Projeto de concurso de redação de escola indígena concorre a prêmio nacional
Objetivo é incentivar práticas de redação nas comunidades indígenas, com produção de textos dissertativos-argumentativos com foco no Enem
Equipe técnica e estudantes da Escola Indígena Estadual “Jathiati Parkatêjê” que integra a rede estadual da SeducA Escola Indígena Estadual “Jathiati Parkatêjê”, que integra a rede da Secretaria de Educação do Pará (Seduc), na Terra Indígena “Mãe Maria”, premiou, na quinta-feira (1º), três alunas do 3º ano do Ensino Médio no Concurso de Redação “Tepit Taihom Pei”- Escrevendo e Vencendo. Elas se destacaram do total de 22 alunos inscritos, de oito escolas e aldeias da "Mãe Maria". Os estudantes concorreram às premiações em dinheiro, troféus, certificados e ainda camisetas oficiais do concurso. A Terra Indígen Mãe Maria fica no município de Bom Jesus do Tocantins, sudeste estadual.
O concurso de redação faz parte do projeto “Práticas de Redação” já realizado internamente há três anos. Nesta edição, o certame envolveu oito escolas da extensão “Jathiati Parkatêjê” e concorre ao Prêmio LED (Luz na Educação 2023), de iniciativa da Fundação Roberto Marinho, em parceria com Atlas da Juventude.
Em 1º lugar, a aluna Jõtaiparé Pepkrakte; em 2º lugar, Marília dos Anjos; e em 3º, Tayara Kraha Bandeira Krikati O projeto é coordenado pelo professor de Língua Portuguesa, Augusto Nogueira Ribeiro, e pelas equipes de professores da “Jathiati Parkatêjê”, a fim de incentivar práticas de redação nas comunidades indígenas, com produção de textos dissertativos-argumentativos, com foco no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem).
Antes da realização do concurso de redação, o corpo docente da escola promoveu aulões gratuitos de redação semanais, a fim de preparar tecnicamente os alunos, conforme os critérios do Enem. O tema do concurso de redação foi “Desafios para revitalização da língua indígena gavião”. Para o professor Augusto Nogueira Ribeiro, principalmente entre os jovens, há uma carência muito grande na prática da língua materna timbira jê gavião, do povo da T.I Mãe Maria. “Na maioria, quem detém o domínio são os anciãos da comunidade, que possuem grande dificuldade de repassar aos jovens, devido à influência da tecnologia e contato com não indígenas”, explicou o professor Augusto Nogueira.
O concurso de redação foi escrito em língua portuguesa, pois se aproxima dos moldes do Enem. “Os jovens apresentam grande dificuldade na tipologia textual dissertativa-argumentiva, por isso, o foco foi aproximar a competição com alunos não indígenas”, ressalta o docente, acrescentando que em pesquisas percebeu-se que a língua timbira jê gavião precisa de uma revitalização, uma vez que alguns dizem que ela está enfraquecida, já outros que é uma língua morta.
“Durante muitos anos trabalhando na comunidade, percebemos essa dificuldade nos alunos em ingressar nas universidades, por serem minorias. A liderança indígena apoiou de forma integral o projeto, e nós fizemos a nossa parte como docente. Um dos maiores reconhecimentos para o professor é enxergar o brilho no olhar do aluno e a gratidão de participar de momentos como este. E você fazer parte é muito gratificante”, comemora o professor Augusto Ribeiro.
Como no Enem, a redação não exigiu título. Os corretores de redação que participaram do concurso “Tepit Taihom Pei”- Escrevendo e Vencendo não possuem vínculo com a escola indígena, a fim de garantir a lisura do processo.
A aluna vencedora do 1º lugar foi Jõtaiparé Mpoporé Kwyikwyire Pepkrakte da escola indígena Tatakti Kyikatêjê, que faturou R$ 800. Marília Santos dos Anjos, estudante da Jathiati Parkatêjê, ficou em 2º na colocação, com uma premiação de R$500 e já em 3º, Tayara Kraha Bandeira Krikati da escola indígena Kôjipôkpi, ganhou o prêmio de R$300. As três também receberam troféus, certificados e camisetas oficiais do concurso. Das vencedoras, a única que é “cupain” (não indígena) é Marília Santos dos Anjos.
Um dos principais argumentos que levaram as três alunas a serem as vencedoras foi às referências utilizadas nos textos. Uma das redações foi embasada no artigo 215 da Constituição Federal, que fala da questão cultural dos povos indígenas, outra fez referência ao sociólogo Pierre Buordieu e por fim a escritora feminina nigeriana Chimamanda Ngozi também foi citada em um dos textos.
O secretário regional de governo do sul e sudeste do Pará, João Chamon Neto, considerou o tema do concurso de redação pertinente, típico dos interesses dos povos indígenas. “O governo do estado, através de iniciativas como essa da Escola Indígena Estadual ‘Jathiati Parkatêjê’ demonstra o quanto o estado abraça a causa indígena e apoia a educação inclusiva. Parabenizo a escola como protagonista e todos os docentes envolvidos e a Seduc”, afirma João Chamon.
O diretor da 4º URE (Unidade Regional de Educação) Magno Barros afirma que a iniciativa pertence à escola e a intenção é tornar o concurso de redação cultural. “Esperamos que nós tenhamos outras edições e que se amplie cada vez mais o concurso”, almeja o gestor.
A liderança da comunidade indígena Krintuwakatêjê a cacique Rãrãkre Parkatêjê apoiou a iniciativa e incentiva ainda outras edições.
Texto de Emilly Coelho /Ascom SRGS