Central Estadual de Transplante coordena os processos de doação, captação e transplantes de órgãos e tecidos; credencia equipes, hospitais e clínicas para realização de transplantes, e monitora e supervisiona o Sistema de Lista de Espera de acordo com a legislação federal brasileira. Ele destacou que todo o processo de registros e informações das doações e transplantes ocorre em conexão com o Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde.

“A CET regula todo o processo, desde a captação a nível hospitalar, acolhimento familiar, até a realização do transplante propriamente dito. Também acompanha o trabalho desenvolvido pelas Cihdotts nos hospitais. Anualmente, diversas ações são desenvolvidas com o objetivo de aumentar o número de captações de doadores de órgãos e tecidos no Pará, a exemplo da campanha Setembro Verde, em curso. Recentemente, implantamos a Organização de Procura Por Órgãos (OPO) para fazer um link entre a CET e as Cihdotts, mapear todas essas comissões e acompanhar os processos de doação”, concluiu Alfredo Abud.