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CADEIA PRODUTIVA

Tomé-Açu mantém a liderança na produção de pimenta-do-reino no estado

No município localizado no no nordeste paraense uma média de cinco mil toneladas da especiaria é produzida anualmente

Por Luana Laboissiere (SECOM)
02/09/2021 10h29

É difícil falar em pimenta-do-reino sem lembrar do município de Tomé-Açu ou vice-versa. E essa associação se tornou possível quando o município, localizado no nordeste do Pará, ganhou destaque como o maior produtor paraense da mais famosa especiaria do mundo. E mais que isso, a história da cidade está tradicionalmente ligada à da pimenta, que chegou no Pará pelas mãos dos imigrantes japoneses no ano de 1933, que trouxeram mudas da cultivar Cingapura até a cidade de Tomé-Açu, município que completou aniversário na última quarta-feira ( 1º).

Em reconhecimento ao elo que existe entre ambos, foi criada uma lei estadual estabelecendo que todos os anos, em 1º de setembro, será comemorado o Dia Estadual da Pimenta-do-Reino.

Somente em Tomé-Açu é produzida anualmente uma média de 5 mil toneladas da pimenta-do-reino. Produtores como Walter Oppata e Jorge Itó, ambos com propriedades agrícolas localizadas no bairro do Breu, falam da satisfação que é trabalhar com a famosa especiaria. Os dois são descendentes de imigrantes que chegaram a Tomé-Açu nos anos 50 e começaram a trabalhar com a pimenta-do-reino. De simples sementes brotaram plantações do produto que viria a se tornar referência da pimenta por muito tempo. Os dois produtores falam dos altos e baixos registrados ao longo dos anos. A dizimação de milhares de pés em função da fusariose, doença que no final dos anos 60 atacou as plantações, marcou bastante a história da pimenta na cidade, mas serviu também como um grande desafio para as famílias dos produtores.

Atualmente, tanto Walter Oppata quanto Jorge Itó trabalham com o chamado Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (Safta), que é cultivado conjuntamente um grupo de espécies com a pimenta. A prática, como eles ressaltam, é herança dos avós.

Os dois produtores dizem que vale a pena continuar trabalhando com a pimenta-do-reino. Na propriedade de Oppata, a produção é consorciada com outras espécies frutíferas, como cacau, açaí e cupuaçu.

"A cultura da pimenta-do-reino tem seus altos e baixos, mas a nossa pimenta é especial por conta de toda a história que carrega atrelada à chegada dos imigrantes japoneses", ressalta.

A pimenta-do- reino faz parte da cultura do município. "Viemos para cultivar o cacau. A pimenta deu sentido à nossa imigração. Para a nossa família, se não fosse a pimenta-do-reino, acho que a gente não existiria mais aqui", opina Oppata.

 

Pimenta branca

O produtor Jorge Itó cultiva também um outro tipo de pimenta-do-reino que tem sido bastante requisitada no mercado: a pimenta branca. Segundo ele, enquanto o quilo da pimenta escura sai a R$ 19,00 o quilo, a da branca sai a R$ 32,00. “É um processo que a gente faz para tirar a casca da pimenta, deixa ela de molho por uns 10 a 14 dias e aí a gente descasca e lava”.

 Ele disse que aprendeu esse processo quando criança, pois via o pai fazer a técnica e se interessou em aprender. A preferência entre a branca e a preta é muito relativa, segundo o produtor.

A produção da pimenta-do-reino preta é bem maior no município que a da branca, explicou Itó. Isso porque a branca exige um processo mais demorado durante as etapas de produção. “Para fazer pimenta branca, até na hora de colher é diferenciado. Temos que colher a pimenta mais madura senão perde muito”, ensinou.

Defensor e praticante de procedimentos sustentáveis na hora de produzir a pimenta, Jorge Itó utiliza as duas barcaças - estrutura de madeira onde as especiarias são espalhadas para a secagem - que são utilizadas normalmente no processo de produção do cacau. “Estou aproveitando essas barcaças, quando não há safra de cacau, para secar a pimenta”, revela. Ele explica que produz 500 quilos do produto por vez usando as três barcaças.

Trabalhando de maneira artesanal, com muita dedicação e paciência, Itó utiliza um ventilador cuja estrutura também é de madeira e foi feita por um carpinteiro japonês na década de 50. “Esse equipamento foi herança do meu pai e ele é utilizado depois que a pimenta passa pela barcaça”, detalha. O produtor diz que não lava mais a pimenta no igarapé que existe em sua propriedade. “A gente lava nos tanques que implantamos. Há mais de 15 anos que adotamos o uso dos tanques. Utilizamos água de poço e deixamos a pimenta 15 dias de molho. Depois, maceramos e jogamos água corrente novamente”, enumera o produtor.

Ele diz que a sua produção é de um lote, o que equivale a 20 hectares. Atualmente, segundo ele, não trabalha apenas com a produção de pimenta, mas também de frutas e plantas medicinais, como a andiroba. Apesar das dificuldades que às vezes aparecem, Jorge Itó diz que vale a pena continuar trabalhando com a pimenta-do-reino. “Isso é muito relativo, atualmente sim. Mas, se der uma superprodução por aí, o mercado pode despencar. Por causa do dólar também está compensando, já que é produto de exportação”, frisa Itó.

Mas, o que faz a diferença mesmo, como ressalta o experiente produtor, é investir em práticas sustentáveis. “Como a concorrência é muita, o cliente vai investir no que tem mais qualidade, quem trabalha com responsabilidade e sustentável”.

 

 Boas práticas

De acordo com o levantamento do Núcleo de Planejamento/Estatísticas da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), o município do nordeste paraense é o maior produtor do Pará. Das 35 mil toneladas produzidas pelo estado em 2019, (ano-base trabalhado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas- IBGE), 5 mil toneladas são provenientes de Tomé-Açu.

 O município participa do Grupo de Trabalho (GT) criado para encontrar melhorias de forma parceira entre as instituições para a produção da especiaria. A coordenadora do GT, a engenheira agrônoma da Sedap, Márcia Tagore, ressaltou que Tomé-Açu tem um importante e relevante papel não só para a produção da pimenta-do-reino como para a manutenção da cultura local, já que a especiaria chegou ao Pará das mãos dos imigrantes japoneses.

 Ela lembrou que em maio deste ano, o Grupo de Trabalho da Pimenta-do-reino esteve reunido em Tomé-Açu, que foi o primeiro a sediar as rodadas de palestras com a finalidade de orientar sobre boas práticas na produção da pimenta-do-reino.

Além desse município, já foram realizadas programações em Castanhal, Capitão Poço – segundo maior produtor da especiaria – Baião e Santarém. A rodada de palestras será concluída em Altamira.

“Além das palestras que levamos ao público, entre os quais os produtores, agricultores e outros segmentos locais, tivemos uma reuniões com os gestores. Toda essa programação é a continuação de uma série de ações que estamos colocando em prática para tratar de temas importantes ao setor como o combate à salmonella”, destacou a coordenadora do GT, que além da Sedap, é integrado também pela Sedeme, Adepará, Emater, Ideflor, Embrapa, Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (Mapa),Cooperativa Mista dos Produtores de Tomé-Açu (Camta) e Associação Brasileira dos Exportadores de Pimenta (Abep).

Texto: Rose Barbosa /Ascom Sedap