Seaster realiza debate sobre impactos da violência na vida das mulheres
Bom humor, gentileza, disposição e companheirismo. Essas são as características mais observadas nos homens agressores, tornando-os envolventes e atraentes, até revelarem o desejo de dominação. “Vivi em cárcere privado por cinco meses, sem direito a assistir televisão ou ter um gesto de amor para com meus filhos. Sempre que expressava um sorriso era questionada pelo motivo. Era tanto ciúme que ele comprou um pitbull para evitar minha saída de casa ou a aproximação de qualquer pessoa”, relatou uma vítima de violência doméstica, 42 anos, que passou oito meses nesse sofrimento.
A triste história fez parte de um evento promovido pela Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster), na manhã desta terça-feira (20), no auditório do órgão. O debate sobre o tema “Quando uma mulher é agredida, toda sociedade é atingida”, reuniu técnicos e servidores da Seaster, promovendo o diálogo sobre as experiências e os preconceitos vivenciados pelas mulheres vítimas de violência, atendidas nos abrigos estaduais. O evento foi organizado pela Coordenadoria de Formação e Gestão do Trabalho (CFGT).
Socializar e debater são iniciativas fundamentais para entender como essa violência se traduz na vida das vítimas. “Quando a mulher sofre a violência enquanto criança, gera dificuldades em estabelecer vínculos afetivos. Quando a violência praticada for contra uma mulher grávida, são afetados a mãe e o filho. E quando a agressão é exercida contra uma idosa, os transtornos psicológicos gerados são mais graves do que numa mulher jovem, por conta da baixa autoestima e do isolamento familiar. São casos diferentes que precisam ser entendidos de forma separada”, ressaltou a titular da Seaster, Ana Cunha.
Além da secretária Ana Cunha, o evento contou com a participação do promotor de Justiça do município de Moju, Afonso Ferro, que abordou as conquistas e desafios da Lei Maria da Penha. “As medidas punitivas contra os agressores, bem como as preventivas, no âmbito doméstico, são as conquistas contempladas pela Lei, mas devemos ressaltar que os desafios vividos estão no enfrentamento da violência doméstica. Deve ser tratada não como redução e prevenção, mais sim como erradicação. Para isso, é fundamental que ações como essas sejam levadas para as instituições e faculdades, demonstrando igualdade entre homens e mulheres”, afirmou a titular da Seaster.
Proteção - O Abrigo Estadual de Mulheres, vinculado à Secretaria Estadual de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda, é um refúgio para as vítimas de violência doméstica que têm suas vidas ameaçadas. No Pará funcionam quatro unidades, em Belém, Santarém, Altamira e Marabá. A localização não é identificada, para garantir a segurança das mulheres que passam pelo local.
O prazo do acolhimento pode ser estendido por 90 dias ou mais, em alguns casos específicos. As mulheres direcionadas para o abrigo recebem acompanhamento psicológico e só deixam o local com as medidas judiciais que garantem sua integridade. O espaço também conta com brinquedoteca para os filhos das mulheres atendidas. Além dos filhos de até 14 anos, as mulheres podem levar parentes do sexo feminino que também estejam ameaçadas.
Outro trabalho importante realizado pela equipe do abrigo é o resgate dos vínculos familiares. “Muita delas brigam com a família para ficar com os agressores e, quando rompem o laço com ele, têm dificuldade de serem aceitas pela família. Entretanto, o que elas mais precisam é do apoio desses familiares nesse momento, por isso, nesses casos, são realizadas visitas técnicas com o intuito de restabelecer essa conexão”, explicou a psicóloga do abrigo, Maria Elizabete Coelho. (Com a colaboração de Laina Sagica).