Mulheres negras e quilombolas são destaque em programação na UsiPaz Terra Firme
A “Usina das Manas” integra as ações pelo Mês da Mulher e trouxe temáticas para reflexão sobre o protagonismo das mulheres negras de quilombos e periferias
A UsiPaz Terra Firme, em Belém, realizou no último domingo (12) mais uma atividade da “Usina das Manas”, programação organizada pela Secretaria Estratégica de Articulação da Cidadania (SEAC) para celebrar o mês da mulher. Dessa vez, as mulheres negras e quilombolas foram o destaque.
O evento contou com serviços de saúde, em parceria com a Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa), com consultas ginecológicas, realização de exame preventivo do câncer de colo uterino, conhecido também como Papanicolau, encaminhamento para regulação estadual, palestras sobre saúde reprodutiva e bucal, com distribuição de kits de higiene, exames de testagem rápida, avaliação nutricional e vacinação contra o HPV e o Covid-19.
Além disso, houve colaboração de outras secretarias como a de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster) e a Polícia Civil, que realizaram emissões de documentos como RG, Certidão de Nascimento, além de emissão de Passe Livre de transporte, entre outros serviços. Também houve aliança com coletivos e movimentos de mulheres negras e quilombolas da região, que promoveram feira, oficinas, roda de conversa e muita dança.
O Movimento Afrodescendente do Pará (Mocambo) garantiu participação com a Feira Econômica Solidária que qualifica, produz, comercializa e ensina mulheres negras, em vulnerabilidade física e econômica, que sofreram violência doméstica e desempregadas, a empreender. “Ensinamos muito mais do que só gerar renda: passamos a visão do feminismo, do combate ao racismo, do empoderamento e 'apoderamento' das mulheres e incentivamos práticas saudáveis alimentares e a reciclagem”, explicou Igina Mota Sales, que é assessora e uma das organizadoras do Mocambo.
Além disso, Igina também está à frente do projeto “Negritando a Economia Solidária no Pará”, em parceria com a Usinas da Paz, em que incentiva a economia. “Elas vendem riqueza para o nosso estado, já que focamos muito mais no valor dessas mulheres, e não no preço. São bonecas Abaiomy, sapatos, trançados africanos e alimentos produzidos pelas próprias mãos”, ressaltou Sales, que também é responsável pelo projeto.
Durante a oficina de turbantes, a estudante Miriam Reis, de 12 anos, aprendeu um pouco mais sobre as técnicas de desenvolver as amarrações. “É a primeira vez que faço isso, mas estou achando muito legal e ficou ótimo no meu rosto. Eu já tinha referências sobre turbantes, pois acompanho nas redes sociais algumas meninas que também fazem, por isso, sempre tive vontade de fazer”, contou Miriam, animada com seu turbante.
A adolescente também foi incentivada pela mãe, Miraci Reis, que já frequentava a UsiPaz e ficou animada com a programação especial do mês da mulher. “Essas ações ajudam muito a gente que não tem condição. Eu estava precisando de consulta médica e aproveitei para participar logo de tudo que a 'Usina das Manas' está proporcionando hoje”, contou Miraci.
Um dos serviços mais procurados foi o de estética, em que as participantes tiveram acesso a penteados, cortes de cabelo e design de sobrancelhas. Quem estava animada era a designer de sobrancelhas Nacristh Sanches, conhecida também com Nath sobrancelhas. “Quando recebi o convite para participar da Usina das Manas fiquei muito feliz, pois sempre quis fazer parte de uma ação solidária, principalmente essa que é voltada para mulheres de baixa renda e que não têm oportunidade de se cuidar. Me sinto satisfeita, pois houve bastante pessoas”, disse.
“Estou achando muito legal porque está ajudando a valorizar nós, mulheres. Muitas vezes não temos condições de fazer, pois estamos desempregadas. Isso é uma oportunidade muito valiosa, pois podemos nos produzir e destacar não só nossa beleza interna como também a externa”, afirmou Adriana Pantoja, enquanto aguardava pelo atendimento.
Uma das representantes do Movimento Negro, Nazaré Cruz, que é historiadora, trançadeira, mãe e ativista, participou da roda de conversa “A gente não nasce negro, torna-se negro – Os desafios de ser mulher negra nas periferias de Belém”, convidou a comunidade a refletir sobre ações que podem empoderar e mudar o quadro de desigualdade em que elas se encontram. “É essencial fazer essa troca, falar das nossas vivências, principalmente que mulheres são muito diversas. Elas precisam se ver como sujeitas das suas próprias histórias e deixar claro que elas fazem parte da construção desse país”, explicou Nazaré.
A coordenadora da UsiPaz Terra Firme, Janine Brandão, explicou a importância da programação especial do dia das mulheres no bairro. “O universo feminino é muito grande e queremos atender todas as mulheres, mas sempre referenciando as mulheres negras e quilombolas, que moram na periferia e com todos os obstáculos enfrentados no dia a dia saibam que são vencedoras”, ressaltou a gestora. O público também participou de um aulão de Hidro Ritmo e de apresentações de danças dos grupos de carimbó e Panã Panã Avoá.
Serviço: A programação da Usina das Manas segue até o próximo 25 de março, percorrendo as Usinas de Belém e Região Metropolitana. Na quarta-feira (15), a UsiPaz Pe. Bruno Sechi, localizada no bairro do Benguí, em Belém, irá realizar a programação de 09h às 15h, com foco no Warao, que são povos indígenas originários da República Bolivariana da Venezuela. A entrada é livre, e poderá ser acompanhada pelas redes sociais das Usinas da Paz (@usinasdapaz) e Seac (@seac.pa).
Texto: Aline Seabra/Nucom Seac