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"JOAS DE NAZARÉ"

Fé e sustentabilidade se misturam na abertura de coleção nesta quinta-feira (23)

Por Igor Fonseca (SEDEME)
23/09/2021 08h56

Quando a estudante de design Débora Silva tinha só três anos de idade, o Espaço São José Liberto, através do programa Polo Joalheiro, apresentava a primeira coleção Joias de Nazaré, uma homenagem à padroeira dos paraenses e à maior manifestação religiosa do país. Em 2021, a exposição Joias de Nazaré completa 18 anos e Débora é uma das designers escolhidas para mostrar seu trabalho que, esse ano, teve como tema "Nossa Senhora de Nazaré, Rainha da Amazônia".

"Foi uma surpresa. Saber que minhas joias foram escolhidas para compor a coleção foi um momento que me levou às lágrimas por sentir que tinha sido agraciada, senti sendo um presente de Nossa Senhora. Tenho uma relação muito forte com Deus, sou católica, então participar do Joias de Nazaré tinha um sentindo muito grande, profissionalmente, mas tinha uma lugar especial no meu coração pela fé que eu professo", confessa a estudante.

Nas peças de Débora predominam a mistura do ouro com metal, prata, quartzo branco, ametista e pedra granada usada no conjunto "Rainha de Pentecostes". No conjunto "Rainha da Floresta" predomina a cor verde, lembrando a raiz da samaumeira, árvore considerada a rainha da floresta. E essa relação faz parte do tema escolhido para marcar a maioridade da coleção que reúne fé, sustentabilidade, natureza e cultura. Além de homenagear Nossa Senhora de Nazaré, a coleção lembra o período de devastação intensa que vem dizimando a floresta amazônica que, segundo dados do Instituto Amazon, perdeu uma área equivalente a nove vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro, nos últimos 12 meses.

Para Rosângela Gouvêa Pinto, mestra em Meio Ambiente e especialista em design de joias, diretora artística e curadora da coleção Joias de Nazaré, ter a natureza e a sustentabilidade aliadas ao principal elemento da coleção, que é a fé, trouxe resultados incríveis.

"O interessante é que eles conseguiram absorver bem o tema, usaram essa temática da samaumeira dentro dos trabalhos e isso foi diferenciado. Fugiu-se mais da questão da imagem propriamente dita,a imagem (da Santa) ficou sempre associada às questões da natureza, da religiosidade, ou seja,eles conseguiram captar bem a temática da coleção. O resultado são peças com tamanhos diferenciados, com  materiais diferenciados, como tronco de árvores, diversos materiais que a gente chama de alternativos, que na verdade são alternativos às gemas e alguns metais dentro da joalheria. São joias bem contemporâneas", explica Rosângela, que também é professora da Universidade do Estado (Uepa).

Para José Leuan, da marca Brilho da Mata, que participa da Joias de Nazaré desde 2015, é interessante ver como todos os designers e produtores conseguem inovar, apesar de todo ano a produção girar em torno do tema Nossa Senhora de Nazaré.

"Conseguem trazer coisas novas, características novas pra joalheria, técnicas novas e isso que acho tão interessante na coleção Joias de Nazaré, e nesses anos que participo, consigo enxergar várias mudanças. Quando comecei era inexperiente, tinha um trabalho de peças grandes, robustas, hoje é algo mais delicado, tento olhar mais o olhar do público, ver o que ele deseja. Tenho essa noção agora graças a todo esse percurso que construí na Joias de Nazaré", afirma o designer que criou peças inspiradas nos pássaros, nas folhas, e usou técnicas que pudessem remeter ao natural, à sustentabilidade.

Nas mais de 130 peças que compõem a coleção 2021, é possível observar a consolidação do projeto Joias de Nazaré nessa quase duas décadas, em que designers e empresários mostram o quanto a fé é inesgotável e impulsiona, inclusive, a criatividade.

"Quem gosta de joias religiosas percebe o quanto esse é um grande resultado porque as Joias de Nazaré ultrapassam a ideia de que a joia religiosa existe apenas para proteger. É claro que você vê os elementos, os símbolos de fé nas joias da coleção, mas não é só isso. Uma joia religiosa é muito diferenciada daquela peça religiosa clássica, o design possibilita isso e eu destaco como um grande resultado ter ultrapassado as simbologias clássicas encontradas nas joalherias que comercializam produtos católicos. Isso possibilitou outro resultado muito positivo que foi a ampliação das marcas de joias que nasceram com o advento da coleção, formalizaram e estão hoje dentro do programa polo joalheiro, ,além do próprio fortalecimento dos elos dessa cadeia produtiva de joias religiosas autoral. Ano passado foi criada uma loja dentro do Espaço São José Liberto que comercializa só as joias do Círio. Nesse período dos 18 anos se conquistou um número de consumidores tão grande ao ponto de ter uma loja específica e isso mostra que essa coleção ultrapassou o período da festividade", explica a diretora executiva presidente do Instituto Igama, Rosa Neves.

"Para chegar a esses resultados os desafios foram enormes, o mais recente deles foi a pandemia pelo impacto econômico que gerou em todos os setores produtivos, mas a consolidação do projeto nesses 18 anos tem contribuído para a superação econômica.  Outro desafio é o fortalecimento da cadeia produtiva de joias porque a gente tá falando de uma cadeia produtiva muito particular, que envolve outros setores como o próprio artesanato, quando o metal é associado tanto à gemas orgânicas quanto com imagens feitas em madeira, você tem aí um elemento inovador na cadeia produtiva. Então, a coleção permite fazer essa articulação entre os setores de turismo, cultura, produção de joias e economia, impulsionando o desenvolvimento da economia local. A coleção tem essa preocupação porque o Círio também é uma festividade cultural, além de religiosa. A coleção transita e a exposição é um fomento ao desenvolvimento desses três setores,principalmente a economia local, que se interrelacionam para o incremento dessa produção de joias local", complementa diretora executiva do Instituto de Gemas e Joias da Amazônia.

As peças produzidas, que estarão expostas a partir dessa quinta-feira (23) são joias criadas a partir da temática do Círio, mas que podem ser usadas em qualquer ocasião porque são conceituais, exuberantes e chamativas, que, além das características religiosas são produtos com apelo comercial, o que mostra a boa evolução do projeto Joias de Nazaré, que nasceu como uma forma de homenagear a padroeira dos paraenses, através do trabalho desenvolvido pelo Polo Joalheiro, hoje é um celeiro de grande oportunidades para novos talentos e de consolidação pra quem já está no mercado.

"Foi um pontapé inicial, com muita força, me abriu os olhos para uma experiência profissional diferenciada,me ajudou a amadurecer na forma como eu penso em design, principalmente nessa parte de me comunicar com os vários profissionais que estão envolvidos. Foi uma oportunidade muito grande de entrar no mercado de trabalho e que me fez perceber,também, novas possibilidades nas quais eu posso trabalhar posteriormente, me abriu novos horizontes, me mostrou a importância de ter iniciativa, de dar o primeiro passo em direçã a esse caminho do design de joias e futuramente, de alguma forma, poder dar essa oportunidade que me foi concedida para outros alunos", idealiza a estudante Débora, que faz sua estreia na coleção.

Todas as peças da Coleção Joias de Nazaré 2021 ficarão expostas até 31 de outubro, mas podem ser adquiridas através da live shop que será realizada nesta sexta-feira (24), a partir das 17h, no canal do Espaço São José Liberto, no YouTube.