Fapespa apresenta estudo inédito sobre as ilhas de Belém
A primeira edição destaca a Ilha de Cotijuba, por se tratar de uma área de importância turística para a capital
Os estudos e pesquisas realizados pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) desempenham um papel crucial no planejamento de políticas públicas no Pará. Com base nessa premissa, a Fundação lança seu novo produto: o Boletim da Sustentabilidade das Ilhas de Belém. Os boletins apresentam, em cada edição, as principais características socioespaciais das ilhas ao redor da capital paraense, utilizando zoneamento geoambiental.
A primeira edição destaca a Ilha de Cotijuba, por se tratar de uma área de importância turística para a capital. Este estudo ajuda a criar políticas públicas para a região das ilhas, que não tem muitas informações precisas e muitas vezes não refletem a realidade local.
Ainda que Cotijuba enfrente deficiências em infraestrutura básica, o seu potencial turístico é inegável. Dessa forma, o estudo contribui para uma administração eficiente, já que ao contar com informações qualitativas e quantitativas, os responsáveis por tomar decisões mantêm seu planejamento atualizado, o que resulta em melhores resultados, conforme explicado pela diretora de Pesquisas e Estudos Ambientais (DIPEA), Luziane Cravo Silva.
Quando se trata de gestão de territórios, esse planejamento torna-se ainda mais detalhado, devido às pressões sociais e econômicas associadas. Nesse contexto, análises técnicas são fundamentais para que os gestores identifiquem desafios e oportunidades em seus planos de gestão, visando oferecer serviços de qualidade à população, por esta razão, projetos com esse são essenciais.
O Boletim da Sustentabilidade da Ilha de Cotijuba é um produto do projeto Atlas da Sustentabilidade, projeto da Coordenação de Estudos Territoriais (CET) da Diretoria de Pesquisas e Estudos Ambientais (DIPEA) da Fapespa, formado por uma equipe multidisciplinar, que analisa e apresenta dados e informações sobre sustentabilidade do estado do Pará, para subsidiar ações de gestores e fornecer informações a cientistas e comunidade em geral. Sua produção compõe relatórios sobre a sustentabilidade, boletins, notas técnicas, sendo fonte de produção e divulgação de conhecimento científico na Região Amazônica, sobretudo na Amazônia Paraense.
“Dessa forma, a Diretoria de Pesquisas e Estudos Ambientais da Fapespa, por meio de projetos inovadores como o Boletim da Sustentabilidade das Ilhas de Belém, reafirma seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e a conservação ambiental, fornecendo dados essenciais para a formulação de políticas públicas que beneficiem toda a sociedade paraense”, avalia Luziane Cravo Silva.
Histórico - Segundo a pesquisa intitulada “Análises das paisagens da ilha de Cotijuba: através do mapeamento das unidades geoambientais, Belém” (DA SILVA, 2021), a Ilha de Cotijuba possui uma área de 16,5 km², apresenta um clima equatorial super unido, com temperaturas máximas médias de 31,8 °C e mínimas de 22,3 °C. O nome Cotijuba, de origem tupi-guarani, significa "trilha dourada", referindo-se à coloração do solo arenoso da região.
Conforme o Plano Diretor de Belém, Cotijuba integra o Distrito Administrativo de Outeiro (DAOUT) e está subdividida em duas macrozonas: a Macrozona do Ambiente Urbano (MZAU), localizada na zona Oeste e sul, e a Macrozona do Ambiente Natural (MZAN), situada na zona Norte e Leste.
A ocupação da ilha iniciou-se com os indígenas da tribo Tupinambás e ganhou nova configuração socioeconômica em 1874, com a instalação do Engenho Fazendinha, pelo capitão Pereira da Cunha. No século XIX, Cotijuba foi usada como área estratégica militar durante a Revolução Cabana. No século XX, a ilha foi comprada pelo desembargador Raimundo Nogueira de Farias, que estabeleceu um educandário para pequenos infratores, impulsionando seu desenvolvimento social e econômico com o apoio do governador Magalhães Barata.
Hoje, Cotijuba conta com nove praias e é acessível por via fluvial. A construção do Trapiche de Outeiro pela prefeitura de Belém, nos anos 2000, melhorou significativamente o embarque e desembarque de visitantes, aumentando a mobilidade e acessibilidade na região.
Análise Geoambiental - O estudo constatou que cada área da ilha possui características distintas em termos de morfologia e uso do solo. A Macrozona do Ambiente Urbano, por exemplo, inclui praias com maior fluxo turístico e está passando por significativas alterações físicas.
O estudo da Fapespa propõe uma nova delimitação para a Ilha de Cotijuba, abordando uma questão antiga: apesar de ser frequentemente classificada como Área de Proteção Ambiental (APA), Cotijuba sequer possui um plano de manejo. Os estudos cartográficos são fundamentais para o planejamento ambiental da ilha. Estes estudos utilizam imagens aéreas, de radar e satélites, além de Sistemas de Informações Geográficas (SIG), para coletar, armazenar e analisar dados espaciais.
O projeto compara a cobertura ambiental e a expansão urbana na Ilha de Cotijuba entre os anos de 2001 e 2023, através do mapeamento geoambiental. O método é essencial para a gestão ambiental, pois permite a subdivisão da ilha em unidades com características comuns, como: geomorfologia, hidrologia, clima e cobertura vegetal.
Cartografia e Geoinformação
A cartografia é utilizada em conjunto com Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) e permite a aquisição, armazenamento e tratamento de informações coletadas em campo e de dados já existentes, promovendo uma visão sistêmica da paisagem a partir dos elementos bióticos e abióticos que a compõem. Tais características são essenciais para o zoneamento do espaço, pois apontam as diferentes ações e manejos necessário a cada local.
“O advento da geoinformação trouxe avanços significativos para a análise ambiental, permitindo a integração de dados espaciais. No Boletim, foi possível correlacionar informações altimétricas e de uso do solo com dados espaciais das malhas censitárias e novos endereços lançados pelo IBGE, trazendo dinamismo à pesquisa”, explica Elias da Silva, geógrafo e pesquisador do projeto.
Há ainda, entre as novidades do projeto, o mapeamento da malha censitária e das espécies de endereços, dados que fornecem subsídios para políticas públicas na ilha, apontando a concentração populacional e os tipos de equipamentos urbanos presentes. A criação de bases cartográficas detalhadas foi necessária devido à ausência de arquivos vetoriais específicos para essas áreas, sem detalhamento adequado.
Para a coordenadora de estudos territoriais, Maiara Cordeiro: “o projeto sobre estudo das ilhas de Belém está alinhado com o trabalho da Fapespa e, particularmente, envolvida com estudos sobre práticas sustentáveis de uso da terra, impactos socioeconômicos e conservação ambiental no território do Pará” afirma.
Indicadores de Sustentabilidade
Outra análise apresentada foi a medição dos Indicadores de Sustentabilidade da Cobertura Vegetal (SCV) e de Sustentabilidade da Pressão Urbana (SPU). O SCV apontou a supressão de quase 13% da cobertura vegetal da ilha, no período analisado, indicando potenciais perdas na biodiversidade. Além disso, o estudo ponta degradação, devido ao aumento das erosões e fragilidade do solo.
O SPU apresentou aumento na pressão urbana, de 13,58% em 2001 para 24,24% em 2023, em virtude da crescente demanda pelo turismo na ilha, devido a suas paisagens únicas. Os indicadores quantificam dados para ajudar os gestores a compreenderem os problemas e desenvolver planos, projetos e ações que visem mitigar deficiências e ampliar sucessos.
“A região insular de Belém apresenta-se ao mesmo tempo, com uma grande oportunidade, mas também como um grande desafio e esse estudo ele traz indicadores muito importantes como todos os outros realizados pela Fapespa para tomadas de decisão dos agentes públicos. O turismo certamente é uma atividade econômica muito importante para todo o Estado, principalmente agora com a realização da COP, quando vamos poder mostrar as belezas, as riquezas e as oportunidades que o Pará apresenta para o mundo. Porém, para isso é preciso investir em infraestrutura, é preciso investir na capacidade de um bom receptivo para atender bem aqueles que nos visitam, mas principalmente atender quem mora nessas regiões e, é por isso que esse estudo tem uma importância tão grande nesse momento para o estado do Pará”, avalia o presidente da Fapespa, Marcel Botelho.