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Pesquisas feitas no Pará são fundamentais para o combate às endemias na região

Por Redação - Agência PA (SECOM)
01/05/2018 00h00

Pouca gente sabe, mas a Divisão de Entomologia do Laboratório Central do Estado (Lacen-PA) é responsável pelas pesquisas de campo que são fundamentais para o combate às endemias no Pará. A finalidade é observar e pesquisar o comportamento dos principais insetos transmissores de doenças como doença de Chagas, dengue, malária e leishmaniose e, assim, decidir qual a melhor estratégia de combate a ser usada. 

Tendo como responsável a bióloga entomologista Paoola Vieira, a Divisão trabalha, principalmente, integrada ao Departamento de Controle de Endemias da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), setor que apresenta as demandas de ações de campo. "Trabalhamos com os vetores das principais endemias do estado: doenças de Chagas, leishmaniose, dengue e febre amarela. Então, o controle de todas as doenças transmitidas por vetores passa por aqui", informou Paoola.

Ela explicou que cada programa e coordenação da Sespa têm sua especificidade, assim, a Divisão de Entomologia é acionada pelo Departamento de Controle de Endemias para realizar a captura de vetores, com o objetivo de confirmar a autoctonia dos casos em determinado município. "Se tem um doente e tem o vetor infectado, confirma-se que aquela pessoa foi infectada no próprio município. Então, 90% do nosso trabalho é no campo e 10% no laboratório em Belém. Nossa equipe vai ao município, faz a captura dos insetos, traz para o laboratório, faz a identificação, pesquisa a infectividade e outros aspectos necessários.", informou a bióloga.

Apesar de dispor de um número reduzido de técnicos, atualmente, a Divisão tem uma equipe especializada por agravo, sendo dois técnicos para leishmaniose transmitida pelo mosquito palha (flebotomíneo); dois para os mosquitos Aedes aegypti, Anopheles e Haemagogus (culicídeos ), que transmitem dengue, zika e chicungunya, malária e febre amarela; e dois técnicos para os triatomíneos (barbeiros), que são os vetores transmissores da Doença de Chagas.

Cada ação leva de 15 a 16 dias em campo. "Isso significa que só conseguimos estar em um ou dois municípios por mês, portanto, sendo possível trabalhar, no máximo, em 20 municípios por ano", ressaltou Paoola.

No que se refere ao mosquito Aedes aegypti; o trabalho de campo da Divisão de Entomologia do Lacen-PA é destinada, principalmente, a analisar a resistência do inseto em relação aos inseticidas usados no combate aos mosquitos. "Para isso, fazemos a captura dos ovos e mosquitos adultos com o objetivo de fazer o teste e saber se o inseticida que está sendo usado realmente está fazendo efeito. No entanto, pode estar havendo resistência em determinados municípios e, em outros, não, daí à importância de realização de teste específico para cada município, sendo que alguma vezes, esse teste pode ser feito também na Fiocruz.  Quando comprovada a resistência é indicada a substituição do inseticida", detalhou a especialista.

Já no que tange ao mosquito da malária, o Anopheles, o trabalho visa pesquisar o comportamento do vetor em cada município. A equipe técnica procura saber junto à população qual o horário em que os mosquitos aparecem em maior quantidade, horário de maior hematofagia, ou seja, horário em que mais picam as pessoas. "Pois em um local isso pode estar ocorrendo às seis horas da tarde e, em outro, às seis da manhã. Essa informação é importante para sabermos quando devemos reagir e ter mais chances de matar o mosquito. Outra informação pesquisada fundamental é saber onde o mosquito faz a digestão depois de picar sua vítima, se dentro da casa ou fora dela. Tudo isso influencia na hora de tomar as decisões de controle do vetor", explicou Paoola.

Em relação aos barbeiros, o procedimento é um pouco diferenciado devido ao comportamento do inseto, porque quando o homem entra no ambiente dele, ao invés dele atacar a pessoa, ele se esconde e não adianta sair para tentar capturá-lo. Sendo assim, a equipe conta com o apoio da população para ajudar nessa captura das amostras de insetos. Para isso, são instalados em lugares estratégicos no município e nas Secretarias Municipais de Saúde, Postos de Informação de Triatomíneos (PIT), para que o próprio morador ao se deparar com o inseto na sua rotina possa capturá-lo e entregá-lo no posto. Quando o PIT já está bem estabelecido na Secretaria Municipal de Saúde, ele pode ser ramificado para as localidades com a colaboração de líderes comunitários que ficam responsáveis pela entrega e arrecadação dos kits junto à população. As amostras, então, são encaminhadas para o Centro Regional de Saúde, que encaminha para o Lacen-PA. "No laboratório, o inseto é identificados para se certificar que se trata de um triatomíneo realmente, já que há muitos insetos parecidos com o barbeiro, e verificada a infectividade. Se der positivo para as duas coisas, a gente informa a Secretaria Municipal, para fazer uma busca ativa por equipe da Entomologia local e verificar se estão se reproduzindo na casa ou não e oriente a família. O trabalho é mais intensivo quando se encontra um triatomíneo positivo para Doença de Chagas na casa", relatou a chefe da Divisão de Entomologia.

"E quando tem surto de Doença de Chagas em algum município, a Divisão de Entomologia também é acionada para fazer a investigação. Vamos ao ponto de açaí onde foi detectado pela Epidemiologia, e se faz o rastreamento no sentido inverso até chegar à origem da contaminação", acrescentou Paoola.

O trabalho é fundamental e age quebrando o ciclo da transmissão. No caso do barbeiro, o trabalho é educativo, diferente de quando se trata de leishmaniose. Pois nessa endemia, quando a Entomologia confirma uma alta infestação de mosquito palha transmissor da doença, elevando o risco de transmissibilidade da doença, a informação é passada para a Coordenação Estadual de Leishmaniose, que aciona o controle químico para fazer uma borrifação na localidade para reduzir a quantidade de mosquitos, pois é difícil falar em eliminação do vetor quando se trata de região amazônica e o ser humano vive em áreas muito próximas ao ambiente dos mosquitos. "Então, o que tentamos fazer é diminuir ao máximo possível os riscos", observou a entomologista.

Resultados

O Pará registrou uma redução de 91,05% nos casos de dengue no primeiro trimestre de 2018 segundo o último Informe Epidemiológico de 2018. Até o dia 31 de março tinham sido registrados 318 casos de dengue contra 2.614 casos da doença no mesmo período de 2017.

Todo o trabalho da Divisão de Entomologia é desenvolvido em parceria com as Secretarias Municipais de Saúde e Centros Regionais de Saúde, pois a equipe de profissionais ainda é muito pequena. São apenas seis técnicos, sendo um biólogo, um médico veterinário e quatro técnicos em Entomologia além da chefe da Divisão.