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DIA MUNDIAL DA OBESIDADE

Endocrinologista do Jean Bitar destaca riscos da obesidade e a importância da prevenção

Por Vera Hojas (HJB)
04/03/2023 17h20

Neste sábado (4), Dia Mundial da Obesidade, profissionais que atuam na medicina endocrinológica aproveitam para reforçar a importância da prevenção para o controle dessa doença que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) afeta mais de um bilhão de pessoas no mundo, a maioria adultos (650 milhões), seguidos pelos adolescentes (340 milhões) e crianças (39 milhões). Somente no Brasil, de acordo com a entidade, existem cerca de 41 milhões de pessoas acima do peso, o que corresponde a 26% da população do país.

A endocrinologista do Hospital Jean Bitar, Rafaela Miranda, esclarece "para fins práticos" que a definição de obesidade mais utilizada baseia-se no Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado dividindo-se o peso do paciente por sua altura ao quadrado. Considera-se um diagnóstico de obesidade quando o IMC do indivíduo é superior a 30 kg/m2, sendo que a partir deste índice os valores são divididos em três escalas: Grau I (IMC entre 30 e 34,9), Grau II (IMC entre 35 e 39,9) e Grau III (IMC acima de 40, que já caracteriza a obesidade mórbida).

Trata-se de uma doença multifatorial complexa, ou seja, que pode ser infuenciada por fatores de natureza biológica, psicossocial e comportamental, e decorre, ainda, de aspectos relacionados à composição genética, status socioeconômico e influências culturais. Muito mais do que “falta de força de vontade” ou apenas uma “questão de estética”, a obesidade requer um olhar mais consciente e um acompanhamento multiprofissional especializado", ressalta Rafaela.

Quanto aos fatores de risco para a doença, a especialista esclarece que a obesidade é um processo que pode iniciar em qualquer idade. Os riscos de uma criança se tornar obesa começam ainda na vida intrauterina, visto que alguns fatores presentes no organismo da mãe - como obesidade, diabetes e o tabagismo - durante a gestação podem comprometer a programação metabólica do feto, influenciando no seu peso e nas condições de saúde ao longo da vida.

"Esses fatores de risco mencionados, somados ao desmame precoce, ao aumento do consumo de alimentos de baixo valor nutricional, geralmente ricos em gorduras, sal e açúcares, além do sedentarismo, aumentam as chances dos filhos se tornarem crianças e adultos obesos", alerta.

A endocrinologista ressalta a importância da prevenção especialmente nos casos de indivíduos geneticamente predispostos. "Os maus hábitos alimentares e o sedentarismo são os principais fatores de risco que podem precipitar o desenvolvimento da obesidade. Além disso, algumas disfunções endócrinas também podem levar ao desenvolvimento da doença. Por isso, na hora de pensar em perder peso, procure sempre um especialista. O ideal é que o paciente seja acompanhado por uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, nutricionistas, educadores físicos e psicólogos, que darão o suporte necessário para a promoção de mudanças no estilo de vida a partir de uma avaliação individual dentro de cada especialidade, mas, tratando-o como um todo", aconselha.

Por conta de uma série de fatores (hormonal, inflamatório, medicamentoso, genético), pessoas com obesidade não costumam ficar satisfeitas com a mesma quantidade de comida que deixa outras, com peso considerado adequado, saciadas. Quando o indivíduo emagrece, o cérebro entende que o corpo precisa poupar energia, o que acaba fazendo com que ele ganhe peso novamente. Daí a razão pela qual o tratamento dos casos de obesidade tenha seja de longa duração, para diminuir o indesejável “efeito sanfona” e evitar os abandonos precoces de acompanhamento.

Para muitos pacientes, a terapia medicamentosa é uma forte aliada, já que facilita e estimula a adesão à dieta, propiciando uma perda de peso maior e mais duradoura. "Porém, nos casos de indivíduos com IMC maior que 40kg/m2 ou maior que 35 kg/m2 associado à comorbidades que não respondem ao tratamento clínico, a cirurgia bariátrica é considerada o tratamento cirúrgico indicado", destaca a endocrinologista.

Rafaela Miranda, que também é metabolista e membro associada da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), explica que, independentemente do tipo de tratamento escolhido, mesmo as perdas mais sutis, como 5% do peso corporal já colaboram para a redução dos fatores de risco para doença cardiovascular - entre eles a hipertensão, dislipidemia e hiperglicemia - e  melhoria da qualidade de vida. Perdas de peso na faixa de 10% a 15% trazem benefícios ainda maiores.

Programa Obesidade Zero

O Hospital Jean Bitar é referência estadual no tratamento da obesidade e na realização de cirurgias bariátricas por via laparoscópica, procedimento considerado um dos mais eficazes nesses casos. De 2020 até fevereiro deste ano, o hospital foi responsável por 10.864 consultas com equipe multiprofissional por meio do Programa Obesidade Zero e por 837 cirurgias bariátricas. 

Usuária do Obesidade Zero, Lussandra Costa, de 44 anos, moradora de Ananindeua, na região metropolitana de Belém, chegou para a primeira consulta de avaliação no dia 25 de setembro de 2020, com 114 quilos, e foi submetida à cirurgia bariátrica em 8 de setembro de 2021. Atualmente, ela ostenta com orgulho seus 60 quilos e diz que a cirurgia bariátrica mudou a sua vida. Hoje, além de mais saudável ela também se considera uma pessoa mais feliz. 

"O Programa Obesidade Zero foi um divisor de águas para mim. A Lussandra que conheciam antes era uma pessoa triste, infeliz, que fingia pra todo mundo que estava alegre. Quando eu entrei no Programa eu vi a importância de me cuidar e pensei: eu sou capaz de mudar por mim, pois foi o primeiro momento na minha vida em que eu me dei prioridade. No dia que me chamaram, eu chorei porque eu não acreditei que finalmente eu iria me tratar e sair dessa condição, que, infelizmente, ainda tem quem romantize", relata.

Reconhecimento

Lussandra fez questão de destacar a importância do trabalho dos profissionais no processo pré e pós-bariátrica. "No Hospital Jean Bitar eu tive o melhor atendimento dentre todas as unidades de saúde por onde passei. Começando pela avaliação da psicóloga, que presta um serviço muito importante ao longo de todo o processo, pois não adiantaria eu operar o meu estômago se não trabalhasse também a minha cabeça. Já a equipe de endocrinologistas é fenomenal. Tenho elogios mil à Dra. Flavia Cunha, pois ela foi o meu anjo da guarda desde a entrada no Programa." 

Das assistentes sociais que garantiram um importante suporte quanto às providências a serem tomadas antes e depois da cirurgia ao acompanhamento da nutricionista, Lussandra é só agradecimentos à equipe. O Jean Bitar está de parabéns por todo o trabalho realizado pela equipe multidisciplinar e também pelos demais profissionais envolvidos no atendimento do Programa Obesidade Zero", reconhece. 

Um Outro Jeito de Olhar

Algumas alterações psicológicas caminham lado a lado com a obesidade, como a ansiedade e a depressão. A relação entre esses elementos pode ser bidirecional, ou seja, o excesso de peso pode aumentar a probabilidade do surgimento dessas desordens psicológicas, assim como a obesidade pode levar o indivíduo a uma maior propensão de manifestar essas alterações. 

É possível perceber que alguns sintomas como tristeza, desânimo, perda de interesse e prazer, distorções do apetite que afetam a relação com a comida, pressão social por um padrão de beleza e a baixa autoestima podem prejudicar o autocuidado e favorecer o ganho de peso, enquanto que a própria percepção de estar acima do peso já é em si um fator de risco para o surgimento de sintomas depressivos.

Compreender que existe conexão entre doenças relacionadas à saúde mental e obesidade é um grande passo, por isso programar um acompanhamento que as abordem simultaneamente faz toda a diferença no sucesso do tratamento. Por esse motivo, a campanha do Dia Mundial da Obesidade deste ano traz como tema “Um outro jeito de olhar” e resgata essencialmente a necessidade de mudar a perspectiva quando o assunto é falar de obesidade. "Precisamos ouvir de forma mais atenta, falar com mais empatia e aprender uns com os outros", enfatiza Rafaela.

A campanha do Dia Mundial da Obesidade é realizada em conjunto com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), com o apoio da World Obesity Federation.

Doenças relacionadas

Além de um sério problema de saúde, a obesidade ainda desencadeia outras doenças, já que é considerada um estado inflamatório crônico e pode provocar outros distúrbios metabólicos, como o diabetes melitus tipo 2, a doença hepática gordurosa não alcoólica e doenças cardiovasculares que podem levar ao infarto do miocárdio ou a um acidente vascular cerebral. Ela também está associada a distúrbios respiratórios (apneia obstrutiva do sono e asma brônquica), digestivos (refluxo gastroesofágico, cálculos na vesícula biliar), reumatológicos (osteoartrite, gota, síndrome do túnel do carpo), reprodutivos, tanto masculinos (disfunção erétil) como femininos (irregularidades menstruais e até infertilidade), e ainda estar associada aos cânceres de próstata, intestino e mama.

A boa notícia é que o entendimento dos mecanismos desencadeantes da obesidade, a prevenção e o tratamento adequados podem minimizar essas comorbidades.

A importância da prevenção

A obesidade pode ser prevenida, na maioria dos casos, com a adoção de um estilo de vida mais saudável. "Precisamos ter em mente a urgente necessidade de reduzir o consumo de produtos processados e ultraprocessados, ricos em gorduras e açúcares, e priorizar a ingestão de 'comida de verdade', principalmente mais frutas e legumes", destaca Rafaela. A prática de atividade física programada também deve ser incentivada, mas, é importante conversar com um médico antes para obter a liberação cardiovascular. Adotar um hábito de vida mais ativo, como percorrer pequenas distâncias a pé em vez de utilizar o carro e dar preferência às escadas em lugar do elevador, já podem  trazer vários benefícios no dia a dia, além de prevenir doenças e melhorar a qualidade de vida.

Serviço: O Hospital Jean Bitar é administrado pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). A unidade fica na rua Cônego Jerônimo Pimentel, no bairro Umarizal, em Belém.