Estudo promove formação de professores para incluir alunos com deficiência visual
Dissertação de mestrado da pesquisadora Marina Oliveira, da Uepa, foca em abordagens pedagógicas eficazes e inclusivas para estudantes
Promover a inclusão na educação científica é fundamental para construir uma sociedade cada vez mais igualitária e diversa. Nesse contexto, a formação de professores que adotem abordagens pedagógicas eficazes e inclusivas se torna essencial, de forma que estes profissionais se sintam preparados para atender às necessidades dos alunos deficientes. Foi com essa premissa que a pesquisadora Marina Dêisedely Oliveira desenvolveu a dissertação de mestrado Formação de Professores no Contexto Amazônico: Uma Perspectiva Colaborativa no Ensino de Astronomia para Alunos com Deficiência Visual, submetida ao Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia (PPGEECA) da Universidade do Estado do Pará (Uepa).
O trabalho foi apresentado por Marina, em janeiro deste ano, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestra em Educação e Ensino de Ciências, sob orientação da professora Bianca Venturieri e coorientação do professor Reginaldo Corrêa Junior. O estudo teve como objetivo desenvolver uma proposta de formação continuada para professores atuantes no ensino de Ciências na Educação Básica, incluindo docentes dos anos iniciais do Ensino Fundamental, licenciandos em Ciências Exatas, Ciências Biológicas, Pedagogia e pós-graduandos em Educação e Ensino.
O curso ocorreu de forma híbrida, por meio de seis encontros - entre janeiro e abril de 2023 -, sendo três presenciais, no Centro de Ciências e Planetário do Pará (CCPPA), e três no formato remoto. Eles tiveram a finalidade de construir conhecimentos conceituais e pedagógicos de Astronomia para o ensino de alunos com deficiência visual. Foram incentivadas atitudes inclusivas e o uso de materiais pedagógicos táteis, que promovam equidade e acessibilidade no ensino, valorizando, também, o contexto amazônico.
Conforme Marina Oliveira, a iniciativa de desenvolver o estudo surgiu a partir de um olhar sensível da equipe de pesquisa, “considerando a importância do professor no desenvolvimento de um cenário educacional inclusivo e na promoção da igualdade de oportunidades para os alunos”. A pesquisadora afirma que o foco do trabalho foi o ensino de ciências, que envolve complexidades, como a explicação de fenômenos que são abstratos.
“Muitas das vezes, os professores utilizam recursos visuais para abordar o conteúdo e os alunos com deficiência visual acabam sendo prejudicados nesse sentido. Então, a partir disso, pensamos em uma formação continuada, que visou contribuir para a superação das dificuldades dos professores, numa perspectiva colaborativa, com os docentes refletindo sobre sua prática e necessidades. O tema gerador foi a Astronomia, o qual o Planetário do Pará oferece a oportunidade de trabalhar, além de ser um assunto interdisciplinar, presente em todos os anos da Educação Básica”, explica Marina, que, atualmente, cursa doutorado na Universidade Federal do Pará (UFPA).
Além de elaborar a dissertação de mestrado, a pesquisadora desenvolveu um produto educacional, criado a partir da formação continuada direcionada aos professores, cujo título é: Ensino de Astronomia para alunos com deficiência visual: um guia formativo para professores da Educação Básica e está disponível para acesso aqui. Marina relata que elaborar o guia foi um desafio, pois necessitou a reflexão sobre a própria prática da pesquisadora, para propor subsídios teóricos e práticos aos professores. Segundo ela, a perspectiva colaborativa foi um dos diferenciais do material. “Os professores trouxeram suas necessidades, suas reflexões, e, juntos, pudemos construir recursos táteis e multissensoriais para o ensino”, destaca.
No guia, é possível acompanhar as etapas do ciclo formativo, que incluíram dinâmicas, palestras, rodas de conversa e oficinas de construção de recursos táteis de Astronomia. “Apresentamos aos professores sugestões de materiais que eles poderiam utilizar para trabalhar com os seus alunos. São materiais que contemplam todos os públicos, alunos cegos, com baixa visão, feitos com itens de baixo custo e de fácil acesso, como cartolina, EVA, biscuit, cola quente e barbante. Além disso, possuem texturas diferentes e cores contrastantes, que facilitam o acesso ao material por alunos que têm baixa visão”, detalha Marina.
Um dos materiais elaborados durante as oficinas é a representação do Efeito Estufa, desenvolvido com o uso de cartolina preta, EVA com textura e diferentes cores, algodão, miçangas, cola, tesoura e legendas em braille, feitas com reglete (instrumento usado para a escrita manual do braille) e punção (caneta com a qual o papel é pressionado).
Legado da Pesquisa
O aprimoramento do conhecimento científico, a autonomia na construção de recursos e a ampliação de possibilidades de uso de elementos em sala de aula. Segundo Marina, esses foram alguns dos pontos positivos elencados pelos professores, após participarem da formação continuada. “Esse resultado foi muito gratificante e mostra a relevância da formação, que motivou os professores a terem um olhar sensível para a inclusão e a levarem os conhecimentos para dentro de seus contextos e realidades em sala de aula”.
A professora da Uepa e orientadora do trabalho, Bianca Venturieri, afirma que a pesquisa de Marina Oliveira foi pioneira no mestrado do PPGEECA, pois deixou como legado o primeiro produto educacional inclusivo desenvolvido com uma versão 100% em braille. Além do braille, o guia formativo está disponível nas versões impressa - na qual possui fonte em tamanho maior, para facilitar a leitura a pessoas com baixa visão -, digital e em audiodescrição.
“Foi um trabalho árduo, dedicado, e queremos abrir as portas de fato para a inclusão, com um produto para acesso também aos pesquisadores que são deficientes visuais. A inclusão, para mim, não é somente falar o que fazer ou o que pesquisar. Se estamos pensando em uma perspectiva inclusiva, o produto também precisa ser inclusivo”, defende a docente, que integra o PPGEECA, e tem como linha de atuação a formação de professores em contextos amazônicos.
Bianca Venturieri ressalta que a perspectiva local foi uma das contempladas no estudo: “A gente sempre considerou trazer elementos regionais, pois, além de ser relevante, causa uma aproximação dos professores com a pesquisa”.
O PPGEECA da Uepa desenvolve suas atividades no Centro de Ciências e Planetário do Pará, dessa forma, busca articular as pesquisas desenvolvidas no mestrado do Programa com os estudos elaborados no Planetário. “Pensamos no projeto desenvolvido pela Marina, considerando a pesquisa que o Planetário já estava desenvolvendo a nível de cúpula tátil e de sessão de cúpula para deficientes visuais. Então, foi um projeto totalmente articulado com os professores e técnicos do Planetário”, comenta Bianca.
O trabalho de Marina Oliveira será apresentado durante a 22ª Semana Nacional de Museus, da qual o Centro de Ciências e Planetário do Pará integrará. A exposição do Guia Formativo: Ensino de Astronomia para Deficientes Visuais ocorrerá no dia 17 de maio, das 15h às 17h30, no CCPPA. A programação é gratuita e aberta ao público.
Texto de Monique Hadad / Ascom Centro de Ciências e Planetário do Pará / Uepa