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Prédio Histórico de Bragança sediará o primeiro Liceu de Música do Estado do Pará

Por Redação - Agência PA (SECOM)
09/04/2018 00h00

O município de Bragança, localizado na região nordeste do Estado, possui uma tradição musical muito forte no Pará, tanto na cultura erudita quanto na popular. Por causa desta característica o município vai sediar o primeiro Liceu de Música do Estado, com um investimento no valor de R$ 11, 7 milhões, que funcionará no prédio histórico da Escola Estadual Monsenhor Mâncio Ribeiro, no centro da cidade. O complexo do Liceu também contará com um teatro com capacidade para 370 lugares. 

Este será o primeiro de outros Liceus que serão construídos em municípios de diferentes regiões do Estado, como Marajó, Baixo Amazonas, sudeste e oeste do Pará. “A ideia do Liceu de Música de Bragança é açambarcar toda a região do Nordeste do Pará, uma região de ocupação muito antiga e que tem uma larga experiência de formação de uma identidade musical, como a marujada, o carimbó, o retumbão, o síria e as novenas recitadas em latim”, explica o secretário de Estado de Cultura, Paulo Chaves Fernandes, que é o autor do projeto.  

Para o secretário, o rico potencial da região do Salgado merece uma escola livre de música, sem seguir os padrões tradicionais de uma escola acadêmica, como no Conservatório Carlos Gomes e na própria Universidade Federal do Pará (UFPA). Para a concepção da ideia, Paulo Chaves teve contato com vários especialistas em música em todo o Brasil e trouxe o conceito para o Pará.

O prédio do Liceu contará com dois andares de um conjunto de salas com isolamento acústico, administração, cozinha e refeitório, pois atenderá alunos de vários municípios que chegarão pela manhã e ali passarão o dia. Acoplado ao Liceu está sendo construído um teatro com capacidade para 370 lugares que terá uma ligação permanente com a escola.

O terreno do Liceu ocupa todo um quarteirão, a entrada fica localizada na rua Justo Chermont, e a do teatro de frente para a rua Floriano Peixoto. O teatro também será utilizado para os ensaios de bandas, corais e também para apresentação da marujada, estando assim também vinculado a toda a comunidade. O prédio está ligado ao Liceu por meio de uma entrada lateral.

O teatro terá, além do palco, todo o equipamento de som e de luz, os assentos escalonados, bilheteria, café e loja de produtos culturais. “O prédio do teatro tem característica arquitetônica contemporânea que não busca ser protagonista de nada e se completa com o diálogo com o prédio histórico do Liceu. O interesse primordial é a preservação da memória da escola Monsenhor Mâncio Ribeiro, que se completa com a arquitetura do teatro através de um diálogo com a modernidade”, destaca o secretário.

Obras em ritmo acelerado

As obras do Liceu estão com 90% de execução e as do teatro 70%. No momento está sendo providenciada a pintura e acabamento final, assim como a instalação do sistema de refrigeração. Quanto ao teatro está sendo finalizada toda a estrutura, como varas de luz, refletores e camarins, todos com banheiros. Tudo está sendo providenciado para que até o aniversário do município, no dia 8 de julho, ele seja entregue à comunidade.

Todo o projeto está sendo providenciado com rigor em sua execução, comenta Paulo Chaves. “Arquitetura não é risco, ela expressa um conceito, uma identidade e dá condições para que o resultado alcance o belo com alma e um sentido. Neste caso exprime séculos de identidade vernacular através de suas manifestações culturais. O equipamento vem permitir um aprendizado livre destas manifestações, aproveitando os novos talentos que muitas vezes não têm a chance de se exprimir”, destaca Paulo Chaves.

Cerca de 50 pessoas estão trabalhando nas obras de conclusão do Liceu de Música, em Bragança. Todos são do município, gerando emprego e distribuição de renda na região, como comenta Rômulo de Almeida, engenheiro residente das obras. As paredes estão sendo cobertas com massa e o revestimento da estrutura já está todo pronto para receber as louças, metais e isolamento acústico.

Por se tratar de um prédio histórico, todo o cuidado está sendo tomado. A porta principal do prédio do Liceu, toda trabalhada em madeira, está sendo restaurada. Foi feito o rebaixamento do porão para utilizá-lo como mais um pavimento. A estrutura, que conta com 10 salas específicas para o ensino da música, auditório, biblioteca e salas de administração, foi toda revitalizada. O teatro também está em fase de acabamento da parte dos camarins. No auditório está sendo instalado o sistema de refrigeração e por último será feito o chamado acabamento fino.

“A estrutura mistura concreto e metal para dar um toque diferencial do Liceu. A cobertura é toda trabalhada em estrutura metálica, o que chama a atenção de uma longa distância para o prédio. Os trabalhadores estão atacando de forma intensa tanto no interior quanto no exterior dos dois prédios”, destaca Rômulo.

Tradição musical faz parte da história do município

O músico Reginaldo Silveira, 43 anos, é mestre da Banda Cantídio Gouvêa, conhecida como Banda Furiosa de Bragança, a mais tradicional do município. O nome é uma homenagem ao primeiro telegrafista e músico que chegou a Bragança nos idos de 1855.

A banda nasceu no período de grande euforia do Ciclo da Borracha, quando homens procuravam os seringais amazônicos para coletarem o látex e depois venderem seus produtos, como o ouro negro Bragantino (pimenta do reino), fumo em molho, farinha de mandioca e outras especiarias.

Os colonos, que antes faziam suas festas sob as músicas de instrumentos pau-e-corda, com os produtos da lavoura mais valorizados, passaram a adquirir instrumentos mais avançados, formando assim pequenas bandas de música em várias localidades do município de Bragança. Em 9 de janeiro de 1947 foi fundada a Cantídio Gouvêa.

Reginaldo iniciou seu contato com a música aos 16 anos, no ano de 1990, em um projeto social mantido pela Polícia Militar chamado “Guardas Mirins” e continua como o mais antigo integrante da banda, que hoje conta com 18 componentes. “Bragança possui uma tradição musical forte. A chegada do Liceu vai trazer mais respeito aos profissionais da música da região. A sociedade não vive sem a música e transmitir esta tradição é muito importante para a manutenção da cultura da região”, destaca Reginaldo.

A história se completa com o prédio da Escola Estadual Monsenhor Mâncio Ribeiro, que foi construído em plena Segunda Guerra Mundial e serviu de abrigo para o 35º Batalhão de Caçadores, que ocupou a cidade. Anos mais tarde, o porão da casa foi usado como prisão durante a ditadura militar e depois, o prédio recebeu os alunos da primeira escola primária da cidade, a Escola Estadual Monsenhor Mâncio Ribeiro.

Atrativos

A cidade de Bragança também é conhecida por seus igarapés, pela praia de Ajuruteua, pela farinha e pela música. Segundo relatos, a história começou em 1667, quando os portugueses trouxeram instrumentos de cordas, que foram acrescentados aos tambores indígenas. Em seguida, os instrumentos de sopro, também trazidos pelos portugueses, entraram na mistura. A dança mais conhecida de Bragança, a marujada, é típica da festa de são Benedito e existe desde 1798. O ritmo surgiu quando os donos das fazendas atenderam ao pedido dos escravos para fazer uma festa em homenagem ao santo negro e combina xote com batidas bem marcadas.

Fora da cidade, a tradição musical de Bragança é representada pela sonoridade do Arraial do Pavulagem, que tem entre seus integrantes Toni Soares, cantor e compositor nascido no município que tem inspiração nas folias, ladainhas, batuques de boi-bumbá e cordões de pássaros, tudo isso somado ao retumbão da Marujada de São Benedito. Toni criou seu próprio instrumento, a Banjola, que é uma espécie de banjo com braço de violão de 12 cordas.

“Eu comecei meu contato com a música dentro de casa através do meu pai e dos meus irmãos e lendo as cifras de revistas. A família Soares é tradicionalmente musical, nossa inspiração sempre foi a cultura bragantina. Foi através do Arraial do Pavulagem que começamos a divulgar a tradição musical da região, como o retumbão, a mazurca e a contradança. Eu sou orgulhosamente regional, pois acredito que assim somos mais universais”, comenta o músico.  

Para ele existe uma necessidade de se fazer um intercâmbio com a tradição de música de todo o Estado e o Liceu de Música pode significar esta oportunidade. “O Liceu de Música vai trazer uma profissionalização e mais reconhecimento para a riqueza musical de Bragança. Houve um tempo em que a sociedade local tinha uma certa vergonha dos seus ritmos, o que está mudando a partir do momento em que o retumbão e o xote bragantino começaram a atrair a atenção no cenário musical estadual, regional e até nacional. A música é transformadora em todas as fases da vida, para crianças, jovens e adultos, e isso tem que continuar. A tradição bragantina vai se perpetuar através de um fortalecimento da tradição musical local com o Liceu em atividade”, conclui.