Ações reduzem vulnerabilidade de jovens a crimes e drogas
“Toda mãe tem medo que os filhos usem drogas. É algo triste. Degrada o convívio familiar. Por isso, acho importante alertar pais e responsáveis pelos cuidados de crianças e adolescentes. Para estarem próximos aos jovens, explicar as consequências de certas escolhas. Hoje tenho mais esperança de que meus filhos não irão passar pela experiência de usar drogas”.
O desabafo da mãe Cássia Pinheiro, que trabalha como caseira em Salinópolis, no nordeste do Estado, vem de um sentimento de confiança. O filho, o estudante Vinicius Pinheiro, de 10 anos, é um dos meninos que fazem parte de um projeto de prevenção e de combate à criminalidade, denominado “PMZito”, desenvolvido pela Polícia Militar naquele município da região do Salgado.
O projeto trabalha atividades com crianças, adolescentes e jovens da comunidade com o intuito de ajudá-los no desenvolvimento pessoal - e evitar que se envolvam em atos ilícitos e outros desvios que possam comprometer o futuro.
Os cuidados de Cássia Pinheiro são justificados e podem ser comprovados com os números de registros de apreensão de maconha no Pará. Segundo dados da Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc), a droga é a mais consumida pelos usuários de entorpecentes no Estado.
No comparativo de 2015 e 2016, os dados de apreensão da erva tiveram aumento significativo: 600 quilos apreendidos em 2015, e mais de uma tonelada no ano passado, quando também foram destruídos 232 mil pés de maconha. Em 2016, de acordo com a Denarc, foram apreendidos ainda 30 mil comprimidos de ecstasy, 919 selos de LSD e 147 quilos de cocaína.
A defesa desses jovens contra o uso e o assédio do tráfico de drogas também é um dos temas alertados durante as ações do projeto “PMzito”, que atende 230 crianças. O trabalho é desenvolvido por policiais militares da 1ª Companhia Independente da PM de Salinópolis.
Lá, a PM disponibilizou salas para uso do projeto, onde também são realizadas programações de estímulo a valores como companheirismo, amizade, autoestima e liderança. Os participantes têm acesso ainda a aulas de reforço escolar e práticas de esportes como o jiu-jítsu, a capoeira e o arvorismo, além de outra atividades de aventura na selva.
Música afasta jovens da criminalidade
Em 2017, ainda em Salinópolis, uma parceria da Polícia Militar com a Fundação Carlos Gomes proporcionará aulas de música às crianças e adolescentes que integram o “PMzito”, por meio do projeto “Música e Cidadania”.
Segundo a diretora Administrativa do Carlos Gomes, Suely Sriha, está comprovado que a música também é um trabalho importante de prevenção, com o intuito de evitar que adolescentes se tornem menores infratores. Para ela, a música sensibiliza e ocupa o tempo das crianças.
“Os alunos são acompanhados pelo serviço de assistência social para avaliar o desenvolvimento das crianças no decorrer das aulas. Nunca tivemos nenhum relato de adolescentes do projeto envolvidos em atos ilícitos”, afirmou.
“Já temos 30 polos de música atuando em todo o estado, e dentre os bairros na capital contemplados estão a Terra Firme e a Cabanagem. Estamos em parceria com a Polícia Militar para implementar, ano que vem, um novo pólo no bairro do Tapanã”, informou Suely.
O projeto “Música e Cidadania” disponibiliza uma equipe composta por musicistas - que irão ensinar os adolescentes -, instrutores e monitores, além de ofertar os instrumentos que serão utilizados durante a aprendizagem musical.
A diretora de Prevenção Social da Violência e da Criminalidade (Diprev) da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), delegada Silvia Rêgo, ressalta: o trabalho de prevenção aos crimes é uma ação que exerce influência direta nos índices de criminalidade.
“Quando chega na esfera da segurança só podemos trabalhar com a consequência. O trabalho de prevenção com as famílias alerta pais e filhos, por exemplo, sobre temas como drogas, violência doméstica e respeito mútuo. Também viabiliza atividades que ocupam o tempo livre. Assim, teremos mais jovens conscientes e a sociedade irá sofrer menos com pessoas envolvidas em atos criminosos”, afirma Silvia Rêgo.
“É importante a implantação de ações que proporcionem o repasse de valores para fortalecer positivamente a personalidade dos jovens”, complementou a delegada, enfatizando ainda que toda a atuação preventiva é realizada de forma integrada com órgãos municipais e estaduais, em contato permanente com a sociedade civil.
Em números - Índices de menores envolvidos em crimes mostram como as ações de prevenção são importantes com a finalidade de modificar a realidade dos jovens e, consequentemente, reduzir os índices de crimes no Estado.
O comparativo de 2015 e 2016, do quantitativo de procedimentos instaurados relacionados a crimes cometidos por menores infratores, aponta que houve queda de quase 3% nos registros: eles passaram de 6.602 para 6.414.
Ações de prevenção combatem homofobia
“O trabalho de prevenção também auxilia no esclarecimento de temas que, quando debatidos e alertados, podem evitar que ocorram mais crimes como a homofobia, atos que deixam muitas sequelas em situações de agressões físicas e verbais, simplesmente por preconceitos contra homossexuais, lésbicas, bissexuais e transexuais”, explica a integrante do Comitê Estadual de Combate à LGBTfobia, Letiere Chevalier, de 39 anos.
Crimes homofóbicos registrados pela Segup apontam 59 vítimas registrados em todo o Estado em 2016. São homossexuais, bissexuais e transgêneros que relatam casos de ameaça, injúria, lesão corporal dolosa e constrangimento ilegal.
Letiere Chevalier enfatizou que o Comitê de Combate à LGBTfobia é um espaço de debate importante, porque proporciona atendimento rápido às pessoas que vivem algum tipo de situação homofóbica.“Em Belém, as denúncias são investigadas pela delegacia de Crimes Discriminatórios e Homofóbicos. Além disso, com base nos relatos, articulamos ações com os órgãos municipais e estaduais, como palestras e capacitações para despertar a população sobre a importância do respeito à decisão de vida de cada um”, explica a delegada Silvia Rêgo.
Sociedade civil em contato permanente com os órgãos de segurança
No Fórum das Ilhas, movimento coordenador pelo padre Jonas Teixeira, outra iniciativa propõe ações destinadas à região das ilhas da área metropolitana de Belém para que se reduza o risco de envolvimento de jovens com a criminalidade.
De acordo com o religioso, o contato direto da comunidade com os órgãos de segurança pública, proporciona trocas de informações - o dá agilidade no desenvolvimento de atividades de prevenção para os moradores da região.
A partir desse contato, já foram realizadas palestras sobre a importância da família na segurança e sobre relações interpessoais em uma escola na ilha das Onças. Lá também foi realizado, no início de dezembro, uma ação integrada denominada Natal com Segurança. "Cerca de 100 crianças da comunidade Santa Rosa receberam presentes e participaram de atividades recreativas. Na ocasião, os moradores puderam conversar com os gestores que participaram do evento”, explicou o padre Jonas Teixeira.
Tecnologia e educação a serviço da prevenção
As ações de prevenção também estão voltadas às escolas, espaços repletos de crianças e de adolescentes. Além de permitir a comunicação imediata de qualquer ocorrência aos agentes de segurança, o aplicativo WhatsApp viabilizou a criação de grupos que já funcionam como uma rede de monitoramento e troca de informações a fim de prevenir casos de violência.
Esses grupos são compostos por agentes de segurança, além de diretores e professores das escolas. Em alguns casos, por meio de relatos dos educadores, é possível averiguar se centros educacionais necessitam de ações de prevenção e combate ao uso de drogas pelos jovens estudantes.
Constatada a possibilidade de grupos de risco nas escolas - adolescentes que já estão ou possam vir a usar drogas -, os agentes de segurança passam a promover ações educacionais permanentes.
Um dos recursos utilizados é o Projeto Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), que tem como recurso palestras que explicam, através de linguagem simples, temas que alertam para o perigo do uso de drogas e as consequências do envolvimento de pessoas no mundo do crime.
A primeira turma do Proerd foi formada em 2003. Até 2016, cerca de 250 mil crianças participaram do projeto em todo o Estado. Este ano, o Proerd formou 52 mil estudantes. O trabalho é desenvolvido dentro das salas de aulas por policiais militares que ministram dez lições formuladas em material didático - que têm o objetivo de fortalecer a resistência ao uso de drogas.
Ao final do curso, os alunos fazem uma redação com todas as informações que aprenderam durante o projeto - e são diplomados, em uma formatura com o compromisso de serem multiplicadores dos conhecimentos adquiridos nas aulas e promoverem uma cultura de paz.
Preencher o tempo dos jovens gera bons resultados
Há inúmeros relatos de histórias que comprovam a importância das boas relações para que os jovens sigam no caminho do bem. Um exemplo é o da mãe que trabalhava como limpadora de pára-brisas nos sinais, mas que também era usuária de drogas. "Mesmo assim ela nos procurou, pois tinha consciência de que queria algo diferente para a vida do filho, que estava andando com más companhias. Ela nos pediu socorro, porque ele estava muito agressivo”, relatou o coordenador do Programa Escola da Vida (PEV), coronel bombeiro Elias Rocha.
“Hoje, o adolescente está com 14 anos. Após contato com o PEV, ele mudou completamente. Não tem mais o comportamento agressivo. Está com a autoestima fortalecida. Recebeu atenção necessária, orientação e foi incentivado a aprender temas que vão ajudá-lo no decorrer da vida. É um dos melhores alunos do projeto”, comemora o coordenador do PEV.
O PEV atua hoje com 23 polos em todo o Estado. Destes, cinco estão em Belém e três atuam no arquipélago do Marajó, nas cidades de Curralinho, Ponta de Pedras e Breves. Hoje, o projeto atende três mil crianças com idades de 10 a 15 anos.
Noções de prevenção, relacionadas a primeiros socorros, acidentes domésticos e salvamentos integram os conteúdos abordados, além de programações com práticas esportivas, como artes marciais. Em alguns polos já são oferecidas aulas de reforço escolar e também de música.