Batalhão de Polícia Ambiental qualifica educadores e trabalha no resgate de animais silvestres
Somente em 2019, foram resgatados 1731 animais silvestres na região metropolitana de Belém.
Que tal tomar água na cozinha à noite e se deparar com uma sucuri próximo da geladeira? Marcus Palheta vivenciou a experiência no início do ano no bairro do Tapanã, em Belém. “Eu vi uma sombra e estranhei. Quando me dei conta de que era uma cobra, pedi para minha avó sair de casa para não se assustar e, como tenho treinamento de brigada, tentei capturá-la”, lembra o engenheiro ambiental.
Ao perceber a dificuldade, acionou o Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA) que é especializado em resgate de animais silvestres em áreas urbanas. Mesmo munido de garra e cambão, instrumentos adequados para o manejo, o réptil de quase dois metros de comprimento ainda deu um bote no policial. “Depois ela foi solta no Parque Estadual do Utinga sem sofrer nenhum tipo de dano. Já tinha sido o quarto episódio na vizinhança”, relatou Marcus.
Vídeo cedido por Marcus Palheta:
De acordo com o subcomandante do BPA, Major Freitas, o período chuvoso tende a aumentar a incidência de cobras em áreas residenciais. “É uma cadeia que inicia com o descarte inadequado do lixo que, além de obstruir os canais, também atrai roedores que são alimentos de cobras”, explicou o Major. Ele também reforçou que na região amazônica, os animais silvestres estão em seu habitat natural, modificado pelo avanço imobiliário e ocupações irregulares. “As áreas de vegetação diminuem e crescem as ocorrências”, complementou o subcomandante.
Legislação - Maus tratos contra animais é crime, de acordo com a Lei 9.605/ 98, artigo 32, com pena de três meses a um ano de detenção, ou em alguns casos, considerados de baixo potencial ofensivo, a pena é convertida em pagamento de cestas básicas, ou serviços à comunidade. De acordo com o subcomandante, ao se deparar com um animal silvestre perdido, seja dentro de uma casa ou no meio da estrada, por exemplo, o correto é ligar imediatamente para o Centro Integrado de Operações (Ciop), número 190, para que o BPA seja acionado para o resgate adequado, assegurando, assim, a vida do humano que o encontrou e do animal vitimado.
Somente em 2019, foram resgatados 1731 animais silvestres na região metropolitana de Belém, sendo 619 répteis; 801 aves; 311 mamíferos. No grupo dos répteis, 346 eram serpentes, das quais 134 se tratavam de sucuris e 125, jiboias. As aves também são alvo da atuação da polícia. Além de passarinhos que ficam vulneráveis pela venda ilegal, ainda há o impacto da cultura local. “Na região ainda é comum o misticismo de que alguns animais representam mau agouro, como a rasga-mortalha, por exemplo. É uma cultura que precisa mudar”, alerta o Major Freitas.
Ernesto é uma coruja da espécie murucututu que foi salva há cinco anos, após perder a visão do olho esquerdo e ter uma das asas amputadas. Ele e Boris, uma jiboia domesticada de 10 anos de idade, são residentes do Batalhão. “O Boris foi criado desde filhote e está adaptado aos odores e à presença humana. Ele foi doado para nós porque o cuidador não teve mais condições de ficar com ele”, conta a veterinária soldado Ana Moraes.
Educação Ambiental - Os exemplares são dóceis e por isso participam das ações de educação ambiental do BPA, como o Curso de Formação de Educadores Ambientais da Amazônia que ocorrerá até o próximo sábado (23). “A polícia ambiental atua em duas frentes: a prevenção primária, com formações, palestras, exposições e trilhas e caminhadas junto à comunidade; e a fiscalização, que busca combater o crime ambiental. O curso tem a proposta de aperfeiçoar essa atuação e traz conteúdos teóricos e práticos sobre cidades sustentáveis, impactos e potencialidades ambientais”, informou o coordenador Cabo Silva Júnior. A carga horária é de 120 horas e a formatura está prevista para a próxima segunda-feira (25).
A qualificação foi aberta para policiais do Pará, mas teve vagas para interessados de outros estados. A sargento Elizabeth integra o Batalhão Ambiental da Polícia Militar do Amapá e veio participar do curso em Belém. “É uma formação de alto nível. Estamos vendo planejamento de projetos, a importância de avaliar e monitorar as ações em desenvolvimento para, de fato, gerar a transformação. São conteúdos que vão agregar na nossa atuação com crianças de vulnerabilidade social, por exemplo”, analisou a participante.
Durante o curso, os participantes tiveram atividades práticas como a observação de paisagens urbanas; as diferentes formas de impacto do lixo; e uma oficina de jardinagem com o uso de pneus. O artesão Ailton Lopes Assis foi o instrutor da turma. “É uma troca de saberes, eles passam para mim o trabalho aqui do Batalhão e eu divido a minha experiência na transformação do material. Cada pneu utilizado é um a menos que vai para o lixo”, disse Ailton.