Estado desenvolve pesquisas sobre população autista na Ilha do Marajó
Iniciativa é inédita no Brasil. Resultados vão auxiliar em ações de saúde, educação e assistência social para pessoas com TEA
Imersa na rotina de profissionais que atendem pessoas com o transtorno do espectro autista (TEA), a pesquisadora Janae Gonçalves, coordena um projeto pioneiro no Brasil: coletar dados populacionais sobre o autismo em todos os municípios da Ilha do Marajó, para fortalecer as políticas públicas estaduais para o público.
“Fizemos instrumentos nos quais nós queríamos entender todo esse processo e toda dinâmica do funcionamento do atendimento, na área tanto da saúde, da educação e da assistência social. A gente quer a melhoria na vida dessas pessoas, do que precisam, do que foi feito e do que ainda pode ser feito para as pessoas que têm autismo e para os pais dessas crianças. A realização desse trabalho já apresenta frutos e outras perspectivas de olhar para as garantias de direitos”, destaca a pesquisadora.
O mapeamento da situação de pessoas com autismo na Ilha do Marajó é feito pelo Programa de Desenvolvimento às Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (PDTEA), projeto apoiado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), com execução técnica da Fundação Guamá.
“A investigação do programa vai abrir esclarecimentos em vários aspectos, tornando as políticas públicas mais eficientes. Essas políticas públicas já estão acontecendo no nosso Estado, mas elas vão sempre precisar do apoio da ciência para se desenvolverem ainda mais, para que a gente encontre os melhores caminhos para solucionar os problemas que são colocados à prova”, ressalta Marcel Botelho, presidente da Fapespa.
Pesquisa - Grupos de pesquisadores em duplas ou trios percorreram as cidades da ilha para aplicação de questionários respondidos por coordenadores do Atendimento Educacional Especializado (AEE), diretores de escolas, secretários de Educação, assistente social e profissionais de saúde.
As viagens foram uma oportunidade de conhecer a realidade local e ter contato com iniciativas desenvolvidas por professores, cuidadores e diretores, como uma escola em Cachoeira do Arari, que utiliza as artes com seus alunos com autismo para estimular o desenvolvimento escolar. Atualmente, a pesquisa está na fase de análise dos dados coletados durante as entrevistas em campo.
Nayara Barbalho, coordenadora estadual de Políticas para o Autismo, ressalta que a iniciativa, que é resultado da colaboração entre o Governo do Estado do Pará, Sespa, Cepa, Ufra e Fapespa, e tem o objetivo de criar uma base de dados intersetorial que integre informações das áreas de saúde e educação.
“É crucial enfatizar que as políticas públicas destinadas às pessoas com deficiência devem ser embasadas em dados e evidências científicas. Em breve, os resultados preliminares desse levantamento serão divulgados. Esse projeto representa um passo importante para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas e suas famílias por meio de informações fundamentadas e embasadas na ciência”, reforça Nayara.
Repercussões iniciais - Um dos primeiros resultados já produzidos foi o artigo intitulado “O contexto socioeducacional dos alunos com TEA no Marajó”, apresentado no XIV Fórum de Pesquisa e Extensão da Universidade Federal do Pará (UFPA), em março de 2023. Além disso, o projeto participou do lançamento do programa “Meninas na Ciência”, da Universidade do Estado do Pará em parceria com o Planetário, para incentivar meninas a ingressarem no meio científico.