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Sespa e Sesma mobilizam entorno do Parque do Utinga contra mosquitos e febre amarela

Por Redação - Agência PA (SECOM)
25/02/2017 00h00

Cento e vinte agentes de combate a endemias e controle em entomologia e três grupos itinerantes de vacinação da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma), além de homens do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) da Polícia Militar e integrantes da diretoria de endemias da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), realizaram hoje pela manhã e início da tarde uma operação especial, com vacinação e visitas a três mil casas no entorno da área do Parque Ambiental do Utinga, nos bairros do Curió-Utinga e Águas Lindas. O objetivo era reforçar o alerta à população para os cuidados contra o mosquito Aedes aegypti e convocar 12 mil moradores do entorno da área verde a se vacinarem contra a febre amarela.

A ação, que deve durar uma semana, é uma resposta rápida e de protocolo-padrão da Sespa frente ao risco levantado, esta semana, após ser registrada, na última quarta-feira (22), a morte de um macaco do gênero Saimiri (mico-de-cheiro), encontrado debilitado dentro da área do parque ambiental. Após exame sorológico – o que é rotina para esses tipos de casos -, se constatou na quinta-feira (23) que o macaco morreu vítima do vírus da febre amarela. Em ambiente silvestre, como as matas do Utinga, a febre amarela é transmitida através de picadas dos mosquitos do gênero Haemagogus.

“Seguimos o que prevê o protocolo de saúde para esses tipos de ocorrências, que é fazer um bloqueio vacinal da população que está no raio de até um quilômetro na área de entorno do registro do caso da febre amarela silvestre”, esclareceu pela manhã Bernardo Cardoso, diretor do Departamento de Controle de Endemias da Sespa.

Desde quinta-feira a área do parque e também a vizinhança dos bairros do Curió-Utinga e Águas Lindas vêm sendo borrifadas com veneno contra mosquitos. A ação de contenção e monitoramento, que inclui ainda apoio de homens do Centro Nacional de Primatas do Instituto Evandro Chagas (IEC), também montou armadilhas em copas de árvores do Parque do Utinga para que mosquitos sejam colhidos. Exames são feitos com os insetos capturados para se constatar se há mosquitos contaminados com o vírus da febre amarela silvestre, de que gêneros eles são e em que números estão distribuídos.

Parque fechado - Enquanto isso, o Parque do Utinga seguirá também fechado ao público por uma semana, até que se tenha um panorama maior da situação e as ocorrências estejam sobre controle. O acesso de pesquisadores, porém, segue mantido, conforme o procedimento padrão, através de pedidos realizados junto ao Batalhão de Polícia Ambiental da PM.

Nas visitas a serem feitas até a próxima quarta-feira no entorno do Parque do Utinga, agentes da Sesma estão entrando de casa em casa para ver as condições de quintais e instalações internas das residências – tudo para combater focos de larvas do Aedes aegypti e também orientar a população sobre como se prevenir (do descarte de utensílios e vasilhames que acumulem água dentro e fora de casa à defumação e uso de mosquiteiros e telas).

Os agentes também estão colhendo larvas de mosquito para exames e identificação. Uma base da Sespa estará montada no Batalhão de Polícia Ambiental do Utinga para dar apoio à ação. Enquanto isso, os dois postos de saúde dos bairros do Curió-Utinga e Águas Lindas também estão de prontidão reforçada até a Quarta-Feira de Cinzas para efetivar vacinação maciça contra a febre amarela junto à população dos bairros. O mesmo ocorrerá em todos os postos de saúde de Belém, com doses da vacina também sendo oferecidas, conforme já é de praxe.

Alerta contra o Aedes

A ação realizada hoje de manhã no entorno do Parque do Utinga também foi reproduzida em Rurópolis, onde recentemente um caso de febre amarela foi confirmado, além de se ter o registro de dois macacos mortos com sorologia confirmada para a doença, na zona rural do município paraense. Por causa dessas ocorrências, um plano de contingência foi mobilizado na última quarta pela Diretoria de Vigilância em Saúde da Sespa (leia aqui), em parceria com o Instituto Evandro Chagas, para reforçar o combate e o controle da doença.

O Pará não tinha registros de febre amarela desde 2015. Nenhum caso da doença foi registrado em 2016 – e, na última década, apenas oito casos foram registrados em todo o Estado. Em 2017, mesmo com o plano de combate anunciado pela Sespa, nenhum outro caso suspeito e nenhuma morte foram registrados até agora – embora vários casos de febre amarela urbana estejam sendo registrados em Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.

Em 2015, foram 80.230 os paraenses vacinados contra a febre amarela. Em 2016, outros 71.195 foram imunizados contra a doença em todo o Pará.

“Obviamente essa ocorrência no Parque do Utinga significa uma situação de risco e a Sespa agiu rapidamente para atuar no controle do mosquito e na imunização das pessoas, mas é preciso lembrar também que os surtos de febre amarela se repetem todos os anos no Brasil. Vivemos numa das duas regiões endêmicas da doença no mundo, a Bacia Amazônica, ao lado do Congo”, esclareceu Bernardo Cardoso.

O diretor de Endemias da Sespa lembrou ainda que a principal preocupação do bloqueio vacinal realizado no entorno da área do Parque do Utinga se dá justamente pelo perigo da circulação do vírus da febre amarela entre populações diferentes de mosquitos, levando a doença se multiplicar nas áreas urbanas.

A lógica é simples: enquanto nas matas o vírus da febre amarela silvestre infecta os mosquitos dos gêneros Sabethes e principalmente Haemagogus, caso um humano morador dessas áreas próximas às florestas seja picado e infectado com o vírus, a doença pode ser transmitida a outras pessoas de áreas urbanas. Isso porque nessas áreas há grande concentração do mosquito Aedes aegypti -, que além da dengue, do zika vírus e da febre chikungunya, também pode ser transmissor da febre amarela urbana, se o inseto picar uma pessoa doente e, também infectado deste modo, a partir daí picar outra pessoa.

Vacinação - Fora isso, um terceiro mosquito, que também já foi encontrado nas redondezas do Utinga, também ajuda a disseminar a febre amarela nas cidades. “O Aedes albopictus tem como característica o trânsito tanto em áreas de mata como em áreas urbanas, e também pode ser vetor do vírus da febre amarela”, ressalta o diretor de Endemias da Sespa.

“Não há motivo para grandes preocupações. Nesse momento, todos os procedimentos-padrão estão sendo tomados pela Sespa e pela Sesma e a maior precaução é a população se vacinar”, reiterou o médico veterinário da Sesma Roberto Messias.

No próprio batalhão de Polícia Ambiental, todo o efetivo de 170 homens que atuam em Belém e também majoritariamente no monitoramento do Parque do Utinga já estará vacinado até o início da semana, garantiu o comandante, tenente coronel da PM Mauro Barbas.

“Felizmente, para essa situação de risco, temos um grande trunfo que é a vacina, o que ainda não temos para a prevenção da dengue, por exemplo. A vacina contra a febre amarela é extremamente eficaz e segura, com imunização completa em dez dias e válida por até dez anos”, reforçou, por sua vez, o diretor do Departamento de Endemias da Sespa.   

As doses oferecidas podem ser procuradas por toda a população, sem distinção de idades – com exceção de menores de seis meses, alérgicos a ovos, gestantes e pessoas em situação de baixa imunidade ocasionada por tratamentos, para os quais a vacina não é indicada.

Cuidados – Às oito da manhã deste sábado, os mais de cem agentes mobilizados pela Sesma e Sespa já se concentravam para partir em grupos rumo às redondezas do Parque do Utinga. Eles saiam do Batalhão de Polícia Ambiental escoltados por PMs, e se dividiam entre as vizinhanças. O atendimento de orientação à população e eliminação de focos de mosquitos já estava em curso em várias ruas e passagens pouco depois das nove da manhã.

A dona de casa Ediléia Socorro de Oliveira, 52, esteve entre os que procuraram o Batalhão de Polícia Ambiental para se vacinarem após as visitas com os avisos dados pelos agentes de endemias. Levou todos os cinco integrantes da família para tomarem suas doses. “Agora sim estou tranquila. É preciso se prevenir. Não dá para ficar só esperando, né?”, sorria, ao lado do filho mais velho, com as carteirinhas de vacinação à mão.

Enquanto Ediléia se vacinava, um pequeno grupo de sete agentes de endemias da Sesma se espalhava pelas vizinhanças da rua do Una, próximo à esquina com a avenida João Paulo II. Cada agente procura uma casa: batem palmas, tocam campainhas, adiantam o assunto, chamam para a vacinação e dão dicas de combate ao mosquito, enquanto vasculham recantos das casas e quintais.

“Tem que ter muito cuidado não só com os vasilhames no quintal e nos vasos de plantas, mas também com a água que se acumula dentro de casa, em baldes debaixo da pia, no banheiro e também no recipiente que fica embaixo do motor da geladeira. O mosquito está em todo lugar com água”, diz a agente da Sesma Regina Dias à senhora Olindina Lemos, 74. No terreno onde mora a anciã, a família mantém duas casas, com sete moradores. “Vamos lá vacinar, tia? Temos que ir. Não posso arrastar todos, mas eu vou!”, garantia a sobrinha Kátia Lemos, 48, comerciante que mantém uma casa de venda e abate de frangos.

Na ruela seguinte, acessada pela avenida João Paulo, outros agentes se revezavam por mais uma série de casebres. A agente Rosângela Machado surge de dentro de um barraco modesto com um tubo de amostras à mão. É apenas a segunda visita do dia, e ela já achou as primeiras larvas de mosquito. Tudo devidamente armazenado no frasco tampado, que rapidamente vai ao bolso. Depois, o material seguirá para exames.

“A gente anda muito, mas às vezes falta o morador entender que ele pode contribuir mais. Muitas vezes visitamos uma casa e damos muitas orientações. Dois meses depois, voltamos lá e está tudo igual. Não basta esperar pela gente. Todos têm que se comprometer”, diz a colega de turno da Sesma, a agente Betânia Sena.

Concorda com ela a vizinha de casa humilde que nunca pegou dengue na vida. “Meus vizinhos vivem caindo doente. Aqui não. Mas é porque cuidamos. Onde têm idosos e criança tem que cuidar. Telamos, defumamos, uso detefon e limpo o quintal. É uma questão de educação, e digo isso porque somos uma família de educadores”, diz a professora Edilza Serrão, que hoje atua como verdureira e vive com a mãe quase centenária, a sua esposa e um filho de cinco anos. “A gente tem que fazer nossa parte e ainda conscientizar a vizinhança. É preciso”.