Emater contribui para diversificação da produção de territórios indígenas no Pará
Em Belterra, a Empresa de Assistência Técnica (Emater) atua junto às famílias da Aldeia Bragança, na Terra Indígena (TI) Bragança/Marituba
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP-30), com sede na capital paraense, Belém, já bate à porta da Amazônia, e quem faz jus a abrir são os povos tradicionais. Para as visitas, o munduruku Rodimar Sousa, de 49 anos, atendido pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) em Belterra, no Baixo Amazonas, pode servir o café e a macaxeira plantados na Aldeia Bragança, na Terra Indígena (TI) Bragança/Marituba, nas imediações da rodovia BR-163.
“Somos guardiões da floresta. A Amazônia é a casa dos povos originários”, observa. A macaxeira consta como item de abastecimento na inédita edição indígena do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) no município, iniciada este ano, cuja segunda entrega de lote realizar-se-á na próxima terça-feira (27).
Rodimar e a companheira, Elciene dos Santos, de 41 anos, têm três filhos: Eldianne Poryng Etê, de 25 anos; Zadiel Murutinga, de 22 anos, e Yuri Kainã, de 15 anos.
Eldianne casou e se mudou, Zadiel estuda Ciências do Esporte, no campus de Limeira, interior de São Paulo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a partir de bolsa-permanência do governo federal, e Yuri participa das atividades de roça, caça e pesca do cotidiano comunitário.
Entre eles, a comunicação é bilíngue: português e munduruku. Os pais se preocupam com o avanço das modernidades nas novas gerações, haja vista o risco de a cultura perder força com o consumismo globalizado, a saúde sair prejudicada por industrializados e existir a ameaça de vício em drogas ilícitas e pornografia.
“Eu sempre falo que a gente tem que continuar com a cabeça de índigena, que respeita nosso corpo e o meio ambiente, a gente não pode deixar de viver como indígena, tirando do mato o que a gente precisa pra comer e preservando, e cada um de nós é responsável por perpetuar nossos costumes e nossos valores. Se hoje tivesse uma guerra, a gente não passaria fome, sobreviveria sem sair da aldeia. A Eldianne uma época deu pra comer salgadinho de pacote, por influência das propagandas e porque vinha pulseira como brinde, e isso gerou nela um problema sério de estômago. Eu falo pros meus filhos que o que dá sustância pro organismo, faz a gente não pegar doença, é carne de macaco, de catitu”, conta Rodimar.
A mãe, Elciene, lembra que o filho em São Paulo sente muita saudade da realidade nativa: “Ele pensa em açaí, peixe, farinha. O plano dele é voltar estudado e colocar os estudos a favor da nossa comunidade”, relata.
A família cria galinha-caipira, cultiva frutíferas como banana e limão e coleta produtos da floresta como castanha-do-pará e andiroba. Ainda, na área coletiva de mata, caça cutia, paca e tatu e pesca em cima de canoas e a arco-e-flecha espécies como aracu e tucunaré nos braços do rio Tapajós: Igarapé do Marai, Ilha do Meio, Lago do Curueré e São João.
A região ali vem sendo atendida pela Emater com mais complexidade a contar de 2024, com a emissão de cadastros nacionais da agricultura familiar (cafs) e a inclusão no PAA. Não só macaxeira, mas também batata-doce, cará e pescada-branca trabalhados pelos indígenas, assim, são comprados pelo governo a preço justo e distribuídos dentro do próprio território indígena, com fins de segurança alimentar e nutricional e fortalecimento das tradições. A previsão para dia 27 de agosto é de pelo menos uma tonelada de alimentos.
Para o chefe do escritório local da Emater em Belterra, o técnico em agropecuária Ederlan Pereira, a atuação do Órgão com indígenas é um desafio satisfatório: “Não é um serviço padrão, é algo diferenciado, tratamos com cuidado especial, porque requer imersão e respeito às ancestralidades e à legislação que regem a subsistência e o relacionamento com a natureza”, explica.
Direitos
Uma das frentes de atuação da Emater com os indígenas de Belterra, de médio e longo prazos, é a elaboração de projetos de crédito rural, à vista de acesso a tecnologias e aperfeiçoamento dos sistemas. A aquisição de despolpadeira de frutas e freezer para armazenamento é uma possibilidade vantajosa, apontam os especialistas.
Rodimar anima-se com moderação: “Quando a gente pensa que pode melhorar de vida com a tecnologia, a gente pensa bem, porque não queremos nada que possa destruir nossos recursos naturais”, calcula.
Texto de Aline Miranda