Segup registra mais de 3 mil homicídios por motivos torpes no Pará
Intolerância, divergência de opiniões, desentendimento no trânsito, uso de drogas e de bebidas alcoólicas são alguns dos componentes determinantes nos homicídios verificados no Estado em 2016. Os crimes gerados pelos chamados motivos torpes e fúteis são comuns em todo o Brasil.
Pelos dados de 2016 da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), o Pará registrou 3.635 homicídios, sendo 526 na área metropolitana e 3.109 nos demais municípios paraenses. O secretário adjunto de Inteligência e Análise Criminal da Segup, delegado Rogério Morais, analisa que os delitos motivados por torpeza prevalecem no interior, mas não deixam de ser significativos na RMB.
“Das mortes registradas na área metropolitana, de 30% a 40% estão relacionadas a casos de intolerância, motivos fúteis ou provocados por desentendimentos. Mas quando vamos nos aproximando do interior, as cobranças do tráfico abrem espaço para crimes de conflitos interpessoais, o que significa 60% dos assassinatos fora da área metropolitana”, analisa.
A violência interpessoal, identificada na convivência social, seja no trabalho ou em casa, é invisível às ações efetivas das forças policiais do Estado, pois é quase que impossível de prevenir. A atuação do Estado se faz presente por meio de investigações até o julgamento e o estabelecimento da pena.
Em 2014, o advogado Manoel Amaral, 44, defendeu uma moradora do bairro da Piçarreira, em um Tribunal do Juri, na cidade de Tailândia, localizada no nordeste paraense. Ela foi acusada de tentar contra a vida de outra mulher. O motivo? Queria se relacionar com o marido da vítima. “Cumpri meu papel de advogado e minha cliente foi absorvida. Ela (a acusada) teria se defendido de ameaça, mas ao final não tiveram provas suficientes para condená-la”, lembra o defensor.
No Pará alguns homicídios estão norteados por histórias de vingança e de brigas entre pessoas que, aparentemente, mantinham boa relação, mas que estimuladas por desequilíbrios psicológicos e até psiquiátrico, resultaram em crimes de grande repercussão e que colaboraram para os números da Segup relacionados a homicídios.
Ano passado, uma briga entre primos resultou na morte de um deles, na estrada da Baía do Sol, no distrito de Mosqueiro. Na ocasião, os dois consumiam bebidas alcoólicas e usavam entorpecentes. A vítima tinha 17 anos e recebeu vários golpes de terçado. Populares que estavam no local ficaram chocados com a cena de violência.
Outro caso aconteceu em dezembro do ano passado e foi investigado pela Divisão de Homicídios. Fábio Lage e Bruno Moura eram amigos. No dia 22 dezembro eles consumiam drogas e bebidas alcoólicas na casa de Fábio, quando Bruno teria começado a ter convulsões e acabou morrendo de overdose, segundo relato de Lage. Ao invés de acionar a polícia, Fábio esquartejou Bruno e enterrou partes do corpo do amigo em um quintal da casa vizinha, onde morava no bairro do Guamá.
Tratamento - Esses casos mexem com o trabalho de profissionais do campo da Psicologia. Em seu consultório, Amanda de Almeida aponta as terapias com conteúdos traumáticos ou existenciais, sessões periódicas, dentro da psicologia clínica, para tratar pacientes que possam ter vivido experiências relacionadas a desentendimentos familiares, brigas de casais e outros motivados por grande violência.
“Nesses casos, a pessoa deve ser acompanhada por um psicólogo e psiquiatra. A depender do nível de consciência e do estado mental, têm pessoas que caem na real e até se arrependem, mas têm outras que às vezes ficam fora do ar e não voltam à realidade e aí só acompanhamento psiquiátrico. Temos que aprofundar o tratamento e verificar os traumas e saber o que levou a essas fantasias criadas que despertaram sentimentos de destruição”, explica a psicóloga.
A dona de casa, moradora do bairro de Canudos, que não quer se identificada, disse que ser roubada já é uma situação de susto, a vítima perde tudo o que tem em segundos, o que levou tempo, trabalho e esforço para conquistar. “Além da situação de roubo já ser muito ruim, ainda temos que lidar com o medo de sofrer uma situação de violência, com agressões, morte ou perder familiares. Como justificar tanta agressividade? Acho que muitos desses assaltantes usam drogas antes de cometer os crimes e perdem ainda mais a noção da realidade”, avaliou.